Crescimento de data centers, mobilidade elétrica e hidrogênio verde acelera transição energética e escancara necessidade de regulamentação para armazenamento e compensação por cortes de geração renovável
A transição energética brasileira entrou em uma nova fase. A expansão acelerada de setores como data centers, mobilidade elétrica e os primeiros projetos de hidrogênio verde está alterando de forma significativa o perfil de consumo de energia no país, e consolidando o Ambiente de Contratação Livre (ACL) como pilar central desse novo cenário. A avaliação é da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), que promoveu na última semana, em São Paulo, um encontro estratégico com empresários, especialistas e autoridades públicas para debater os caminhos da energia solar e os desafios regulatórios que ainda persistem no setor.
Hoje, o mercado livre já representa cerca de 41% do consumo nacional de energia elétrica, com mais de 72 mil consumidores participando ativamente desse ambiente mais competitivo, flexível e eficiente. Esse número tende a crescer de forma contínua com o avanço da digitalização da economia, a eletrificação dos transportes e o desenvolvimento de soluções energéticas limpas e descentralizadas.
Segundo Rodrigo Sauaia, presidente executivo da ABSOLAR, o Brasil está diante de uma oportunidade única de impulsionar seu desenvolvimento sustentável por meio de fontes renováveis.
“O mercado livre de energia é, sem dúvida, a espinha dorsal da transição energética no Brasil. O crescimento da demanda por eletricidade, impulsionado por data centers, hidrogênio verde, baterias e veículos elétricos, exige um ambiente regulatório mais moderno, que incentive investimentos e garanta segurança jurídica”, afirmou.
Avanço depende de modernização regulatória
Apesar da perspectiva positiva, a ABSOLAR alerta para dois gargalos importantes que ameaçam o ritmo de expansão: a falta de regulamentação para o armazenamento de energia elétrica e a necessidade de compensação pelos cortes de geração renovável, conhecidos como curtailment.
O armazenamento de energia, por meio de sistemas com baterias em larga escala, é visto como peça-chave para a estabilidade do sistema elétrico nacional, sobretudo diante da intermitência das fontes solar e eólica. A entidade defende a realização do Leilão de Reserva de Capacidade, previsto para novembro de 2025, como um marco essencial para destravar novos projetos e consolidar o armazenamento como tecnologia estratégica no país.
Além disso, os cortes frequentes na geração renovável, sem a devida compensação aos empreendedores, têm provocado insegurança e desestimulado investimentos.
“A legislação prevê o ressarcimento dos cortes de geração. Sem isso, estamos punindo justamente aqueles que investem em energia limpa e sustentável”, destacou Sauaia.
Energia solar: motor da expansão no ACL
O Brasil conta atualmente com mais de 17 gigawatts (GW) de potência operacional em grandes usinas solares, distribuídas por todas as regiões do país. Uma fatia significativa dessa produção está direcionada ao mercado livre de energia, o que demonstra o papel protagonista da energia solar na nova matriz elétrica nacional.
De acordo com dados da ABSOLAR, o setor solar já movimentou R$ 72,7 bilhões em investimentos desde 2012, gerando mais de 510 mil empregos verdes e contribuindo com R$ 23,9 bilhões em arrecadação tributária aos cofres públicos.
Data centers, carros elétricos e hidrogênio: os novos vetores de demanda
Um dos maiores vetores de crescimento do consumo elétrico no Brasil nos próximos anos será o avanço dos data centers — estruturas altamente intensivas em energia, fundamentais para o funcionamento de serviços digitais, nuvem e inteligência artificial. Grandes empresas globais já anunciaram novos investimentos no Brasil, atraídas pela possibilidade de contratar energia limpa no ACL.
A frota de veículos elétricos também cresce rapidamente, impulsionada por políticas de descarbonização e incentivos à eletromobilidade. Esse movimento exige um planejamento robusto de infraestrutura elétrica e reforça a necessidade de integração entre geração, distribuição e armazenamento.
Por fim, o hidrogênio verde desponta como nova fronteira tecnológica e ambiental. Com potencial para transformar o Brasil em um dos principais exportadores mundiais dessa fonte, sua produção depende de energia renovável abundante e barata — cenário que torna o ACL ainda mais estratégico.
Evento reúne autoridades e aponta caminhos
O evento promovido pela ABSOLAR reuniu nomes de peso do setor, como Adriana Sambiase, gerente executiva de cadastros e contratos da CCEE; Arthur da Silva Santa Rosa, gerente do ONS; e o senador Irajá Silvestre Filho, defensor da modernização regulatória. O encontro abordou soluções para o curtailment, modelos de autoprodução, planejamento do setor e incentivos para sistemas de armazenamento, destacando a importância da atuação coordenada entre iniciativa privada e setor público.
Com o avanço das tecnologias, a diversificação da matriz e a pressão por sustentabilidade, o mercado livre de energia deve ultrapassar o mercado cativo em breve, consolidando-se como o novo padrão de consumo energético no Brasil.