Ministério de Minas e Energia dá início ao debate sobre a redução dos cortes de energia renovável e a melhoria da rede de transmissão
O Ministério de Minas e Energia (MME) iniciou, nesta quinta-feira (13), as atividades do Grupo de Trabalho (GT) do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE), com o objetivo de encontrar soluções para reduzir os cortes na geração de energia renovável, fenômeno conhecido como curtailment. A prática, que leva à interrupção da produção de usinas eólicas e solares mesmo quando há condições para geração, representa um desafio crescente para o setor elétrico brasileiro.
A criação do grupo foi deliberada na 302ª reunião extraordinária do CMSE, realizada no último dia 6, e surge como uma resposta à necessidade de maximizar o aproveitamento da matriz elétrica limpa do Brasil. Com reuniões semanais e participação de órgãos reguladores e operacionais do setor, o grupo se concentrará em medidas de curto, médio e longo prazo, visando garantir que a energia gerada seja plenamente utilizada e que as restrições à transmissão e ao consumo sejam minimizadas.
A expectativa é que as discussões resultem em propostas concretas para modernizar a operação do sistema elétrico, garantir segurança energética e impulsionar o desenvolvimento do setor renovável.
Curtailment: um desafio para o setor elétrico
O curtailment ocorre quando a energia gerada por fontes renováveis não pode ser injetada na rede elétrica devido a restrições técnicas, limitação da capacidade de transmissão ou insuficiência de consumo instantâneo. O problema tem sido mais frequente no Nordeste, onde a alta geração eólica e solar enfrenta dificuldades de escoamento para outras regiões.
O desafio é estrutural: o Brasil tem expandido rapidamente suas fontes renováveis, mas a infraestrutura de transmissão não acompanhou esse crescimento no mesmo ritmo. Como resultado, usinas são desligadas mesmo quando poderiam estar gerando energia limpa e de baixo custo.
As causas dos cortes de geração estão principalmente relacionadas a limitações na infraestrutura de transmissão, que impedem o escoamento do excedente energético para outras regiões. Além disso, a falta de flexibilidade do sistema elétrico dificulta a integração das fontes intermitentes, como a energia solar e eólica. Outro fator relevante é a baixa demanda instantânea, que compromete a capacidade de absorção da geração de energia renovável.
O desperdício de energia tem impacto financeiro para investidores do setor e pode afetar a segurança do abastecimento no longo prazo.
Medidas para minimizar os impactos dos cortes de geração
A primeira reunião do GT definiu algumas ações prioritárias para enfrentar o problema do curtailment. Entre as medidas que serão analisadas nas próximas semanas, destacam-se:
- Maior transparência sobre os cortes de geração, garantindo que as decisões sejam previsíveis para os agentes do setor.
- Expansão da rede de transmissão, acelerando obras e reforços para melhorar a distribuição da energia gerada.
- Instalação de compensadores síncronos, equipamentos que estabilizam a rede elétrica e permitem melhor integração das renováveis.
- Revisão das metodologias de corte e programação das usinas, para evitar desligamentos desnecessários e otimizar a gestão da rede.
- Uso de sistemas de armazenamento de energia, como baterias, para absorver o excesso de geração e reduzir a necessidade de cortes.
A implementação dessas medidas poderá garantir que o Brasil aproveite de forma mais eficiente seu potencial de geração renovável, reduzindo desperdícios e fortalecendo a segurança do sistema elétrico.
Um esforço conjunto para modernizar o setor
O Grupo de Trabalho do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico (CMSE) será coordenado pela Secretaria Nacional de Energia Elétrica (SNEE) do Ministério de Minas e Energia (MME) e contará com a participação de representantes de diversas entidades reguladoras e operacionais do setor elétrico, como a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) e a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
A atuação conjunta dessas instituições será fundamental para viabilizar soluções eficazes e promover a modernização da matriz elétrica brasileira, garantindo um fornecimento de energia mais seguro, sustentável e eficiente.
Brasil tem potencial para liderar a transição energética global
Com mais de 90% da matriz elétrica baseada em fontes renováveis, o Brasil já ocupa uma posição de destaque na transição energética mundial. No entanto, para consolidar essa liderança, é fundamental que o país invista em infraestrutura e tecnologias que garantam o aproveitamento total da energia gerada.
A criação do Grupo de Trabalho do CMSE é um passo importante nesse sentido. Ao buscar alternativas para mitigar os cortes de geração, o governo federal e as entidades reguladoras demonstram compromisso com a sustentabilidade do setor elétrico e a segurança energética do país.
Nos próximos meses, espera-se que o grupo apresente soluções concretas para reduzir o desperdício de energia renovável e maximizar os benefícios da transição energética brasileira.