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Transição energética ganha apoio maciço do setor empresarial brasileiro, revela pesquisa global

89% dos líderes empresariais defendem eliminação do carvão e avanço das energias renováveis até 2035, em sintonia com metas climáticas e desafios de competitividade

A transição energética deixou de ser apenas uma pauta ambiental para se consolidar como estratégia central de negócios no Brasil. Segundo nova pesquisa global realizada pela consultoria Savanta, a pedido da E3G, Beyond Fossil Fuels e We Mean Business Coalition, 89% dos líderes empresariais brasileiros defendem a construção de um sistema elétrico majoritariamente renovável até 2035. O estudo, que ouviu 1.477 executivos de médias e grandes empresas em 15 países, sinaliza um ponto de inflexão na percepção do setor privado sobre o futuro da energia.

O principal fator para esse apoio, de acordo com 63% dos entrevistados brasileiros, é a segurança energética. Fontes renováveis, como a hidroeletricidade, já dominante na matriz elétrica nacional, além da energia solar e eólica, são vistas como garantias de estabilidade e proteção contra volatilidades de mercado, que impactam diretamente a competitividade industrial e a segurança dos investimentos.

Essa visão empresarial está alinhada com os esforços públicos e privados para reposicionar o Brasil no cenário climático global. Em um ano emblemático para o país, que sediará a presidência do BRICS em julho e a COP30 em novembro, as empresas brasileiras parecem caminhar no mesmo compasso das ambições governamentais de protagonismo climático.

Setor privado pressiona por transição direta para renováveis

O levantamento revela que três em cada quatro executivos brasileiros apoiam a substituição direta do carvão por fontes renováveis, sem a necessidade de transição via gás fóssil. A rejeição ao carvão é contundente: mais de 90% dos entrevistados defendem o fim da utilização dessa fonte até 2035.

Embora o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tenha deixado de financiar novos projetos a carvão desde 2021, a economia brasileira ainda convive com a presença de combustíveis fósseis, especialmente no Sul do país e nas áreas de exploração de petróleo em águas profundas. Esse cenário gera um paradoxo que tensiona as políticas públicas: enquanto se anunciam metas climáticas ambiciosas, continuam os incentivos à expansão da matriz fóssil.

Empresários, no entanto, parecem dispostos a romper com essa ambiguidade. A Head de Mudanças Climáticas e Economia Circular da Natura, Fernanda Facchini, declarou. “Na Natura, acreditamos que a transição energética é urgente e inegociável. Avançamos em nossos planos de transição climática e estamos apoiando nossos fornecedores nessa mudança. É um movimento que exige colaboração e ação imediata.”

Vantagens econômicas impulsionam a mudança

O apoio do setor privado vai além da responsabilidade socioambiental. Conforme destaca Stuart Lemmon, Diretor Global de Sustentabilidade da Schneider Electric, a energia renovável é hoje uma estratégia de negócios essencial. “Empresas que adotam renováveis estão se posicionando para sucesso de longo prazo, com competitividade, inovação e economias significativas.”

Apesar do entusiasmo, 41% dos empresários apontam que o custo inicial da transição ainda é um desafio. Esse gargalo, no entanto, é menos tecnológico, já que as fontes renováveis se tornaram competitivas, e mais relacionado a barreiras regulatórias e ao custo elevado do capital no Brasil. Para superá-los, 45% dos entrevistados defendem redirecionar subsídios de combustíveis fósseis para energias limpas, medida considerada vital para que o Brasil alcance a meta de reduzir entre 59% e 67% de suas emissões até 2035.

Empresas preparam suas próprias transições

O movimento rumo às renováveis também acontece dentro das próprias corporações. Quatro em cada cinco organizações globais (83%) — e 85% no Brasil — afirmam já ter planos para eliminar os combustíveis fósseis de suas operações.

Entre os brasileiros, 47% planejam investir em geração própria de energia renovável localmente nos próximos cinco anos. Além disso:

  • 43% pretendem eliminar o carvão até 2030.
  • 27% até 2035.
  • 66% planejam abandonar o gás fóssil até 2035.

Esses dados reforçam que a transição energética corporativa é não apenas desejada, mas planejada e orçada, antecipando tendências regulatórias e de mercado.

Contexto internacional: pressão e oportunidade

A pesquisa foi realizada em países como Austrália, Alemanha, Índia, Japão, México, Estados Unidos e Reino Unido, entre outros. Globalmente, quase 80% dos líderes empresariais apoiam uma transição rápida para sistemas renováveis até 2035.

Nick Mabey, CEO da E3G, avalia que o setor privado pode ser um catalisador para ações governamentais mais ambiciosas. “O forte apoio empresarial às renováveis deve encorajar os governos a estabelecerem metas alinhadas a 1,5°C antes da COP30.”

Maria Mendiluce, CEO da We Mean Business Coalition, também ressalta a nova realidade. “A mudança dos combustíveis fósseis deixou de ser um debate. Energia limpa é hoje uma base para vantagem competitiva, criação de empregos e estabilidade nos preços.”

Conclusão: Hora de consolidar a liderança climática

O setor empresarial brasileiro deixou claro que enxerga na transição energética não apenas um imperativo ambiental, mas uma oportunidade estratégica. A segurança energética, a competitividade e a estabilidade dos preços de energia impulsionam essa visão.

Agora, a construção de um sistema elétrico majoritariamente renovável até 2035 depende da capacidade de governo e empresas de remover barreiras e alinhar incentivos. A janela de oportunidade está aberta. E o futuro, segundo o empresariado brasileiro, é, e precisa ser, renovável.

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