Shell Defende Importância de Ativos Consolidados e Inovação para Acelerar Transição Energética no Brasil

Data:

Compartilhe:

Em palestra na ETRI 2024, Olivier Wambersie, da Shell Brasil, destaca a necessidade de investimentos sustentáveis e apoio a tecnologias emergentes para um futuro de baixo carbono

Durante a Conferência Internacional de Pesquisa e Inovação em Transição Energética (ETRI 2024), Olivier Wambersie, gerente geral de Tecnologia da Shell Brasil, abordou as oportunidades e os desafios da transição para um modelo energético de baixo carbono. Com ênfase na importância de ativos consolidados e no papel dos centros de pesquisa, como o RCGI da USP, Wambersie ressaltou que muitas das tecnologias necessárias para a descarbonização global ainda estão em fase de desenvolvimento. Atualmente, estima-se que 50% das soluções tecnológicas para reduzir emissões de carbono não estão disponíveis, o que impõe um desafio: como viabilizar a inovação enquanto se mantém o suporte financeiro por meio de operações seguras.

“A transição energética exige que continuemos investindo em ativos que geram valor hoje, para podermos financiar o desenvolvimento de tecnologias futuras. Vivemos em um mundo onde muitas das soluções para transformar a matriz energética ainda estão a décadas de serem aplicadas em escala industrial”, comentou Wambersie.

O Equilíbrio entre Inovação e Continuidade Operacional

Wambersie enfatizou a importância de manter a operação de fontes convencionais enquanto se trabalha na implantação de soluções de longo prazo, como hidrogênio verde e captura de carbono. Segundo ele, a Shell reconhece a atual fase do setor como uma de “adição de fontes”, e não substituição. Ele apresentou o conceito BANI (Brittle, Anxious, Nonlinear, Incomprehensible) para descrever o cenário volátil do mercado de energia, onde é fundamental equilibrar investimentos em tecnologias novas e o aproveitamento de ativos tradicionais.

Esse modelo é especialmente relevante para países como o Brasil, que dependem da produção de petróleo e gás para financiar projetos de inovação. “Como afirmou recentemente o presidente Lula, a produção de petróleo e gás é uma necessidade energética e uma base financeira para investir em pesquisa e novas soluções sustentáveis”, observou Wambersie.

Prioridades da Shell no Brasil: P&D e Parcerias com Instituições Acadêmicas

Na apresentação, Wambersie reforçou que a Shell Brasil, em parceria com 23 instituições acadêmicas e 1.600 pesquisadores, tem investido intensamente em pesquisa e desenvolvimento (P&D). Entre os destaques está o RCGI (Centro de Pesquisa e Inovação em Gases de Efeito Estufa), da USP, que conta com 630 pesquisadores trabalhando diretamente em soluções para redução das emissões de carbono. A Shell investiu cerca de R$ 2,5 bilhões em P&D nos últimos cinco anos, com foco em biocombustíveis, tecnologias de captura e armazenamento de carbono e produção de hidrogênio verde.

Como exemplo do tempo e complexidade para desenvolver tecnologias de transição, Wambersie mencionou uma planta-piloto de transformação de etanol em hidrogênio verde, que está em fase de testes na USP. “Essa planta nasceu há mais de uma década, fruto do trabalho de um doutorando. É um processo longo, repleto de ajustes e avanços graduais. A inovação é como aprender a andar: exige perseverança e não acontece de uma hora para outra.”

O Potencial do Gás Natural e das Energias Renováveis

Embora tecnologias maduras, como a eólica onshore e a solar, já estejam em uso, a Shell aposta no gás natural como alternativa de curto prazo para reduzir o uso de combustíveis mais poluentes, como o carvão. Segundo Wambersie, o gás natural tem um papel importante como “ponte” na transição para um sistema de energia mais limpo, complementando as fontes renováveis até que tecnologias disruptivas alcancem viabilidade comercial.

“Ao promover o gás natural, conseguimos reduzir emissões de carbono de maneira prática enquanto investimos em soluções mais avançadas. Essa transição equilibrada é vital, especialmente em um cenário onde a previsibilidade é limitada e o risco é elevado”, explicou o gerente de tecnologia da Shell.

O Papel da Estabilidade Regulatória para Atração de Investimentos

Wambersie também chamou a atenção para a importância de um ambiente regulatório estável que permita atrair investimentos de longo prazo. “Projetos de energia exigem décadas de planejamento e recursos. É impossível avançar sem um mínimo de previsibilidade e segurança, especialmente em projetos de alto risco”, afirmou.

O gerente da Shell destacou que, além das inovações tecnológicas, a transição energética exige políticas públicas que promovam um ambiente de negócios seguro para atrair investidores. Em um setor marcado por alta volatilidade e incerteza, o apoio governamental é essencial para a viabilização de projetos ambiciosos que buscam revolucionar a matriz energética.

Parcerias e Formação de Talentos: Caminhos para a Sustentabilidade

A formação de talentos é outro pilar na estratégia da Shell para acelerar a transição energética. Em parceria com instituições acadêmicas brasileiras, a Shell apoia o desenvolvimento de profissionais capacitados para atuar nas áreas de pesquisa, tecnologia e sustentabilidade. Wambersie ressaltou a importância de formar uma nova geração de pesquisadores e profissionais que possam liderar projetos de inovação no futuro, garantindo que o Brasil esteja bem posicionado na transição para um sistema de energia de baixo carbono.

spot_img

Artigos relacionados

ANEEL Homologa Leilão de Capacidade para Suprimento de Energia em 2026

Sete usinas térmicas garantirão reserva de energia para atender picos de demanda no Brasil, trazendo estabilidade ao setor...

ANEEL Homologa Leilão de Transmissão com Investimentos de R$ 3,35 Bilhões

Certame realizado em setembro confirma investimentos de R$ 3,35 bilhões para expansão de linhas de transmissão em seis...

ANEEL Aprova Redução de 3% nas Tarifas de Energia da Chesp para Consumidores Residenciais...

Medida beneficiará mais de 30 mil consumidores de Ceres e região a partir de 22 de novembroA Agência...

ANEEL Propõe Ampliação de Direitos para Consumidores em Emergências Energéticas

Consulta pública sugere compensação financeira, ressarcimento por danos e melhorias na comunicação durante interrupções prolongadas de energiaA Agência...