Com matriz energética renovável, demanda crescente por dados e incentivos fiscais, país se consolida como destino estratégico para grandes investimentos em infraestrutura digital
A rápida expansão das fontes renováveis de energia no Brasil está criando as condições ideais para que o país se torne um dos principais centros globais de infraestrutura de Data Centers, e até um potencial exportador de serviços digitais. Essa é a principal conclusão de um estudo recém-publicado pela consultoria internacional Oliver Wyman, que destaca o Brasil como um dos mercados mais promissores do mundo nesse segmento.
De acordo com a análise, a energia elétrica representa mais de 50% dos custos operacionais de um Data Center. Nesse contexto, a abundância de energia limpa e acessível no Brasil oferece uma vantagem competitiva significativa frente a outros países. Aliado a isso, o crescimento exponencial no tráfego de dados no país, impulsionado por tecnologias como 5G, computação em nuvem, inteligência artificial, Internet das Coisas e veículos elétricos, está pressionando o setor por mais capacidade de armazenamento e processamento de informações.
Com esses fatores combinados, a Oliver Wyman estima que a capacidade instalada dos Data Centers no Brasil pode crescer 60% até 2030, consolidando o país como hub estratégico para a América Latina e outras regiões em desenvolvimento.

Investimentos robustos e expansão acelerada
Atualmente, o mercado brasileiro conta com cerca de 740 megawatts (MW) de capacidade instalada em Data Centers. Esse número tende a aumentar substancialmente nos próximos anos, já que outros 470 MW estão em fase de planejamento ou construção por parte de operadores como Lumen, Actis, Elea e Equinix.
Essa movimentação reflete uma corrida por infraestrutura digital que não se restringe às gigantes do setor. Enquanto empresas como Amazon Web Services (AWS), Google e Microsoft Azure continuam investindo em seus próprios centros de dados nas grandes capitais, outros players como Meta, Apple, IBM e Oracle demonstram uma tendência crescente à terceirização total ou parcial das operações de Data Center, ampliando a presença de operadores locais e regionais.
Oportunidades além dos hiperescaladores: crescimento da computação na borda
O estudo também destaca a importância do modelo conhecido como Edge Computing, ou computação na borda. Diferente dos grandes Data Centers centralizados, essa arquitetura visa trazer o processamento de dados para mais próximo do local de origem da informação, o que melhora significativamente a latência e a confiabilidade em aplicações críticas.
Esse modelo tem ganhado espaço especialmente em setores como indústria 4.0, telemedicina, veículos autônomos, vigilância digital e cidades inteligentes. O tamanho continental do Brasil e suas diferenças regionais tornam o país especialmente adequado para o desenvolvimento de uma rede capilarizada de micro Data Centers, que possam atender com eficiência regiões afastadas dos grandes centros urbanos.
Três pilares estratégicos impulsionam o setor no Brasil
Além da disponibilidade de energia limpa, a Oliver Wyman destaca três fatores estruturais que tornam o Brasil um ambiente atrativo para investimentos em Data Centers:
- Incentivos fiscais: Estados como São Paulo e municípios como Campinas oferecem benefícios tributários a empresas do setor, reduzindo custos operacionais e incentivando novas instalações.
- Apoio à infraestrutura: A existência de zonas incentivadas, como a Zona Franca de Manaus, representa uma oportunidade para descentralizar a infraestrutura digital e promover a interiorização dos investimentos.
- Potencial exportador de serviços digitais: A criação de uma zona livre de processamento e exportação — nos moldes das zonas francas industriais — é vista como uma possibilidade concreta para transformar o país em exportador de serviços de armazenamento e processamento de dados, especialmente para mercados vizinhos da América Latina.
Sustentabilidade como diferencial competitivo
Em um momento em que empresas e governos ao redor do mundo buscam soluções sustentáveis, o Brasil se destaca por sua matriz energética composta majoritariamente por fontes renováveis, como hídrica, solar, eólica e biomassa. Esse fator tem peso decisivo para atrair investimentos internacionais comprometidos com metas ESG (ambiental, social e governança), além de garantir maior previsibilidade de custos operacionais em longo prazo.
O relatório da Oliver Wyman conclui que o Brasil tem todos os elementos necessários para se tornar um ator estratégico no novo mapa global da infraestrutura digital. Para isso, será essencial consolidar políticas públicas de fomento, manter a estabilidade regulatória e ampliar a formação de mão de obra qualificada, três pilares fundamentais para garantir a liderança brasileira na economia digital de baixo carbono.