Sistema Interligado Nacional encerra 2024 com gestão positiva, enquanto o Operador Nacional reforça a importância de leilões de capacidade e novas tecnologias
Após enfrentar a estiagem mais severa dos últimos 70 anos, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) avalia 2024 como um ano de superação e resiliência para o Sistema Interligado Nacional (SIN). Graças a medidas estratégicas e iniciativas inovadoras, o sistema encerra o ano com níveis de energia armazenada 6,6 pontos percentuais acima do registrado no final de 2021, quando o Brasil enfrentava uma grave crise hídrica.
Para o diretor-geral do ONS, Márcio Rea, o balanço reflete a agilidade e a eficiência na gestão dos recursos hídricos e energéticos, mesmo diante de condições climáticas extremas. “Tivemos que lidar com extremos em 2024: enchentes no Rio Grande do Sul, que afetaram mais de 40 ativos do SIN, e uma estiagem severa, especialmente na região Norte, onde registramos mínimas históricas. Superamos os desafios com medidas preventivas e rápidas, mantendo o pleno atendimento das demandas da sociedade”, destacou.
Gestão em Meio a Extremos
A seca prolongada foi um dos principais desafios do setor elétrico em 2024, especialmente em bacias estratégicas como a dos rios Grande, Paranaíba e Madeira. Para preservar os volumes de água nos reservatórios, o ONS adotou medidas como a redução das defluências mínimas nas usinas de Jupiá e Porto Primavera, além da gestão intensiva de recursos eletroenergéticos na região Norte, onde estão localizadas importantes usinas hidrelétricas do SIN.
Ao mesmo tempo, o setor enfrentou as consequências de uma enchente histórica no Rio Grande do Sul, que exigiu uma operação especial para recuperar transformadores, subestações e linhas de transmissão danificadas. A normalização ocorreu entre maio e novembro, graças à mobilização de agentes geradores e transmissores.
Olhando para 2025
Para 2025, o ONS reforça a necessidade de avanços estruturais e tecnológicos no setor elétrico. Estudos como o Plano de Expansão da Transmissão (PEN) 204 e o PAR/PEL 2024 indicam que o SIN, embora tenha excedente de geração, enfrenta limitações de potência para atender à demanda de ponta. Leilões anuais de reserva de capacidade são vistos como essenciais para garantir a confiabilidade do sistema.
O ONS também aponta o crescimento da Micro e Mini Geração Distribuída (MMGD) como uma tendência desafiadora. O aumento da geração solar, aliado à falta de sol nos horários de ponta noturna, pressiona o sistema. O Operador defende que distribuidoras tenham maior protagonismo, podendo até mesmo determinar cortes na geração MMGD em momentos críticos, a fim de equilibrar as curvas de carga.
Inovação no Setor
Em 2024, a inovação esteve no centro das operações do ONS, com destaque para o lançamento do Tiago, uma ferramenta de Inteligência Artificial (IA) desenvolvida para otimizar a gestão do SIN. Utilizando Modelos de Linguagem de Grande Escala (LLMs) e recursos de computação em nuvem, o Tiago apoia as equipes do ONS em processos de tomada de decisão mais ágeis e precisos.
No âmbito regulatório, o ONS implementou um mecanismo competitivo para a contratação de Resposta da Demanda por disponibilidade, que reforça a flexibilidade operacional do sistema.
Geração Renovável e Sustentabilidade
O debate sobre a restrição da geração renovável não-hídrica, como eólica e solar, ganhou força em 2024. Para aumentar a segurança na operação e mitigar sobrecargas, o ONS adotou uma nova metodologia de cortes em estados como Ceará, Rio Grande do Norte e Bahia. Além disso, recomendações como a instalação de compensadores síncronos e a entrada em operação de bancos capacitadores série prometem aumentar a eficiência no escoamento da energia gerada.
Essas iniciativas não apenas reforçam a resiliência do SIN, mas também impulsionam a integração de fontes renováveis, essenciais para a transição energética no Brasil.
Um Olhar para o Futuro
Com uma gestão eficaz diante de desafios extremos, o ONS encerra 2024 com perspectivas positivas para 2025. No entanto, o Operador enfatiza que o sucesso contínuo do SIN depende de investimentos em leilões de capacidade, tecnologias de armazenamento e fortalecimento da governança sobre a geração distribuída.
“Estamos caminhando para um sistema mais robusto e flexível, mas a confiabilidade e a eficiência dependem de decisões estratégicas que atendam às demandas de um setor em rápida transformação”, concluiu Márcio Rea.