Coprocessamento ganha protagonismo na matriz energética e será destaque no 9º Congresso Brasileiro do Cimento em São Paulo
No mês em que se celebra o Dia Internacional da Reciclagem, a indústria brasileira do cimento traz à tona um dado histórico que reforça seu compromisso com a sustentabilidade: em 2023, o setor coprocessou cerca de 3,25 milhões de toneladas de resíduos não recicláveis — um marco inédito para a cadeia produtiva. A tecnologia utilizada, conhecida como coprocessamento, transforma resíduos sólidos urbanos e industriais em energia térmica limpa, reduzindo impactos ambientais e contribuindo para a mitigação das mudanças climáticas.
A prática consiste na substituição parcial do coque de petróleo — combustível fóssil tradicionalmente utilizado nos fornos de clínquer — por resíduos como pneus inservíveis, resíduos perigosos e urbanos pós-triagem. Esse processo alimenta as altíssimas temperaturas dos fornos utilizados na produção de cimento, permitindo que os resíduos sejam completamente destruídos sem gerar novos passivos ambientais.
De acordo com o relatório Panorama do Coprocessamento 2024, divulgado pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP), a substituição do combustível fóssil por resíduos evitou a emissão de aproximadamente 3,4 milhões de toneladas de CO₂ na atmosfera somente em 2023. O número não apenas simboliza um avanço ambiental relevante, mas também posiciona o Brasil entre os países que lideram a transição para matrizes energéticas mais sustentáveis no setor industrial.
Energia limpa a partir do lixo: potencial em expansão
Hoje, cerca de 32% da matriz energética do setor cimenteiro brasileiro é composta por fontes renováveis e menos poluentes. A meta é ousada: alcançar 55% até 2050. Os resíduos urbanos pós-triagem, que incluem materiais não recicláveis coletados seletivamente, são a principal aposta para esse crescimento sustentável. Com eles, o setor vê uma oportunidade de ouro para reduzir a dependência de fontes fósseis e ao mesmo tempo aliviar os sistemas de disposição final de resíduos, como aterros sanitários e lixões.
A atual composição da matriz energética da indústria de cimento no Brasil é dividida em: 68% de fontes fósseis, 18% de biomassas (como cavaco, caroço de açaí, babaçu, licuri e carvão vegetal) e 14% de resíduos diversos. Essa última fração é a que mais cresce e tende a ganhar ainda mais protagonismo nos próximos anos.
“O desenvolvimento do CDRU — Combustível Derivado de Resíduos Urbanos — representa uma das maiores oportunidades para a indústria e para o meio ambiente. Ao substituir o coque de petróleo, reduzimos significativamente as emissões de gases de efeito estufa e, simultaneamente, damos um destino seguro para materiais que, de outra forma, seriam descartados em aterros”, afirma Paulo Camillo Penna, presidente da ABCP.
Segundo ele, essa alternativa energética também contribui para estender a vida útil dos aterros sanitários, combater a proliferação de doenças associadas ao descarte inadequado de resíduos e apoiar metas nacionais de economia circular.
Coprocessamento em destaque no 9º Congresso Brasileiro do Cimento
A relevância do coprocessamento será amplamente debatida entre os dias 30 de junho e 2 de julho de 2025, durante o 9º CBCi – Congresso Brasileiro do Cimento e a ExpoCimento. O evento será realizado no Golden Hall do WTC, em São Paulo, e reunirá autoridades governamentais, especialistas, empresários, pesquisadores e técnicos da cadeia produtiva.
Entre os destaques da programação está a mesa-redonda “Coprocessamento como Solução Sustentável na Gestão de Resíduos Urbanos”, com participação da secretária estadual de Meio Ambiente de Minas Gerais, Marília Carvalho de Melo; do vice-presidente de Economia Circular do Grupo Orizon, João Audi; e do auditor do TCE-PE, Pedro Coelho Teixeira Cavalcanti.
Outra discussão relevante será conduzida por Anicia Aparecida Baptistello Pio, gerente de Desenvolvimento da FIESP, sobre as complexidades regionais da cadeia de resíduos e os desafios para ampliar a reciclagem e o reaproveitamento energético no Brasil.
Caminho para o futuro
Além de ampliar o uso de fontes renováveis, o setor de cimento segue um roadmap tecnológico com diretrizes claras para o desenvolvimento sustentável. Entre as metas estão o encerramento dos lixões a céu aberto, o aumento da triagem de resíduos recicláveis e a promoção da logística reversa.
O coprocessamento, portanto, emerge como uma solução viável, segura e escalável para os desafios do presente e do futuro. Ao transformar lixo em energia, a indústria do cimento não apenas reduz impactos ambientais como também contribui com políticas públicas voltadas à economia circular, transição energética e sustentabilidade urbana.