Evento internacional defende parceria Sul-Sul para agregar valor local aos recursos naturais e evitar repetição de modelos extrativistas do passado
Em um momento em que o mundo acelera a corrida por minerais críticos essenciais para a transição energética, Brasil e África do Sul se uniram para discutir caminhos que assegurem uma exploração mais justa e sustentável desses recursos. O evento “Critical Minerals: Brazil-South Africa Dialogues for a Just Transition”, realizado pelo Instituto E+ em parceria com a Embaixada do Brasil em Pretória, integrou a programação paralela da T20 Africa Conference, que ocorreu na África do Sul na última semana.
O encontro foi um marco na construção de uma agenda comum entre os dois países do Sul Global, ambos detentores de importantes reservas de minerais como lítio, cobalto, níquel e grafite — elementos fundamentais para tecnologias de energia limpa como baterias, turbinas e painéis solares.
Rompendo com o modelo extrativista
Durante o diálogo, especialistas, diplomatas e representantes da sociedade civil enfatizaram a urgência de romper com o modelo histórico de exploração primária, que se baseia na simples extração e exportação de matérias-primas com mínimo processamento local. Tal modelo, que marcou séculos de exploração colonial e neocolonial, gerou elevados impactos ambientais, sociais e econômicos, sem garantir o desenvolvimento estruturante dos países produtores.
A proposta do evento foi, justamente, construir uma narrativa alternativa: uma transição energética justa, que beneficie diretamente os países que detêm os recursos naturais estratégicos. Isso inclui ações para estimular a industrialização local, criar empregos qualificados, garantir a proteção ambiental e valorizar o conhecimento técnico e científico desses países.
O papel do Consenso de Belém
Uma das referências centrais do debate foi o Consenso de Belém, resultado da Cúpula da Amazônia realizada em 2023, que propõe um novo modelo de desenvolvimento baseado na bioeconomia, na valorização dos recursos locais e na equidade social. Aplicar os princípios do Consenso de Belém à cadeia de minerais críticos significa construir políticas públicas e marcos regulatórios que incentivem a criação de cadeias de valor integradas e sustentáveis.
Isso inclui desde a extração responsável até o refino, a fabricação de componentes tecnológicos e a reciclagem de materiais, promovendo uma economia circular e de baixo carbono. Para isso, é essencial a cooperação internacional entre os países do Sul Global — uma parceria que seja horizontal, inclusiva e voltada ao desenvolvimento mútuo.
Parceria Sul-Sul como alavanca estratégica
A parceria entre Brasil e África do Sul tem potencial geopolítico e econômico relevante. Ambos os países são membros dos BRICS e compartilham desafios semelhantes: fortalecer sua soberania sobre os recursos naturais, atrair investimentos sustentáveis, criar políticas de conteúdo local e garantir que os benefícios econômicos da transição energética cheguem às populações mais vulneráveis.
O evento também apontou a necessidade de diálogo entre os setores público e privado, sociedade civil e instituições de pesquisa. A criação de uma governança participativa e transparente é essencial para assegurar que a transição energética não reproduza desigualdades e que, ao contrário, seja uma alavanca para a justiça climática e o desenvolvimento regional.
Acesso ao conteúdo completo
O Instituto E+ disponibilizou a íntegra das discussões do evento em seu canal no YouTube, reforçando seu compromisso com a disseminação de conhecimento e o fortalecimento de uma agenda pública robusta sobre a transição energética no Brasil e na África.
A iniciativa reflete o crescente protagonismo do Brasil nas discussões sobre clima, energia e justiça social, especialmente no contexto da preparação para a COP30, que será sediada em Belém, no Pará, em 2025.