Com investimento inicial de R$ 3 bilhões, projeto Scala AI City em Eldorado do Sul poderá demandar até 5 GW e reforça papel estratégico do RS na infraestrutura digital e energética do país
O Ministério de Minas e Energia (MME) deu um passo estratégico nesta terça-feira (13) ao publicar a Portaria SNTEP/MME nº 2.942, que reconhece oficialmente a viabilidade técnica da conexão do novo complexo de data centers Scala AI City à Rede Básica do Sistema Interligado Nacional (SIN). Localizado em Eldorado do Sul, município da Região Metropolitana de Porto Alegre (RS), o empreendimento será o maior do gênero no Sul do Brasil e poderá alcançar uma demanda de até 5 GW, configurando-se como um marco na convergência entre infraestrutura digital e energética.
O reconhecimento do MME à solução técnica proposta pela Scala Data Centers representa mais do que uma simples etapa burocrática. Trata-se de um sinal claro de abertura regulatória para a inserção de grandes centros de processamento de dados no sistema elétrico brasileiro, em meio à crescente demanda por conectividade, inteligência artificial, serviços em nuvem e processamento em tempo real — vetores impulsionados pela transformação digital e pela transição energética global.
“Essa decisão está alinhada às ações do MME e do Governo Federal, que prepara o marco legal dos data centers. Estamos criando um ambiente regulatório atrativo para novos empreendimentos em infraestrutura digital, estimulando a conectividade, inovação e transformação digital em resposta à uma demanda crescente”, afirmou o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Eficiência energética e expansão planejada
A alternativa de conexão proposta pela Scala foi aprovada por apresentar mínimo custo global, levando em conta tanto os investimentos em infraestrutura elétrica quanto as perdas técnicas previstas ao longo do tempo. De acordo com o MME, essa abordagem respeita o planejamento do setor para os próximos cinco anos, com sinergia entre a expansão digital e os parâmetros da política energética nacional.
“O reconhecimento garante que o crescimento da infraestrutura digital ocorrerá de forma eficiente, sustentável e em sintonia com as diretrizes de longo prazo”, destacou Thiago Barral, secretário nacional de Transição Energética e Planejamento (SNTEP).
Inicialmente, o projeto demandará 1,8 GW até 2033, com potencial de expansão para até 5 GW em fases futuras, o que exigirá novos estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Para efeito de comparação, essa carga adicional equivale a aproximadamente 20% da carga máxima atual da Região Sul.
Apesar da aprovação ministerial, a conexão à Rede Básica dependerá de análises complementares por parte do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e outros órgãos do setor. Os estudos visam garantir a viabilidade sistêmica da conexão e o cumprimento das normas operacionais do SIN.
Impulso estratégico para o Rio Grande do Sul
Além do impacto tecnológico e energético, o empreendimento assume uma função estratégica para o desenvolvimento do Rio Grande do Sul, especialmente em um momento em que o estado enfrenta os efeitos de uma das maiores tragédias climáticas da sua história recente. Com investimento inicial de R$ 3 bilhões, o Scala AI City poderá gerar cerca de 3 mil empregos diretos e indiretos, fortalecendo a retomada econômica da região.
O município de Eldorado do Sul, afetado pelas enchentes de maio de 2024, foi escolhido por sua localização estratégica, proximidade com centros urbanos e disponibilidade de infraestrutura elétrica de alta capacidade. A instalação da unidade também posiciona o estado como hub digital do Sul do Brasil, atraindo novas cadeias de valor e parcerias com empresas de tecnologia, telecomunicações e computação de alto desempenho.
Nova fronteira para a política energética
A publicação da portaria também reflete um movimento mais amplo de transformação na política energética brasileira. Com o avanço de tecnologias como inteligência artificial, blockchain, IoT e machine learning, a infraestrutura elétrica do país precisa acompanhar o ritmo da digitalização da economia. Grandes data centers, como os que vêm sendo implantados pela Scala no Brasil, são peças centrais dessa engrenagem — ao mesmo tempo consumidores intensivos de energia e catalisadores de novos modelos de negócio.
Ao reconhecer a relevância do projeto e viabilizar sua inserção no sistema elétrico nacional, o MME antecipa uma tendência global de integração entre energia e dados, fortalecendo o papel do Brasil como plataforma de inovação digital na América Latina.