Além do impacto financeiro de R$ 40 milhões, os furtos colocam em risco a vida da população e comprometem o fornecimento de energia
A onda de calor extremo que atinge o Brasil em 2025 tem causado picos históricos no consumo de energia elétrica. No entanto, esse cenário é ainda mais complicado pelo furto de eletricidade, uma prática criminosa que sobrecarrega a rede elétrica e representa sérios riscos à segurança da população, como incêndios e quedas de energia.
Nos primeiros meses de 2025, a Light, concessionária responsável pelo fornecimento de energia para 31 municípios do Rio de Janeiro, já foi obrigada a substituir 1.150 transformadores danificados pelo excesso de carga irregular, o que resultou em um prejuízo estimado de R$ 40 milhões.
Calor extremo e furtos elevam riscos na rede elétrica
As mudanças climáticas têm provocado ondas de calor mais intensas e frequentes, levando os consumidores a aumentarem o uso de aparelhos de refrigeração, como ar-condicionado e ventiladores. Esse aumento da demanda já sobrecarrega a rede elétrica naturalmente, mas quando associado ao furto de energia, o impacto se torna ainda mais severo.
“Com esse cenário de calor extremo, nossa rede fica ainda mais sobrecarregada. Os transformadores, projetados para atender os clientes regulares, acabam superaquecendo e queimam, provocando não apenas apagões, mas também incêndios e acidentes”, alerta Bruno Almeida, gerente de manutenção da Light.
Além dos transformadores, a empresa também identificou sobrecarregas em cabos e equipamentos de distribuição, exigindo manutenções constantes. Em muitos casos, as equipes restauram a energia em determinada região, mas, pouco tempo depois, novas quedas ocorrem devido ao estresse nos equipamentos, causado pelo consumo irregular.
Demanda de energia dispara com a onda de calor
A Light registrou um aumento expressivo no pico de demanda de carga. Apenas nos primeiros 18 dias de fevereiro de 2025, o consumo de energia elétrica cresceu 391 MW em relação ao mesmo período de 2024, o equivalente ao consumo médio de 391 mil clientes.
“O calor altera o comportamento do consumidor. Antes, uma família podia ligar apenas um ar-condicionado. Agora, com as temperaturas extremas, muitos utilizam dois ou mais aparelhos ao mesmo tempo, elevando consideravelmente a demanda”, explica Almeida.
Esse crescimento no consumo, somado à conexão clandestina de energia, sobrecarrega os equipamentos e gera instabilidade no fornecimento, atingindo tanto consumidores regulares quanto serviços essenciais, como hospitais, escolas e creches.
Furto de energia: prejuízo para a concessionária e para a população
O furto de energia não impacta apenas as concessionárias, mas toda a população. De acordo com a Light, para cada 100 clientes regulares, 35 fazem uso ilegal da eletricidade, prejudicando o abastecimento geral e elevando os custos para os consumidores que pagam suas contas corretamente.
O prejuízo anual da empresa com perdas não técnicas — termo utilizado para designar o furto de energia — chega a R$ 1,2 bilhão. Esse valor poderia ser investido em melhorias na infraestrutura, modernização da rede e redução de tarifas, mas, ao invés disso, a empresa precisa realocar recursos para manutenção corretiva e combate a ligações clandestinas.
Diante desse cenário, a Light tem intensificado ações para combater o furto de energia, utilizando tecnologia, fiscalização e parcerias com órgãos de segurança pública para identificar e coibir a prática.
Impactos do furto de energia: além da conta de luz
Além do impacto financeiro, os furtos de energia geram riscos diretos à segurança da população. Ligações clandestinas são feitas sem padrões técnicos, aumentando o risco de curtos-circuitos e incêndios. Regiões com altos índices de furto de eletricidade registram maior incidência de quedas de energia, afetando comércios, hospitais e serviços públicos.
A sobrecarga gerada pelos consumidores irregulares também reduz a vida útil dos transformadores e cabos, exigindo trocas frequentes e manutenções emergenciais. Como consequência, os clientes regulares enfrentam mais interrupções no fornecimento e tarifas mais elevadas, já que parte dos prejuízos precisa ser compensada nas contas de luz.