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CEOs do setor elétrico veem lucro em investimentos sustentáveis, mas temem futuro sem transformação

Pesquisa revela que quase metade dos líderes do setor registrou aumento de receita com ações climáticas, mas 51% acreditam que seus negócios não sobreviverão sem mudanças radicais

O setor de energia e serviços de utilidade pública no Brasil vive um paradoxo entre o otimismo econômico e a urgência de transformação estrutural. A 28ª edição da Global CEO Survey, conduzida pela PwC, ouviu 4,7 mil CEOs em mais de 100 países e trouxe um retrato revelador: enquanto 48% dos líderes brasileiros do setor afirmam que investimentos com impacto climático positivo geraram aumento de receita nos últimos cinco anos, 51% temem que seus negócios não se sustentem por mais de uma década sem mudanças significativas.

Esse cenário reflete uma indústria que, ao mesmo tempo que percebe retornos financeiros da sustentabilidade, encara a crise climática como sua maior ameaça. Entre os CEOs brasileiros do setor, 31% indicaram as mudanças climáticas como o maior risco para os próximos 12 meses — um dado que, apesar de representar uma queda em relação ao ano passado (quando o número foi de 39%), ainda coloca a questão ambiental no topo da lista de preocupações.

Otimismo econômico x confiança no setor

Apesar dos desafios ambientais e estruturais, o otimismo com a economia segue forte. No Brasil, 83% dos CEOs do setor preveem uma aceleração da economia global em 2025 — uma taxa superior à média nacional de 68% e bem acima da média global, que ficou em 58%. Quando a análise foca na economia local, o entusiasmo se mantém: 77% dos líderes do setor acreditam em um crescimento da economia brasileira nos próximos 12 meses, contra 73% da média nacional.

No entanto, essa confiança não se traduz no mesmo nível de expectativa para o próprio setor. A pesquisa aponta uma queda de 14 pontos percentuais na confiança dos CEOs de energia e utilidades em relação ao crescimento da receita de suas empresas no próximo ano. E, olhando para os próximos três anos, o pessimismo se aprofunda ainda mais.

Segundo Adriano Correia, sócio e líder do setor de Energia e Serviços de Utilidade Pública da PwC Brasil, esse comportamento reflete uma visão cautelosa, especialmente no longo prazo. “Os líderes sabem que a sobrevivência das empresas depende de mudanças estruturais profundas. A sustentabilidade financeira e ambiental andam lado a lado”, explica.

Investimentos verdes: retorno real ou expectativa frustrada?

O dado mais emblemático da pesquisa revela que 48% dos CEOs do setor afirmam ter registrado aumento de receita em função de investimentos com impacto climático positivo. No entanto, o cenário não é homogêneo: uma parcela equivalente de líderes disse ter obtido pouco ou nenhum retorno financeiro desses mesmos investimentos.

Ainda assim, 64% dos executivos afirmam que essas iniciativas ajudaram a reduzir custos ou tiveram algum impacto positivo — mesmo que modesto — em suas operações. Esse resultado coloca o Brasil ligeiramente abaixo da média global, onde 69% dos líderes indicam uma percepção semelhante.

O dilema se aprofunda ao observar que, embora as mudanças climáticas sejam apontadas como a maior ameaça, outras preocupações emergem com força no setor. A disrupção tecnológica foi citada por 26% dos líderes, seguida pelos riscos cibernéticos (23%) e pela instabilidade macroeconômica (23%). Além disso, 20% dos CEOs destacaram a falta de mão de obra qualificada como um entrave, ainda que abaixo da média nacional de 30%.

IA e inovação: o impulso necessário

Mesmo diante de tantos desafios, os líderes do setor reconhecem a necessidade de inovação contínua — e a Inteligência Artificial (IA) está no centro dessa transformação. A pesquisa revela que 54% dos CEOs planejam integrar IA em suas plataformas tecnológicas, e 46% pretendem implementar a tecnologia em processos de negócios e fluxos de trabalho.

Ainda assim, há sinais de moderação: a expectativa em relação à IA caiu de 55% em 2024 para 48% em 2025. Para Adriano Correia, o dado não indica uma perda de interesse, mas sim uma transição para uma abordagem mais realista e focada em resultados concretos. “O entusiasmo inicial deu lugar a uma visão mais pragmática. Os investimentos continuam, mas agora há mais preocupação com a eficiência e a integração da IA aos processos de negócio”, analisa.

Reinvenção como condição de sobrevivência

A pesquisa também aponta que o setor de energia e serviços de utilidade pública está em um processo ativo de reinvenção. 43% dos CEOs afirmaram que suas empresas começaram a competir em pelo menos um novo mercado nos últimos cinco anos — uma clara demonstração de diversificação para garantir longevidade.

Entre as estratégias de reinvenção, destacam-se a busca por novos clientes, a revisão de modelos de precificação e a exploração de mercados emergentes. No entanto, a pesquisa indica que o setor ainda enfrenta barreiras regulatórias que limitam o desenvolvimento de novos produtos e serviços inovadores.

Para Correia, o futuro do setor passa por expandir sua atuação para além do modelo tradicional. “O processo de transformação da indústria já começou, impulsionado pela transição energética e pela digitalização. As empresas que não acompanharem esse movimento correm o risco de se tornarem irrelevantes”, conclui.

Com um cenário que mistura otimismo econômico, desafios ambientais e uma necessidade urgente de inovação, o setor de energia brasileiro se encontra em um ponto de inflexão. A pesquisa da PwC deixa claro: a sobrevivência das empresas depende de uma reinvenção rápida e estratégica — e os CEOs sabem que o tempo para agir é agora.

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