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Angra 3 volta ao centro do debate: Câmara convoca ministros para esclarecer impasse sobre usina nuclear

Audiência pública deve reunir ministros, especialistas e representantes do setor energético para discutir cronograma, custos e viabilidade da retomada das obras da terceira usina nuclear brasileira

A construção da usina nuclear Angra 3, projeto iniciado há mais de quatro décadas e interrompido diversas vezes ao longo do tempo, volta ao centro das atenções do setor elétrico brasileiro. A Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados convocou uma audiência pública para discutir a retomada das obras da usina, localizada na Costa Verde do Rio de Janeiro.

O pedido partiu do deputado Julio Lopes (PP-RJ), que considera o tema estratégico para a segurança energética nacional e defende mais transparência em relação ao cronograma, aos custos, ao modelo de financiamento e aos impactos no setor elétrico brasileiro. Segundo o parlamentar, o debate é essencial para que a sociedade compreenda os desafios e possíveis soluções para a conclusão do empreendimento.

Um impasse que se arrasta

Em fevereiro, o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) adiou novamente a decisão sobre a viabilidade financeira de Angra 3. A medida gerou críticas dentro do próprio governo, evidenciando divergências entre os ministérios. Na reunião, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, reiterou seu voto favorável à concessão da outorga de autorização para exploração da usina, além da definição do preço da energia, com base em estudo do BNDES que estimou a tarifa em R$ 653,31 por megawatt-hora.

Silveira alertou para o risco fiscal da inércia. “A não aprovação pelo CNPE resultará em aportes imediatos dos acionistas da ENBPar, incluindo a União, de até R$ 14 bilhões”.

Por outro lado, Rui Costa, ministro da Casa Civil e uma das vozes mais influentes do governo, foi o principal defensor da postergação da decisão, reforçando a necessidade de aprofundar a análise sobre os riscos financeiros e operacionais da retomada.

Audiência reunirá ministros e representantes do setor nuclear

Foram convidados para a audiência pública os ministros Alexandre Silveira (Minas e Energia), Rui Costa (Casa Civil), Luciana Santos (Ciência, Tecnologia e Inovação) e Jorge Messias (Advocacia-Geral da União). A reunião também contará com a participação de representantes de órgãos técnicos e instituições ligadas ao setor nuclear, com o objetivo de promover um debate qualificado sobre os rumos da política nuclear brasileira.

Entre os especialistas e entidades confirmadas estão Rondinelli Junior, profissional com reconhecida atuação no setor; um representante do Tribunal de Contas da União (TCU); representantes do BNDES; Celso Cunha, presidente da Associação Brasileira para o Desenvolvimento de Atividades Nucleares (ABDAN); Carlos Henrique Silva Seixas, presidente da Associação Brasileira de Energia Nuclear (ABEN) e da Nuclebrás Equipamentos Pesados (Nuclep); Adauto Seixas, presidente das Indústrias Nucleares do Brasil (INB); Silas Rondeau Cavalcante Silva, presidente da ENBPar; e João Leal, coordenador de Energia Nuclear da Secretaria de Energia e Economia do Mar do Estado do Rio de Janeiro (Seenemar-RJ).

Um projeto estratégico e controverso

A construção de Angra 3 foi iniciada nos anos 1980, mas sofreu sucessivas interrupções por falta de recursos e mudanças políticas. A usina foi concebida para ter 1.405 MW de potência, o suficiente para abastecer cerca de 3 milhões de habitantes, reforçando a matriz elétrica com energia firme e limpa.

No entanto, o projeto acumula mais de R$ 10 bilhões em investimentos já realizados e diversas revisões orçamentárias. Atualmente, o custo estimado para concluir a usina gira em torno de R$ 17 bilhões, segundo fontes do setor. Há ainda dúvidas sobre o modelo de financiamento, já que o investimento exigiria recursos públicos ou uma concessão privada com garantias estatais.

Segurança energética x custo-benefício

Os defensores da retomada de Angra 3 alegam que a usina é fundamental para garantir estabilidade ao Sistema Interligado Nacional (SIN), especialmente com o avanço da geração intermitente, como eólica e solar. Além disso, destacam a importância estratégica da tecnologia nuclear para fins pacíficos e o fortalecimento da cadeia industrial nacional.

Por outro lado, críticos argumentam que os recursos poderiam ser mais bem aplicados em fontes renováveis de menor custo e impacto ambiental. A tarifa projetada para Angra 3 (R$ 653,31/MWh) é significativamente superior à média atual do mercado, o que levanta dúvidas sobre a viabilidade econômica do projeto no longo prazo.

Perspectivas

A audiência pública será uma oportunidade crucial para esclarecer os custos reais, os riscos financeiros, as contrapartidas ambientais e o modelo de governança para concluir Angra 3. Diante da necessidade de ampliar a oferta de energia firme no país e diversificar a matriz energética, a retomada do projeto exige decisão política e embasamento técnico.

O setor elétrico e a sociedade aguardam, agora, respostas concretas para uma das obras mais emblemáticas, e polêmicas, da história da energia no Brasil.

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