Operador Nacional do Sistema aponta retração de 1,6% no consumo de energia no Brasil; chuvas abaixo da média no Sudeste e Sul também elevam atenção sobre níveis de reservatórios
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revisou para baixo suas estimativas sobre o comportamento da carga de energia elétrica no Brasil para o mês de maio de 2025. A nova projeção indica uma queda de 1,6%, levando o volume esperado de carga a 77.738 megawatts (MW), número mais pessimista do que a retração de 0,3% apontada no boletim anterior, divulgado há uma semana.
A revisão negativa do ONS reflete não apenas uma demanda menor por energia elétrica no período, mas também a influência de variáveis climáticas e econômicas que vêm impactando o comportamento do consumo em diferentes regiões do país. O dado chama a atenção do setor elétrico, pois mudanças na carga podem influenciar estratégias operacionais, decisões sobre despacho de energia, oferta no mercado livre e até os níveis tarifários futuros.
Carga recua em meio a clima ameno e atividade econômica moderada
A carga de energia representa o total de eletricidade requisitada pelo sistema para atender às necessidades de consumo de todos os segmentos — residencial, comercial, industrial e rural. A redução de 1,6% em maio pode estar associada a uma combinação de fatores como temperaturas mais amenas, especialmente no Sul e Sudeste, e um ritmo mais moderado da atividade econômica, com impactos na produção industrial e no consumo de serviços intensivos em energia.
A nova projeção para maio indica que o consumo está abaixo da expectativa anterior, em um momento em que o setor ainda avalia os impactos da desaceleração observada em alguns segmentos produtivos. Apesar disso, o comportamento da carga ainda está dentro dos padrões sazonais esperados para o período de outono.
Chuvas abaixo da média pressionam reservatórios no Sudeste e Sul
Além da carga, o ONS atualizou também as estimativas de Energia Natural Afluente (ENA) — volume de água que chega aos reservatórios das usinas hidrelétricas, fundamental para a geração de energia no país.
No Sudeste/Centro-Oeste, maior subsistema do país em capacidade de armazenamento, a previsão caiu de 86% para 84% da média histórica. No Sul, o quadro é ainda mais crítico: a projeção caiu de 34% para 31% da média, indicando um regime de chuvas muito abaixo do necessário para recompor os volumes dos reservatórios.
Em contrapartida, houve leve melhora nas expectativas de chuvas nas regiões Nordeste (de 43% para 45%) e Norte (de 64% para 68%), o que pode aliviar parte da pressão sobre o sistema interligado nacional, mas não compensa a baixa hidrologia nas regiões com maior capacidade de geração.
Reservatórios do Sudeste devem terminar maio abaixo do esperado
Com base nas novas projeções de afluência, o ONS também revisou para baixo a estimativa de armazenamento de energia ao final de maio no principal subsistema do país. O nível dos reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste deve encerrar o mês em 69,5% da capacidade, frente aos 70,1% projetados anteriormente.
Embora os números ainda indiquem condição confortável frente a períodos críticos passados, a tendência de recuo chama a atenção do setor para a necessidade de manter planejamento energético cauteloso, principalmente diante da variabilidade climática crescente e da proximidade do período seco nas regiões Centro-Sul do país.
Implicações para o setor elétrico e para o consumidor
A queda na carga, aliada à redução das chuvas em regiões-chave, pode trazer impactos para o planejamento da operação do sistema elétrico, influenciando o despacho de usinas térmicas (com maior custo de geração), além de provocar movimentações no mercado de curto prazo de energia (PLD).
Em um cenário de chuvas mais escassas, o acionamento de térmicas se torna mais provável, o que pode representar aumento de custos operacionais para o setor e, eventualmente, pressão tarifária futura para os consumidores.
Por outro lado, a retração da carga pode significar um alívio momentâneo no consumo, reduzindo o ritmo de uso dos reservatórios. A situação exige monitoramento constante e medidas preventivas para manter o equilíbrio entre oferta e demanda nos próximos meses.