Alta expressiva nos preços de energia, impulsionada por previsões climáticas desfavoráveis, eleva montante financeiro e destaca volatilidade do mercado livre em 2025
O mês de março de 2025 registrou um marco importante para o mercado livre de energia elétrica brasileiro. A BBCE (Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia) atingiu R$ 10,1 bilhões em contratos negociados, o maior valor financeiro transacionado para o mês em toda a sua série histórica. O resultado representa um aumento de 51,2% em relação a março de 2024 e de 6% em relação a fevereiro deste ano, mesmo diante de uma retração significativa no volume de energia e no número de operações realizadas.
Foram contabilizadas 6,8 mil operações no período, uma redução de 13,9% em comparação ao mesmo mês do ano anterior e de 21,1% em relação ao mês anterior. No mesmo sentido, o volume energético teve queda de 25,5% em relação a março de 2024 e 22,7% frente a fevereiro deste ano. O cenário, embora paradoxal, reflete uma dinâmica de mercado cada vez mais sensível a fatores climáticos e à volatilidade de preços no ambiente de contratação livre (ACL).
Elevação dos preços e cenário climático
Segundo Eduardo Rossetti, diretor-executivo Comercial, de Produtos, Comunicação e Marketing da BBCE, o mês foi marcado por uma elevação acentuada dos preços de energia, sobretudo nos contratos com vencimentos no terceiro trimestre de 2025 e no ativo anual 2026. “Diante de projeções e divulgações sobre uma menor perspectiva de chuvas, os preços dos ativos de energia tiveram grande alta ao longo de março. Os impactos foram sentidos em todas as semanas e, na última semana do mês, com atualizações nas projeções, houve um recuo expressivo de preços”, destacou Rossetti.
O comportamento climático atípico, com previsão de chuvas abaixo da média nas principais bacias hidrográficas do país, aumentou a percepção de risco no abastecimento e elevou a demanda por contratos futuros de energia, impactando diretamente os preços. Mesmo com menor volume negociado, a valorização dos contratos compensou em termos financeiros.
Contratos em destaque e variação de preços
Entre os produtos mais líquidos, os contratos mensais e trimestrais com fornecimento no segundo semestre de 2025 apresentaram as maiores oscilações de preço:
Produto | Preço em 28/02 | Preço em 14/03 | Preço em 31/03 |
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SE CON MEN MAR/25 | R$ 296,62 | R$ 325,48 | R$ 324,73 |
SE CON MEN ABR/25 | R$ 251,64 | R$ 309,44 | R$ 244,91 |
SE CON MEN MAI/25 | R$ 252,57 | R$ 320,20 | R$ 272,23 |
SE CON TRI ABR-JUN/25 | R$ 248,25 | R$ 316,88 | R$ 272,13 |
Um dos destaques foi a energia convencional para fornecimento em setembro de 2025 na região Sudeste, que acumulou valorização de R$ 87,34/MWh, representando uma alta de 29,08%. Já o contrato referente ao terceiro trimestre (jul-set) apresentou aumento de 28,99%, demonstrando a forte reação do mercado frente à instabilidade climática.
Perspectivas para o setor
O desempenho da BBCE em março sinaliza não apenas a resiliência do mercado livre de energia, mas também sua crescente complexidade. O volume financeiro recorde em meio à retração operacional revela a importância da precificação eficiente e da gestão de riscos no atual contexto energético brasileiro.
Para os próximos meses, o comportamento do mercado dependerá fortemente das atualizações climáticas e hidrológicas, além da retomada de volumes conforme os preços se estabilizem. A BBCE, como principal plataforma de negociação do ACL, desempenha um papel cada vez mais estratégico na formação de preços e na transparência do setor.
A expectativa é de que os preços se mantenham voláteis até que haja maior clareza sobre a evolução das chuvas e os níveis dos reservatórios, enquanto cresce a demanda por contratos que ofereçam maior previsibilidade em um mercado sujeito a tantas variáveis.