Quinta-feira, Maio 15, 2025
23.9 C
Rio de Janeiro

Indústria do cimento bate recorde ao transformar 3,25 milhões de toneladas de resíduos em energia limpa

Coprocessamento ganha protagonismo na matriz energética e será destaque no 9º Congresso Brasileiro do Cimento em São Paulo

No mês em que se celebra o Dia Internacional da Reciclagem, a indústria brasileira do cimento traz à tona um dado histórico que reforça seu compromisso com a sustentabilidade: em 2023, o setor coprocessou cerca de 3,25 milhões de toneladas de resíduos não recicláveis — um marco inédito para a cadeia produtiva. A tecnologia utilizada, conhecida como coprocessamento, transforma resíduos sólidos urbanos e industriais em energia térmica limpa, reduzindo impactos ambientais e contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.

A prática consiste na substituição parcial do coque de petróleo — combustível fóssil tradicionalmente utilizado nos fornos de clínquer — por resíduos como pneus inservíveis, resíduos perigosos e urbanos pós-triagem. Esse processo alimenta as altíssimas temperaturas dos fornos utilizados na produção de cimento, permitindo que os resíduos sejam completamente destruídos sem gerar novos passivos ambientais.

De acordo com o relatório Panorama do Coprocessamento 2024, divulgado pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), a substituição do combustível fóssil por resíduos evitou a emissão de aproximadamente 3,4 milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera somente em 2023. O número não apenas simboliza um avanço ambiental relevante, mas também posiciona o Brasil entre os países que lideram a transição para matrizes energéticas mais sustentáveis no setor industrial.

Energia limpa a partir do lixo: potencial em expansão

Hoje, cerca de 32% da matriz energética do setor cimenteiro brasileiro é composta por fontes renováveis e menos poluentes. A meta é ousada: alcançar 55% até 2050. Os resíduos urbanos pós-triagem, que incluem materiais não recicláveis coletados seletivamente, são a principal aposta para esse crescimento sustentável. Com eles, o setor vê uma oportunidade de ouro para reduzir a dependência de fontes fósseis e ao mesmo tempo aliviar os sistemas de disposição final de resíduos, como aterros sanitários e lixões.

A atual composição da matriz energética da indústria de cimento no Brasil é dividida em: 68% de fontes fósseis, 18% de biomassas (como cavaco, caroço de açaí, babaçu, licuri e carvão vegetal) e 14% de resíduos diversos. Essa última fração é a que mais cresce e tende a ganhar ainda mais protagonismo nos próximos anos.

“O desenvolvimento do CDRU — Combustível Derivado de Resíduos Urbanos — representa uma das maiores oportunidades para a indústria e para o meio ambiente. Ao substituir o coque de petróleo, reduzimos significativamente as emissões de gases de efeito estufa e, simultaneamente, damos um destino seguro para materiais que, de outra forma, seriam descartados em aterros”, afirma Paulo Camillo Penna, presidente da ABCP.

Segundo ele, essa alternativa energética também contribui para estender a vida útil dos aterros sanitários, combater a proliferação de doenças associadas ao descarte inadequado de resíduos e apoiar metas nacionais de economia circular.

Coprocessamento em destaque no 9º Congresso Brasileiro do Cimento

A relevância do coprocessamento será amplamente debatida entre os dias 30 de junho e 2 de julho de 2025, durante o 9º CBCi – Congresso Brasileiro do Cimento e a ExpoCimento. O evento será realizado no Golden Hall do WTC, em São Paulo, e reunirá autoridades governamentais, especialistas, empresários, pesquisadores e técnicos da cadeia produtiva.

Entre os destaques da programação está a mesa-redonda “Coprocessamento como Solução Sustentável na Gestão de Resíduos Urbanos”, com participação da secretária estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais, Marília Carvalho de Melo; do vice-presidente de Economia Circular do Grupo Orizon, João Audi; e do auditor do TCE-PE, Pedro Coelho Teixeira Cavalcanti.

Outra discussão relevante será conduzida por Anicia Aparecida Baptistello Pio, gerente de Desenvolvimento da FIESP, sobre as complexidades regionais da cadeia de resíduos e os desafios para ampliar a reciclagem e o reaproveitamento energético no Brasil.

Caminho para o futuro

Além de ampliar o uso de fontes renováveis, o setor de cimento segue um roadmap tecnológico com diretrizes claras para o desenvolvimento sustentável. Entre as metas estão o encerramento dos lixões a céu aberto, o aumento da triagem de resíduos recicláveis e a promoção da logística reversa.

O coprocessamento, portanto, emerge como uma solução viável, segura e escalável para os desafios do presente e do futuro. Ao transformar lixo em energia, a indústria do cimento não apenas reduz impactos ambientais como também contribui com políticas públicas voltadas à economia circular, transição energética e sustentabilidade urbana.

Destaques

Brasil amplia geração solar com nove novas usinas da parceria BYD e JV Gera + Raízen

Projetos instalados em quatro estados somam 59 milhões de...

MME e Petrobras alinham estratégias para impulsionar o mercado nacional de biometano

Reunião entre o Ministério de Minas e Energia e...

Sungrow lança campanha nacional e posiciona o inversor como o “coração da energia solar” no Brasil

Com destaque durante a Intersolar Nordeste 2025, nova campanha...

Últimas Notícias

Mercado de Curto Prazo liquida R$ 4 bilhões no 1º trimestre...

Resultado representa 53% do total contabilizado no período; risco...

Enel, Ansaldo Energia e Leonardo lançam Nuclitalia para impulsionar pesquisa em...

Nova empresa terá foco em reatores modulares pequenos (SMRs)...

Serena Energia reverte lucro e registra prejuízo de R$ 155,5 milhões...

Queda na produção, efeitos de curtailment e falhas na...

Elera Renováveis amplia ações de sustentabilidade com foco em descarbonização, inovação...

Empresa avança na gestão de riscos climáticos, reduz envio...

Centro de Treinamento do COB usará 100% de energia renovável até...

Parceria com a Neoenergia prevê fornecimento eólico a partir...

Eneva registra EBITDA recorde de R$ 1,5 bilhão e consolida sua...

Resultado é impulsionado por novos ativos, crescimento na comercialização...

Artigos Relacionados

Categorias Populares