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Capacidade global de captura e armazenamento de carbono pode multiplicar por oito até 2030, segundo novo relatório da IEA

Relatório atualizado aponta crescimento de projetos em construção, marcos pioneiros em diversos setores e ampliação da viabilidade financeira da CCUS em escala internacional

A mais recente atualização do Banco de Dados de Projetos de Captura, Utilização e Armazenamento de Carbono (CCUS), que abrange os avanços entre o primeiro trimestre de 2024 e o primeiro trimestre de 2025, revela uma aceleração moderada, porém consistente, no desenvolvimento global de iniciativas voltadas à redução de emissões de CO₂ por meio de tecnologias de captura e armazenamento.

A análise mostra que, embora a capacidade total operacional ainda esteja distante das metas de neutralidade de carbono estabelecidas até meados do século, os projetos em fase de construção ou em estágio avançado de engenharia já representam 60% do pipeline global — um indicativo da crescente maturidade técnica e econômica da tecnologia. De acordo com os dados mais recentes, a capacidade global de captura e armazenamento de CO₂ em operação ultrapassou 50 milhões de toneladas anuais, número que pode alcançar 430 Mt até 2030, enquanto a capacidade de armazenamento projetada já supera 670 Mt.

Marcos pioneiros em 2024 fortalecem a trajetória da CCUS

O ano de 2024 foi marcado por estreias importantes em novos setores e regiões, com destaque para projetos pioneiros que ampliam o escopo da CCUS para além do tradicional setor de processamento de gás natural. Dentre os principais avanços:

  • O Reino Unido inaugurou a primeira usina termelétrica a gás natural com CCUS, com capacidade de captura de 2 milhões de toneladas de CO₂ por ano;
  • A Suécia deu início à maior instalação de remoção de CO₂ em uma planta de cogeração;
  • A China capturou, pela primeira vez, emissões da produção de cimento — uma das fontes mais difíceis de descarbonizar;
  • A Austrália ativou o primeiro projeto de armazenamento de CO₂ em campo de gás esgotado em escala comercial.

Além disso, países como Indonésia, Quênia, China e os Emirados Árabes também anunciaram ou iniciaram projetos estratégicos de grande escala, com decisões finais de investimento (FID) que indicam confiança crescente na viabilidade técnica e econômica da tecnologia.

Modelos de negócios inovadores e demanda crescente impulsionam setor

Outro avanço relevante é o surgimento de modelos financeiros mais robustos, com destaque para o primeiro projeto de transporte e armazenamento de CO₂ com financiamento estruturado próprio, o que sinaliza maior segurança para investidores institucionais. Em 2024, foram assinados acordos de compra antecipada para quase 6 milhões de toneladas de remoção de carbono com desenvolvedores de tecnologias como BECCS (bioenergia com captura e armazenamento) e DAC (captura direta de ar) — o dobro do volume contratado em 2023.

O crescimento desses mercados foi viabilizado, em grande parte, pela demanda corporativa oriunda dos mercados voluntários de carbono, que oferecem um instrumento adicional para viabilizar o retorno sobre investimentos em projetos de captura e remoção.

Expansão geográfica e desafios das cadeias de suprimento

A análise também aponta concentração geográfica significativa da capacidade instalada: 80% dos projetos operacionais ou em construção estão na América do Norte ou Europa. No entanto, essa configuração tende a mudar à medida que China, Oriente Médio, Brasil, Indonésia e Japão fortalecem seus compromissos regulatórios e financeiros com a CCUS.

No curto prazo, um dos maiores gargalos será a capacidade industrial de fabricação de equipamentos. Atualmente, os sistemas de captura são feitos sob medida para cada instalação. Com o aumento da demanda, será necessário padronizar e escalar a produção, o que representa uma oportunidade industrial estratégica para os países que investirem em infraestrutura fabril voltada ao setor.

Setores emergentes devem acelerar adesão à CCUS

A pressão por energia limpa em data centers é apontada como outro vetor de crescimento. Até 2030, o consumo de eletricidade por data centers deverá superar o atual consumo do Japão. Para atender suas metas climáticas, grandes operadoras têm considerado fornecimento de energia por usinas com CCUS, viabilizando projetos integrados de baixa emissão.

Em paralelo, o setor de produção de hidrogênio com captura de carbono deve ganhar relevância até 2030, respondendo por parte significativa da capacidade instalada futura, ao lado da indústria pesada e da geração termoelétrica com captura.

Com esses avanços, a tecnologia CCUS deixa de ser promessa e passa a se consolidar como uma ferramenta prática e crescente na estratégia de descarbonização global, com impactos relevantes para setores como energia, siderurgia, cimento, alimentos, transporte e, cada vez mais, tecnologia da informação.

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