Evento reúne especialistas para discutir caminhos para uma transição energética sustentável, com foco em descarbonização, equilíbrio de custos e inclusão social
O Museu do Amanhã, no Rio de Janeiro, foi palco do ENGIE Day, realizado na última quarta-feira (18), reunindo cerca de 400 pessoas presencialmente e contando com transmissão ao vivo pelo YouTube da ENGIE Brasil. O evento teve como foco central os desafios e oportunidades da transição energética no Brasil, destacando a importância da descarbonização, a redução dos custos da energia e a inclusão social no processo.
Na abertura, Mauricio Bähr, CEO da ENGIE Brasil, destacou o papel fundamental do Nordeste no cenário energético brasileiro, defendendo a ideia de que a região pode ser um polo de atração de novos investimentos industriais e eletrointensivos. “Temos no Brasil uma oportunidade única de contribuir para um planeta mais sustentável. Grande parte da nossa energia está localizada no Nordeste, uma região que precisa de mais investimentos. Em vez de investirmos cada vez mais em linhas de transmissão, por que não levar esses investimentos diretamente para lá? Podemos atrair data centers, equilibrando oferta e demanda de energia”, sugeriu Bähr.
O historiador Leandro Karnal deu início às discussões com uma palestra sobre o impacto das mudanças tecnológicas e da inteligência artificial na sociedade, destacando a importância da adaptação contínua. “O custo da sobrevivência é a renovação constante. Capacite-se, estude e busque estar sempre rodeado por pessoas melhores que você”, afirmou Karnal, ao abordar o medo generalizado diante das inovações tecnológicas.
Debate sobre o custo da energia e subsídios
Um dos principais temas do evento foi o custo da energia no Brasil, com o primeiro painel intitulado “A matriz energética que queremos”, onde foi discutida a importância de revisar os subsídios concedidos ao setor. Bähr comentou que o excesso de subsídios pode ser prejudicial: “Quando exageramos com o remédio, ele pode virar veneno”.
Camilla Fernandes, diretora da Associação Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Elétrica (Abrage), concordou e destacou a necessidade de revisar a política de subsídios. “Os consumidores mais ricos recebem 4,3 vezes mais recursos em subsídios para painéis solares do que os da tarifa social, voltada para as classes mais vulneráveis. Precisamos enfrentar isso no Congresso Nacional com ética e responsabilidade”, enfatizou.
Heloisa Borges, diretora da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), trouxe dados preocupantes sobre a desigualdade no consumo de energia no Brasil, revelando que 26% da energia consumida ainda provém de lenha catada, principalmente entre famílias de baixa renda. “Quando falamos de transição energética, a população precisa estar no centro desse debate”, ressaltou Borges.
André Clark, vice-presidente da Siemens Energy para a América Latina, reforçou a necessidade de equilibrar interesses sociais e econômicos: “O setor se afasta do interesse público quando os preços são altos. Precisamos pensar em uma política industrial que aproveite nossa matriz energética verde e tecnológica para oferecer energia para outros países”.
Mudanças climáticas e a descarbonização da indústria
O segundo painel focou nos desafios das mudanças climáticas e seus impactos no setor industrial. Juliana Falcão, da Confederação Nacional da Indústria (CNI), chamou a atenção para a necessidade de alinhar o desenvolvimento do país com os compromissos climáticos, citando o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e o Plano Clima como iniciativas que precisam caminhar juntas.
No âmbito empresarial, Guilherme Spaggiari, gerente de Energia e Fluidos da Ambev América Latina, compartilhou as iniciativas da companhia para descarbonizar suas operações. “O grande desafio é lidar com a descarbonização dos nossos fornecedores, mas estamos todos engajados nesse objetivo”, afirmou.
Flávia Teixeira, gerente de Sustentabilidade e Transição Energética da ENGIE Brasil, mediou o painel e destacou os esforços da empresa para descarbonizar seus clientes, com metas ambiciosas de redução de emissões de CO₂. “Estamos ajudando nossos clientes a contabilizar suas emissões, sistematicamente, desde o desenvolvimento de projetos”, explicou.
Suzana Kahn, diretora-geral da Coppe/UFRJ, complementou o debate afirmando que o Brasil já possui uma matriz energética majoritariamente limpa, mas que o desafio agora é descarbonizar outros setores, como o de óleo e gás.
Transição energética justa e inclusão social
O conceito de “transição energética justa” foi abordado no último painel do evento, que destacou a necessidade de garantir que a transição para fontes limpas e renováveis de energia seja inclusiva. Luciana Nabarrete, diretora de Pessoas, Processos e Sustentabilidade da ENGIE Brasil, destacou a urgência da transição energética diante das mudanças climáticas. “A questão não é mais se vamos fazer, mas como vamos fazer”, afirmou.
Kamila Camilo, do W20 Brasil, destacou a importância de incluir as comunidades nesse processo, enquanto Fernanda Sousa, da Cubos Academy, ressaltou a necessidade de diversidade e inclusão na formação de profissionais para o setor de tecnologia. Segundo ela, 44% das bolsas do programa Cubos Academy foram destinadas a mulheres, enquanto 40% foram para pessoas negras.
Gil Maranhão, diretor de Comunicação e Sustentabilidade da ENGIE, encerrou o evento com uma mensagem otimista: “Nosso objetivo com o ENGIE Day é educar e engajar as pessoas na transição energética. Se todos saírem daqui conhecendo um pouco mais sobre o tema, já estaremos no caminho certo”.