Com chuvas abaixo da média em grande parte do país, setor elétrico acompanha de perto os impactos no abastecimento e na gestão dos reservatórios
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) revisou para baixo sua projeção de crescimento da carga de energia no Brasil para março. De acordo com o mais recente boletim do órgão, a expectativa agora é de uma alta de 3,8% na comparação anual, totalizando 86.637 megawatts médios (MWm), ante uma estimativa anterior de 4,2%. A revisão reflete um cenário hidrológico que permanece desafiador, com afluências abaixo da média histórica na maior parte do país, o que reforça a importância da gestão eficiente dos reservatórios para garantir a segurança do suprimento energético.
A projeção do ONS para o comportamento das chuvas nas principais bacias hidrográficas do país mostra um cenário de volume reduzido. As afluências esperadas para as hidrelétricas das regiões Sudeste/Centro-Oeste, que concentram cerca de 70% da capacidade de armazenamento do país, foram ajustadas para 58% da média histórica, ante 56% na previsão anterior. No Sul, a estimativa subiu ligeiramente para 47%, enquanto no Nordeste a projeção foi revista para 25%. Apenas o Norte apresenta um quadro mais favorável, com previsão de 101% da média histórica, contra 98% projetados na semana passada.
Apesar do cenário de menor volume de chuvas, o ONS também atualizou sua projeção para os reservatórios do Sudeste/Centro-Oeste, apontando um leve aumento na expectativa de armazenamento ao final do mês, de 67,6% para 67,5%. O número sinaliza que, apesar das condições hidrológicas adversas, os níveis de armazenamento seguem relativamente confortáveis, reduzindo os riscos de acionamento de usinas termelétricas, que possuem custo de operação mais elevado.
Impactos no setor elétrico
A revisão da carga de energia reflete não apenas fatores hidrológicos, mas também uma demanda que cresce de forma moderada no país. O consumo de eletricidade no Brasil está diretamente ligado ao desempenho econômico, ao comportamento do setor industrial e às condições climáticas. Com uma previsão de crescimento do PIB ainda modesta para 2024 e temperaturas menos extremas, o aumento do consumo energético tende a ser mais contido.
A redução na projeção da carga também pode ser vista como um fator positivo do ponto de vista do equilíbrio entre oferta e demanda, evitando pressões adicionais sobre o sistema elétrico em um período de afluências abaixo da média. No entanto, a manutenção de um planejamento energético eficiente é essencial para garantir que eventuais oscilações na geração hídrica não comprometam a estabilidade do setor.
Nos últimos anos, o Brasil tem ampliado significativamente sua matriz energética renovável, com destaque para a expansão da energia solar e eólica. Essas fontes têm desempenhado um papel fundamental na diversificação da oferta e na redução da dependência das hidrelétricas em períodos de seca. A complementação entre diferentes fontes de geração tem sido uma estratégia crucial para mitigar impactos de crises hídricas, como a registrada em 2021, que levou ao acionamento intenso das termelétricas e à elevação dos custos da energia no país.
Monitoramento e planejamento são essenciais
Diante do atual cenário hidrológico, o setor elétrico deve continuar atento aos desdobramentos climáticos e à evolução da demanda ao longo dos próximos meses. Embora os reservatórios estejam em uma situação mais favorável do que em anos anteriores, a incerteza climática sempre representa um desafio para o planejamento da operação do sistema.
A atuação do ONS, em conjunto com órgãos reguladores e agentes do setor, será determinante para equilibrar oferta e demanda de energia, evitando impactos tanto no fornecimento quanto nos custos para os consumidores. O acompanhamento das previsões hidrológicas e o incentivo a fontes complementares de geração serão fatores estratégicos para garantir a segurança energética do país em um cenário de transição para uma matriz mais diversificada e sustentável.