Após gestão marcada por cortes de gastos e tensões com funcionários, Eletronuclear se prepara para nova liderança; André Osório, com ampla experiência no setor elétrico, é o nome mais cotado
A Eletronuclear, empresa responsável pela operação das usinas nucleares brasileiras, vive um momento decisivo de transição. Raul Lycurgo, atual presidente da companhia, deixará o cargo nos próximos dias, encerrando uma gestão iniciada em dezembro de 2023 e marcada por medidas polêmicas de contenção de despesas e tensões internas. Nos bastidores do setor elétrico, o nome de André Osório desponta como o mais cotado para assumir a presidência da estatal, que desempenha papel estratégico no fornecimento de energia ao país.
Osório é atualmente chefe de gabinete de Lycurgo e possui um histórico técnico respeitado no setor energético. Com mais de duas décadas de experiência, atuou como diretor do Departamento de Informações e Estudos Energéticos no Ministério de Minas e Energia (MME) e teve passagem relevante pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE). Seu nome tem boa aceitação entre os agentes do setor e também dentro da própria Eletronuclear, onde é visto como um perfil técnico e conciliador.
Outro nome cogitado para o cargo é o de Sidnei Bispo, atual diretor administrativo da empresa. No entanto, segundo fontes ligadas à estatal, Bispo enfrenta resistência por parte da maioria dos funcionários, o que pode pesar contra sua nomeação em um momento em que a empresa precisa restaurar a confiança e o diálogo com seus quadros internos.
Gestão Lycurgo: cortes, greve e acordo coletivo
A gestão de Raul Lycurgo foi breve, mas turbulenta. Com foco no reequilíbrio financeiro da Eletronuclear, ele promoveu um duro plano de corte de gastos que não foi bem recebido por parte dos trabalhadores. A insatisfação culminou em manifestações no Centro do Rio de Janeiro e uma greve na Central Nuclear de Angra dos Reis — sede das usinas Angra 1 e Angra 2, além do canteiro de obras de Angra 3, atualmente em construção.
Entre as medidas mais controversas adotadas por Lycurgo esteve a tentativa de implementar o Programa de Desligamento Complementar (PDC), que previa o desligamento compulsório de 90 funcionários já aposentados, o que gerou forte reação sindical e agravou o clima interno da empresa.
Diante da pressão, a direção da Eletronuclear recuou parcialmente e transformou o PDC em um Programa de Desligamento Voluntário (PDV), por meio do novo Acordo Coletivo de Trabalho (ACT) 2024/2026. A mudança estabeleceu que a adesão ao desligamento passa a ser facultativa, o que foi considerado uma vitória parcial pelos sindicatos que representam os trabalhadores da empresa.
Desafios para a nova gestão
O sucessor de Lycurgo terá diante de si uma série de desafios. O principal deles será retomar o processo de pacificação interna e reconstruir o canal de diálogo com os empregados, cuja mobilização recente revelou um ambiente de descontentamento e desconfiança em relação à alta gestão.
Além disso, há a missão de conduzir com eficiência a complexa retomada das obras da usina nuclear de Angra 3, que vêm sendo objeto de atenção do governo federal e de investidores. A continuidade segura e sustentável do projeto é considerada vital para o futuro da matriz elétrica brasileira, especialmente diante da meta de diversificação das fontes de energia e da transição energética com baixa emissão de carbono.
A escolha do novo presidente será estratégica não apenas para a Eletronuclear, mas para o conjunto do setor elétrico brasileiro. A decisão caberá ao Ministério de Minas e Energia, em articulação com a holding Eletrobras, da qual a Eletronuclear é subsidiária integral.
Se André Osório for confirmado, o recado será claro: o governo optará por manter uma linha técnica e de continuidade com a atual gestão, mas com possível mudança no estilo de condução e foco maior em recompor a confiança institucional. Já uma escolha fora desse eixo pode indicar uma tentativa de reposicionamento político ou administrativo na estatal nuclear.
Enquanto isso, o mercado observa com atenção os próximos movimentos. Em um cenário de retomada de investimentos em energia e foco na segurança energética, a Eletronuclear é peça-chave — e seu comando deve refletir a importância estratégica que ocupa no tabuleiro do setor elétrico nacional.