Por Felipe Vasconcelos, jovem prodígio da geopolítica, com mais de 60 formações na área de política internacional
Um dos principais fatores que vai moldar o futuro da política mundial e da Geopolítica é, sem dúvidas, a questão energética. Debates sobre questões ambientais e econômicas tratando sobre a sustentabilidade e como aplicá-la ocupam cada vez mais os espaços de diálogo entre as nações e se tornam pauta cada vez mais presente nas organizações internacionais. Neste contexto, a pergunta que surge é: como será desenhada a geopolítica energética do futuro e o que muda neste cenário?
A importância das fontes energéticas e seu protagonismo na geopolítica mundial não são fenômenos recentes. Ainda no Século XIX, disputas de potências imperialistas envolvendo o petróleo eram recorrentes, assim como na Segunda Guerra Mundial e durante a Guerra Fria. No entanto, com o advento do ambientalismo sobretudo a partir das décadas de 60 e 70 e a consciência cada vez maior da necessidade de um cuidado com o meio-ambiente e uma transição em direção à sustentabilidade, a geopolítica energética sofreu alterações significativas.
Um antigo provérbio aborígene diz que “se você cuidar da terra, a terra irá cuidar de você; se destruí-la, ela te destruirá”. Naturalmente, nossa sociedade industrial crescente desde o final do século XVIII tende a fazê-la mais mal do que bem e, dessa forma, também nos prejudicamos. Felizmente, a sociedade parece ter acordado e, assim, caminhamos para uma nova era de substituir o preto do petróleo e da queima de carvão pelo verde da sustentabilidade ambiental.
Nos últimos anos, nações têm investido cada vez mais em projetos de transição energética, para além de outros programas de sustentabilidade. Na Europa, o Pacto Ecológico Europeu de 2019 surgiu em harmonia com as políticas dos estados-membro em suas matrizes energéticas nacionais, com o exemplo da Alemanha, que desde os anos 90 incentiva a transição energética e tem essa como uma prioridade nacional e Portugal, que promoveu políticas que o tornaram um dos países mais descarbonizados do mundo. Nos EUA, inúmeras instituições trabalham na tentativa de promover uma sustentabilidade ainda maior, apesar de, por vezes, bater de frente com o governo atual. Até mesmo na China, país mais poluidor do mundo, medidas vêm sendo adotadas em nome da transição energética. No caso do Brasil, nossa matriz já possui fontes renováveis como a maior parte de nossa energia, com a energia hidroelétrica mantendo sua posição como principal fonte e a energia solar se tornando um mercado cada vez mais promissor.
No entanto, há de se entender que a consciência é uma via de mão dupla e, portanto, é tão necessário compreender que políticas ambientais devem seguir um processo gradual e pragmático quanto é necessário entender a própria necessidade destas políticas, uma vez que uma transição insegura e apressada pode resultar em desafios para a economia e segurança nacional. A Alemanha, por exemplo, fechou inúmeras usinas de carvão buscando maior sustentabilidade, o que resultou em insegurança energética gigantesca por conta da dependência do gás natural russo, o que gerou grandes problemas com a chegada da Guerra Russo-Ucraniana em 2022.
Há de se entender, portanto, que a caminhada para a transição energética é dependente da estabilidade mundial, como certa vez apontou o presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, e, portanto, deve ser tratada com pragmatismo pelas lideranças mundiais. Questões como guerras e crises econômicas, por exemplo, que implicam em problemas mais urgentes aos Estados, podem e, geralmente, vão atrapalhar o caminho mundial em direção à sustentabilidade, ao passo em que recursos, energia e foco destes Estados devem ser redirecionados para solucionar essas demandas urgentes. Portanto, identifica-se o primeiro passo para a transição energética como sendo a estabilidade internacional.
Apesar disso, é fato que, para além de demanda ambiental, a transição para a sustentabilidade representa, também, oportunidade geoestratégica e geopolítica significativa para diversos países. Isso porque, em um cenário no qual a demanda por um discurso – e exemplo – ambientalista é cada vez maior, apesar dos contrapontos, as nações referência em sustentabilidade e meio-ambiente têm o potencial de se tornarem lideranças mundiais, levando o mundo para um caminho mais verde. O papel de liderança, antes decidido apenas pela força das armas ou o número de indústrias, agora é também decidido pela sustentabilidade de uma nação.
Neste cenário, o Brasil emerge como uma das nações com maior potencial de liderança neste tema (e, de fato, vem assumindo essa posição). Com uma matriz energética majoritariamente renovável, uma biodiversidade gigantesca e a Floresta Amazônica, não existe líder natural maior do que o Brasil para coordenar o mundo no caminho pela sustentabilidade e, assim, assumir o tão desejado e cobiçado papel de liderança na Comunidade Internacional, apesar de todas as dificuldades
Percebe-se, portanto, que a Geopolítica energética vem se alterando e aumentando de dimensões por conta do advento das necessidades ambientais e que tal fenômeno deve ser observado com atenção e pragmatismo. Portanto, ao passo em que o mundo concilia seu objetivo de transicionar para uma sociedade mais sustentável e sua realidade de instabilidade, conflitos e crises, cabem a algumas nações o papel de liderar o esforço ambiental global, abrindo, para estas, novas portas em direção aos papéis de liderança do mundo, assim transformando a transição e a sustentabilidade em poderosas ferramentas geoestratégicas.