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Belo Monte avalia construção de nova barragem para elevar regularidade da geração de energia no Xingu

Estudo em fase inicial considera reservatório sem geradores para acumular água e mitigar variações sazonais da produção energética; Norte Energia diz buscar alternativa viável ambiental e socialmente

A Norte Energia, concessionária da Usina Hidrelétrica de Belo Monte, avalia a possibilidade de construir uma nova barragem no rio Xingu, no Pará, com o objetivo de aumentar a regularidade da geração de energia ao longo do ano. A informação foi confirmada pela assessoria da empresa, após declarações do presidente da companhia, Paulo Roberto Pinto, durante conversa com jornalistas em Altamira (PA), e divulgadas por veículos da imprensa especializada.

Segundo Pinto, a ideia inicial da nova estrutura não envolve a instalação de turbinas ou unidades geradoras, como em uma hidrelétrica convencional. A proposta é criar um reservatório de acumulação hídrica para compensar as fortes variações de vazão do rio, que hoje impactam diretamente o desempenho de Belo Monte. Diferentemente das grandes usinas com reservatório, Belo Monte opera sob o regime chamado de “fio d’água”, ou seja, gera energia apenas com a vazão natural do rio, o que resulta em alta produção no período chuvoso e baixa geração na estiagem.

Com capacidade instalada de 11,2 gigawatts (GW), Belo Monte é a maior hidrelétrica 100% brasileira e a segunda maior da América Latina, atrás apenas de Itaipu. No entanto, sua operação limitada pela sazonalidade hídrica representa um desafio à segurança energética, sobretudo diante da crescente necessidade de fontes firmes para complementar a expansão das renováveis intermitentes, como solar e eólica.

Barragem acumuladora: solução técnica sob análise

A concepção do novo reservatório tem foco técnico, com o objetivo de regularizar a vazão do rio e garantir maior previsibilidade energética, sem provocar novos impactos estruturais no parque gerador já existente. Fontes ouvidas pela reportagem afirmam que o projeto ainda está em estágio embrionário, sem definição clara de localização, escopo de engenharia ou estimativas de custo.

A Norte Energia afirma que qualquer alternativa considerada será condicionada à viabilidade socioambiental. Segundo a empresa, a intenção é encontrar uma solução que não envolva áreas indígenas, ribeirinhas ou de pesca, respeitando integralmente os critérios legais e socioambientais.

Passado polêmico exige cautela no avanço do novo projeto

Desde sua concepção, Belo Monte foi um dos empreendimentos mais controversos do setor elétrico nacional. Licenciado no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e construído durante o governo Dilma Rousseff, o projeto enfrentou resistência de ambientalistas, povos indígenas e comunidades locais, que denunciaram os impactos sobre o ecossistema do rio Xingu, a pesca, a navegação e o modo de vida tradicional da região.

A Volta Grande do Xingu, um trecho de aproximadamente 100 km entre os municípios de Altamira e Vitória do Xingu, é considerada uma das áreas mais afetadas. O desvio parcial do leito do rio para alimentar o reservatório da casa de força principal reduziu drasticamente a vazão na região, afetando a fauna aquática e populações tradicionais.

A proposta de um novo reservatório, ainda que sem fins diretos de geração, reabre o debate sobre qual deve ser o limite de intervenção na Bacia do Xingu. Ambientalistas já manifestam preocupação com a possibilidade de que a medida resulte em novos impactos ambientais indiretos e pressões sobre o território local.

Transição energética e segurança do sistema

O debate ocorre em um momento estratégico para o setor elétrico brasileiro. Com o avanço da transição energética, marcada pela expansão da energia solar e eólica, a necessidade de usinas que garantam energia firme e regular, sobretudo em períodos de baixa irradiação ou vento, se torna cada vez mais evidente.

Nesse contexto, a construção de um reservatório de regularização para Belo Monte poderia ter papel relevante na otimização do despacho energético nacional, contribuindo para a redução do uso de térmicas emergenciais e a manutenção da confiabilidade do sistema.

A decisão sobre a viabilidade do projeto, contudo, depende de múltiplas etapas: estudos de impacto ambiental, consultas públicas, avaliação regulatória e licenciamento pelos órgãos competentes, como o Ibama, a Funai e a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL).

Considerações finais e próximos passos

A proposta de uma nova barragem no Xingu ainda é incipiente, mas já provoca debates técnicos, políticos e ambientais. A Norte Energia sinaliza que ainda não há qualquer decisão tomada e que o estudo é parte de um esforço contínuo para avaliar soluções técnicas que melhorem a eficiência do parque gerador.

Caso o projeto avance, será inevitável que se reabra o debate sobre o equilíbrio entre desenvolvimento energético e preservação socioambiental na Amazônia. A necessidade de mais energia firme é real, mas também é urgente garantir que novos empreendimentos sigam princípios de responsabilidade, transparência e justiça socioambiental.

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