Projeto aprovado pela FINEP-BNDES une tecnologias inovadoras de captura direta de carbono e conversão em combustível sustentável para descarbonizar o setor marítimo-portuário
Em um movimento pioneiro na agenda de transição energética brasileira, o Porto do Açu e a Repsol Sinopec Brasil anunciaram a assinatura de um acordo de cooperação para o desenvolvimento de estudos técnicos voltados à descarbonização do setor marítimo-portuário. A iniciativa, selecionada em chamada pública promovida pela FINEP e BNDES, propõe a combinação de tecnologias de captura direta de dióxido de carbono (CO₂) do ar com a conversão desse gás em combustível sustentável — voltado especialmente ao uso em embarcações e aviação.
Com capacidade prevista para capturar 5.000 toneladas de CO₂ por ano e produzir cerca de 300 litros diários de combustível renovável, a planta piloto a ser desenvolvida é um marco não apenas para a inovação no setor energético, mas também para o fortalecimento de práticas sustentáveis na indústria naval. O projeto deverá ter suas primeiras aplicações em embarcações de apoio que operam no próprio Porto do Açu, que recebeu mais de 7 mil navios apenas em 2024.
Segundo Eugenio Figueredo, CEO do Porto do Açu, a iniciativa representa um salto qualitativo na busca por soluções tecnológicas alinhadas às metas globais de mitigação das mudanças climáticas. “Este é um marco para a indústria brasileira e global. Representa um avanço significativo na captura de CO₂ e na produção de combustíveis de baixa pegada de carbono. Estamos determinados a acelerar a transição energética, posicionando o Açu como um hub de inovação e sustentabilidade”, afirmou.
Inovação aplicada ao mundo real
O projeto é liderado pelo Cais Açu Lab, núcleo de inovação do Porto do Açu, e aproveita a expertise tecnológica acumulada por duas iniciativas anteriores em parceria com a Repsol Sinopec: o DAC SI e o CO₂CHEM. O DAC SI (Direct Air Capture System Innovation), desenvolvido em conjunto com a PUCRS, comissionou em 2024 uma unidade capaz de capturar 300 toneladas anuais de CO₂ diretamente da atmosfera. Já o CO₂CHEM reúne instituições como USP, SENAI Cetiqt e Hytron, com foco na conversão desse CO₂ em combustíveis líquidos renováveis.
A proposta do novo projeto é escalar essas tecnologias em um ambiente real de operação portuária, o que representa uma vantagem competitiva para validar a viabilidade técnica e econômica das soluções. A captura direta do CO₂ e sua conversão in loco reduzem etapas logísticas e podem viabilizar modelos de produção descentralizada de combustíveis para navegação e aviação, setores ainda com grande desafio na transição para fontes limpas.
Potencial transformador e alinhamento global
Alejandro Ponce, CEO da Repsol Sinopec Brasil, destacou o papel da cooperação como alavanca para a inovação disruptiva. “Acreditamos que a colaboração é essencial para avançar em soluções tecnológicas que tenham impacto real na descarbonização da economia. Esta parceria representa um passo importante rumo à meta do Grupo Repsol de atingir emissões líquidas zero até 2050”, declarou.
A assinatura do Memorando de Entendimento (MoU) entre as empresas garante o alinhamento estratégico e técnico para as próximas etapas do projeto. Além do respaldo da FINEP-BNDES, a parceria conta com uma cadeia de valor científica e tecnológica que torna o Brasil protagonista em um dos desafios mais complexos da transição energética global: descarbonizar setores de difícil abatimento como navegação e aviação.
Um novo ciclo para os portos brasileiros
Ao apostar em uma cadeia integrada de captura e uso de carbono, o Porto do Açu antecipa tendências regulatórias e de mercado que já despontam em blocos como União Europeia e América do Norte, onde exigências ambientais para combustíveis marítimos e aéreos estão se tornando mais rígidas. O projeto também contribui para consolidar o porto como uma plataforma para a atração de investimentos em inovação verde e novas cadeias de valor em energia.
Com essa iniciativa, Brasil dá um passo relevante no desenvolvimento de soluções energéticas inovadoras com aplicação prática, gerando impactos ambientais, econômicos e tecnológicos de longo alcance.