Oportunidades de expansão no setor eólico são alimentadas por demandas crescentes de data centers e hidrogênio verde, com abertura do mercado livre de energia
A transição energética global coloca o Brasil em uma posição estratégica de liderança, especialmente no setor de energia eólica. Com desafios recentes, o país agora vê novas oportunidades surgirem com a expansão de data centers, o desenvolvimento do hidrogênio verde e a abertura de mercado para consumidores no setor de energia. Esses temas foram debatidos no painel “Impulsionando o crescimento energético com Data Centers, Hidrogênio Verde, Mercado Livre: o caminho para o restabelecimento do setor eólico no Brasil”, realizado na Brazil WindPower, em São Paulo.
O painel, mediado por Lívia Miyabara, head Latam de Estratégia e Marcomm da Vestas, contou com a presença de importantes nomes da indústria. Entre os participantes estavam Gustavo Fagundes, vice-presidente de Vendas da Vestas, Alejandro Catalano, CEO da Pan American Energy Brasil, Gilberto Feldman, fundador e CEO da PEC Energia, e Thiago Rezende, diretor de Implantação e Operações da Casa dos Ventos. Todos os palestrantes concordaram que, apesar do momento de inflexão que o setor enfrenta, o futuro aponta para uma expansão significativa, com o Brasil se consolidando como um dos líderes da transição energética.
Expansão Energética para Acompanhar o Crescimento Econômico
Alejandro Catalano destacou o crescimento econômico do Brasil nos últimos anos como fator determinante para o aumento da demanda energética no futuro. “A expectativa é de que nos próximos anos haja um incremento de consumo energético de pelo menos 10% no país”, afirmou o executivo. Ele comparou o consumo per capita de energia do Brasil com países desenvolvidos, como os Estados Unidos, onde o consumo de eletricidade é cinco vezes maior. “Há um espaço enorme para crescimento no Brasil”, completou.
Data Centers: Tecnologia Aliada ao Setor Energético
Com o avanço da inteligência artificial e da computação em nuvem, os data centers se tornaram uma peça-chave da infraestrutura tecnológica moderna. O Brasil, com suas condições geográficas favoráveis, tem se destacado como um destino promissor para a instalação e expansão dessas estruturas. Entre 2013 e 2023, o mercado de data centers no Brasil cresceu impressionantes 628%, consolidando o país como líder na América Latina. Hoje, existem 181 unidades de data centers no Brasil, e a expectativa é de expansão nos próximos anos.
Thiago Rezende enfatizou a relevância da energia elétrica no funcionamento dessas estruturas. “O valor gasto com energia elétrica representa 80% dos custos de um data center”, explicou. E essa demanda por energia tende a crescer: “O Brasil consome em média 500 MW em data centers, mas já existem pedidos de acesso para 9 GW, o equivalente à produção de Itaipu”, destacou Gilberto Feldman. Com isso, as energias renováveis, especialmente a eólica, surgem como uma solução ideal para atender a essa demanda, sendo uma opção limpa e competitiva.
Gustavo Fagundes, da Vestas, destacou que a energia eólica se alinha perfeitamente com as necessidades dos data centers. Além de ser uma fonte limpa e contribuir para as metas de descarbonização das grandes empresas de tecnologia, ela também apresenta preços competitivos. “Os data centers operam 24 horas por dia, e as usinas eólicas, com sua produção constante, são ideais para atender essa demanda ininterrupta”, afirmou.
Hidrogênio Verde: O Próximo Passo da Transição Energética
Outro ponto crucial discutido no painel foi o potencial do hidrogênio verde. Segundo um estudo da McKinsey, o hidrogênio verde pode gerar uma demanda adicional de eletricidade de até 39 GW no Brasil até 2030, o que representa entre 10% e 20% da atual matriz energética do país. “Temos muito projeto, mas ainda pouco sendo posto em prática. O mercado de fertilizantes, por exemplo, tem grande potencial com a amônia verde”, explicou Thiago Rezende.
Atualmente, o Brasil importa 87% dos fertilizantes à base de amônia, mas com o avanço do hidrogênio verde, o país pode se tornar autossuficiente nessa área, o que beneficiaria tanto a economia quanto o meio ambiente.
Abertura do Mercado Livre de Energia: Um Impulso para o Setor
A abertura do mercado livre de energia no Brasil é outro fator que está impulsionando o crescimento da energia eólica. Em 2024, já foram registradas a migração de 8 mil unidades para o mercado livre até agosto, representando uma demanda de 1 GW médio. A expectativa é que esse número dobre até o final do ano. “Essa abertura gera mais dinamismo para a indústria eólica, criando oportunidades no curto prazo e ampliando a demanda”, ressaltou Gustavo Fagundes.
Com o mercado cada vez mais aberto à negociação direta entre consumidores e fornecedores de energia, a expectativa é que as fontes renováveis, como a eólica, ganhem ainda mais espaço, contribuindo para a descarbonização e para o fortalecimento do setor energético brasileiro.
O Futuro Promissor do Setor Eólico Brasileiro
Apesar dos desafios, o painel da Brazil WindPower concluiu com otimismo. O Brasil tem condições de liderar a transição energética, com o setor eólico desempenhando um papel fundamental. O potencial de crescimento é enorme, seja pela demanda dos data centers, pela expansão do hidrogênio verde ou pela abertura do mercado livre de energia. “Nossa visão de médio prazo permanece inalterada. O mercado brasileiro é muito competitivo e as demandas de hidrogênio verde e data centers se materializarão”, concluiu Fagundes.