SPIC Brasil destaca preocupações com curtailment, otimismo com leilões e a importância da governança no setor elétrico
O setor elétrico brasileiro avança rumo a um futuro mais sustentável e inovador, mas enfrenta desafios regulatórios que exigem soluções urgentes. No Fórum C-Level da Agenda Setorial 2025, especialistas discutiram os rumos do mercado, com destaque para a transição energética, a governança setorial e a modernização da infraestrutura elétrica. Entre os temas debatidos, a gestão dos cortes de geração (curtailment), a inclusão de hidrelétricas no Leilão de Capacidade e a necessidade de uma regulamentação clara para o armazenamento de energia foram centrais para o debate.

Para Érika Breyer, Gerente de Regulação da SPIC Brasil, a empresa mantém um forte compromisso com o país e segue investindo em infraestrutura elétrica, mas enxerga com preocupação os desafios impostos pelo curtailment.
Curtailment: um obstáculo ao crescimento do setor renovável
A SPIC Brasil, que opera cerca de 4 GW em ativos no país, tem sido impactada pelos cortes de geração. O curtailment — ou seja, a limitação da geração de energia mesmo quando há capacidade disponível — tem se tornado um entrave para o desenvolvimento do setor.
“Desde que chegamos ao Brasil, investimos mais de R$ 15 bilhões em sete anos. Seguimos interessados em expandir nossa atuação, mas a questão do curtailment é preocupante. Trata-se de um problema global e seu correto endereçamento é essencial para o avanço da energia renovável no Brasil”, explica Breyer.
A executiva destaca que, para o país manter sua posição de liderança na transição energética, é necessário trazer mais transparência para os critérios adotados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) no gerenciamento desses cortes. A falta de clareza nos dados e nas justificativas para os desligamentos gera incerteza para os investidores e pode desestimular novos aportes no setor.
“O setor elétrico é complexo e envolve diversos agentes, mas é fundamental que geradores e consumidores não sejam penalizados por restrições externas. Em 2023, por exemplo, dois parques solares da SPIC recém-inaugurados sofreram cortes, prejudicando nossa operação e trazendo impactos financeiros”, ressalta.
Leilão de Capacidade: uma nova oportunidade para as hidrelétricas
Apesar dos desafios, a SPIC Brasil vê com otimismo a inclusão de usinas hidrelétricas no Leilão de Reserva de Capacidade. A decisão do governo de permitir a participação de hidrelétricas contratadas no regime de cotas foi recebida de forma positiva pelo mercado.
“A infraestrutura já está construída e pode oferecer flexibilidade ao sistema, com a adição de unidades geradoras disponíveis. A energia hidrelétrica, além de ser renovável, tem atributos essenciais para garantir segurança e equilíbrio diante da expansão das fontes intermitentes, como solar e eólica”, explica Breyer.
Outro ponto importante foi a criação do parâmetro de demanda pelo Ministério de Minas e Energia. Isso significa que, em cada rodada do leilão, haverá previsibilidade sobre a necessidade de contratação de novas usinas. No caso do produto 2030, no qual as hidrelétricas entram, ainda haverá demanda suficiente para que essa fonte desempenhe um papel crucial na estabilidade do sistema elétrico.
“A decisão do governo fortalece a posição das hidrelétricas no futuro do setor. Nossa mensagem é clara: as hidrelétricas continuam sendo uma solução estratégica e competitiva para a matriz energética brasileira”, afirma Breyer.
Leilão de Baterias: segurança regulatória é essencial
Outro tema debatido foi o Leilão de Baterias, uma iniciativa fundamental para impulsionar o armazenamento de energia no Brasil. No entanto, antes da realização do leilão, o setor aguarda a regulamentação que definirá as regras para a participação dessas tecnologias no sistema.
“É crucial garantir segurança jurídica e regulatória antes da implementação do leilão. O fechamento da CP39 foi um passo importante, pois permitiu a análise das contribuições enviadas pelo mercado. Agora, é necessário avançar na publicação das diretrizes e da portaria sistemática do leilão, para que as empresas possam se preparar adequadamente”, destaca Breyer.
O armazenamento de energia desempenha um papel essencial na transição energética, pois permite maior flexibilidade na gestão da oferta e demanda. Contudo, sem um arcabouço regulatório sólido, o leilão pode gerar incertezas e comprometer a atratividade dos investimentos.
“Precisamos saber quais soluções de armazenamento estarão regulamentadas para participar do leilão. Esse é um ponto que precisa ser resolvido antes do lançamento oficial da licitação, previsto para o final do segundo semestre de 2025”, conclui a executiva.
Um futuro promissor, mas que exige ação imediata
O setor elétrico brasileiro está diante de uma oportunidade única para consolidar sua posição como líder global na transição energética. No entanto, desafios como a gestão dos cortes de geração, a modernização da regulação do armazenamento e a segurança jurídica dos investimentos precisam ser resolvidos com urgência.
A SPIC Brasil segue apostando no país e na sua capacidade de inovação. Com um planejamento sólido e um ambiente regulatório transparente, o setor poderá crescer de forma sustentável, garantindo energia limpa, confiável e acessível para todos.