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Angra 3: Entenda por que o projeto é estratégico para o futuro energético do Brasil

Apesar de polêmicas sobre custos, especialistas apontam que abandonar a construção pode gerar impactos econômicos, tecnológicos e ambientais irreversíveis

A recente matéria do Estadão sobre o projeto de construção da usina nuclear Angra 3 trouxe à tona um estudo da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) que avalia os custos associados à continuidade ou abandono do empreendimento. A publicação gerou questionamentos ao sugerir que a construção pode representar um custo adicional de até R$ 61 bilhões aos consumidores. No entanto, a própria EPE esclarece que essa interpretação simplifica uma análise estratégica mais ampla e profunda.

De acordo com a EPE, o relatório em questão é um documento preparatório e de caráter estratégico, e não um estudo quantitativo limitado ao cálculo de tarifas ou comparação direta com outras fontes de energia. Ele considera não apenas os custos financeiros imediatos, mas também os impactos de longo prazo relacionados à confiabilidade do sistema elétrico, descarbonização, segurança energética e manutenção do domínio tecnológico nuclear no Brasil.

Custos visíveis e invisíveis

A comparação direta entre os custos da energia nuclear e de fontes renováveis, como solar e eólica, é um dos pontos destacados de forma incompleta. Essas tecnologias, embora sejam indispensáveis na matriz energética, apresentam desafios quando se trata de estabilidade e segurança do sistema. Fontes renováveis variáveis exigem investimentos significativos em backup, infraestrutura de conexão e estabilidade, custos que podem superar US$ 50/MWh, de acordo com estudos da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

Além disso, a análise do Estadão desconsidera os custos evitados com descarbonização. Após 2031, o abatimento de carbono será um fator essencial nas políticas energéticas globais. Estudos internacionais apontam que o preço do carbono pode alcançar US$ 100 por tonelada de CO2 equivalente, o que adicionaria cerca de US$ 34/MWh em uma usina térmica a gás natural, por exemplo.

Impactos do abandono

O relatório da EPE também alerta para os custos de oportunidade caso o projeto seja abandonado. Além de significar o desperdício de investimentos já realizados, a interrupção da construção levaria à desmobilização de uma cadeia produtiva altamente especializada, afetando empregos e empresas brasileiras ligadas ao setor nuclear. O Brasil também perderia competitividade e a chance de integrar cadeias globais de valor nesse segmento.

A experiência internacional reforça essa preocupação. Países como Suécia e Itália, que haviam reduzido o investimento em energia nuclear, estão agora revisando suas políticas para retomar o desenvolvimento dessa fonte. Na Alemanha, o fechamento de usinas nucleares resultou em uma dependência maior de importações de eletricidade da França, cuja matriz energética é 70% nuclear.

Além dos números: uma decisão estratégica

O estudo da EPE defende que a decisão sobre Angra 3 deve ir além da avaliação puramente econômica. A usina contribui para aumentar a resiliência climática e reduzir a vulnerabilidade do sistema energético nacional, especialmente em um contexto de mudanças climáticas. Ela também assegura maior diversificação da matriz elétrica brasileira, reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e garantindo segurança energética em períodos de baixa geração renovável.

Outro aspecto relevante é o impacto positivo do domínio tecnológico nuclear. Países como Estados Unidos, Canadá e China utilizam sua expertise em energia nuclear para impulsionar inovações em outras áreas, como medicina, agricultura e indústrias de alta tecnologia.

Conclusão: um olhar além do curto prazo

A construção de Angra 3 é mais do que uma questão financeira: trata-se de um projeto estratégico para o futuro do Brasil. A usina evita custos elevados de abandono, ajuda a mitigar impactos sistêmicos, contribui para a descarbonização e fortalece a matriz elétrica nacional. Mais do que nunca, o país precisa considerar os aprendizados de outros países e tomar decisões que alinhem sustentabilidade, segurança e soberania energética.

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