Grupo do setor elétrico tenta reestruturar dívidas e preservar atividades após atrasos em projetos e alta nos custos operacionais; Justiça já deferiu pedido de proteção judicial
A 2W Ecobank, empresa atuante nos segmentos de comercialização e geração de energia, teve seu pedido de recuperação judicial aceito pela 3ª Vara de Falências e Recuperações Judiciais do Foro Central da Comarca de São Paulo. A decisão, divulgada nesta quarta-feira (24) por meio de fato relevante ao mercado, ocorre em meio a uma grave crise financeira enfrentada pelo grupo, agravada por uma estratégia de expansão que não gerou os resultados esperados.
A holding e sua subsidiária, a 2W Comercializadora Varejista, agora buscam reorganizar suas finanças, preservar a continuidade das atividades e evitar a insolvência. O processo inclui a tentativa de renegociar dívidas, manter contratos ativos e restaurar a confiança de credores e clientes.
De promissora à crise: uma trajetória comprometida pela expansão
Fundada inicialmente como uma comercializadora voltada ao mercado livre de energia elétrica, a 2W Ecobank ganhou notoriedade ao expandir suas operações, entrando no setor de geração de energia, especialmente com projetos eólicos, e posteriormente, em serviços financeiros com foco em sustentabilidade. No entanto, a diversificação rápida e o volume de investimentos realizados revelaram-se um risco elevado para a estrutura financeira do grupo.
De acordo com a petição de recuperação judicial, a companhia realizou investimentos expressivos, da ordem de R$ 2,2 bilhões, voltados principalmente para a construção de dois parques eólicos. Parte desse montante foi financiada por meio de emissões de debêntures e contratos com o Banco do Nordeste (BNB) e a Darby International Capital.
A execução dos projetos, contudo, enfrentou atrasos relevantes e aumento de custos, impulsionados por fatores como a insolvência da empreiteira Allonda, responsável por parte das obras, além de renegociações com fornecedores de aerogeradores e componentes críticos.
Impactos operacionais e desdobramentos jurídicos
Como os parques não ficaram prontos no prazo, a empresa precisou comprar energia no mercado de curto prazo (spot) para honrar compromissos contratuais com seus clientes. Essa energia, no entanto, teve seu preço disparado em 2023 devido a alterações nas condições hidrológicas, que elevaram o Preço de Liquidação das Diferenças (PLD). A alta inesperada no PLD gerou desequilíbrio financeiro e drenou o fluxo de caixa da companhia, que passou a ter dificuldades em honrar pagamentos com fornecedores, credores e consumidores.
Além disso, a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) impôs restrições à atuação da empresa no mercado, segundo relata a própria 2W. Essas limitações, combinadas com rescisões unilaterais de contratos por parte de clientes, afetaram negativamente a reputação e a posição competitiva da companhia no setor.
Antes mesmo do deferimento da recuperação judicial, a 2W chegou a obter uma liminar para suspender ações de cobrança, execuções e rescisões contratuais, medida que perdeu validade após 60 dias.
Perspectivas da recuperação e futuro da 2W
A empresa defende, em sua petição, que a atual crise tem caráter pontual e conjuntural, e que suas operações possuem viabilidade econômica no longo prazo, desde que seja possível reestruturar as dívidas e manter os contratos em vigor. A holding solicitou ainda a concessão de tutelas provisórias de urgência, visando impedir novas sanções da CCEE, suspender o vencimento antecipado de dívidas e evitar penalidades que possam comprometer ainda mais sua recuperação.
A recuperação judicial surge como um instrumento para ganhar tempo e fôlego enquanto a empresa negocia com credores e busca uma solução sustentável. Para o setor elétrico, o caso serve de alerta quanto aos riscos envolvidos em movimentos de expansão acelerada sem garantias sólidas de retorno e controle de riscos operacionais.
Um reflexo do momento do setor energético
O caso da 2W Ecobank é ilustrativo de um ambiente mais amplo no setor energético brasileiro, marcado por oportunidades de crescimento, mas também por alta volatilidade, especialmente nos mercados livres e nas fontes renováveis, que exigem elevado capital inicial e complexidade regulatória. A retomada da companhia dependerá da habilidade em restaurar a confiança do mercado, manter suas operações em curso e, sobretudo, aprender com os erros cometidos na estratégia de crescimento.