ONS aponta fim antecipado do período chuvoso e destaca necessidade de preservação dos recursos hídricos para evitar impactos no fornecimento de energia
O setor elétrico brasileiro enfrenta um cenário desafiador neste início de abril. Segundo projeções divulgadas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) no boletim do Programa Mensal da Operação (PMO), todas as regiões do país registram afluências abaixo da média histórica. Apesar de uma leve melhora em relação à revisão anterior, os números reforçam a preocupação com a gestão hídrica dos reservatórios e a necessidade de planejamento para o período seco.
Os dados indicam que o Norte apresenta a maior Energia Natural Afluente (ENA), com 84% da Média de Longo Termo (MLT). Já as demais regiões operam em níveis mais críticos: Sudeste/Centro-Oeste (67%), Sul (58%) e Nordeste (24%). Para o diretor-geral do ONS, Marcio Rea, o comportamento das chuvas confirma o fim antecipado do período úmido. “Continuamos monitorando atentamente todos os cenários e assegurando o atendimento pleno da demanda de energia”, afirmou.
Reservatórios mantêm níveis estáveis, mas exigem atenção no Sul
Apesar das baixas afluências, as perspectivas de Energia Armazenada (EAR) para o fim de abril indicam que três subsistemas devem permanecer acima dos 60%:
- Norte: 97,6%
- Nordeste: 75,1%
- Sudeste/Centro-Oeste: 67,3%
No entanto, a situação na região Sul requer maior cautela, com previsão de armazenamento de apenas 36,5%. O diretor de operação do ONS, Christiano Vieira, ressaltou que as chuvas de março não foram suficientes para compensar a baixa nos níveis de água registrada desde fevereiro. “O ONS tem adotado uma estratégia de preservação dos recursos hídricos, antecipando medidas para evitar impactos mais severos no período seco”, explicou.
Demanda de carga cresce, puxada pelo Norte e Nordeste
Mesmo diante desse cenário, a projeção para a demanda de carga no Sistema Interligado Nacional (SIN) é positiva. A previsão é de crescimento de 1,9% em abril, alcançando 83.207 MW médios. As maiores acelerações no consumo de energia devem ocorrer no Norte (+6,4%) e no Nordeste (+2,7%), reflexo da recuperação econômica e da expansão da geração distribuída nessas regiões. O Sul (1,8%) e o Sudeste/Centro-Oeste (1,0%) também apresentam crescimento, ainda que em menor escala.
CMO zerado no Norte e Nordeste, mas custo se mantém elevado no Sul e Sudeste
Outro fator importante para o setor elétrico é o Custo Marginal de Operação (CMO), indicador que reflete o custo da energia no sistema. As regiões Norte e Nordeste mantêm o CMO zerado, favorecendo a competitividade da energia nessas áreas. Já no Sudeste/Centro-Oeste, a projeção é de R$ 245,18/MWh, enquanto no Sul o custo chega a R$ 246,64/MWh.
O ONS também destacou a expectativa de aumento da geração de energia a partir de biomassa, além de uma leve melhora na previsão de vazões para o curto prazo. Essas variáveis podem contribuir para uma maior estabilidade da operação do sistema elétrico nos próximos meses.
Diante desse cenário, especialistas reforçam a importância de uma gestão eficiente dos recursos hídricos e da diversificação da matriz energética, garantindo segurança no fornecimento de eletricidade no Brasil.