Consultoria destaca que medida pode ajudar a mitigar picos de consumo elétrico e aumentar a eficiência da matriz energética renovável no Brasil
Diante da crise hídrica que afeta o Brasil entre agosto e setembro de 2024, o Ministério de Minas e Energia estuda a possibilidade de reintroduzir o horário de verão como uma forma de aliviar a pressão sobre o sistema elétrico nacional. De acordo com a Thymos Energia, uma das principais consultorias especializadas no setor energético do país, a medida pode trazer importantes benefícios para a otimização da geração de energia, especialmente a partir de fontes renováveis, como solar e eólica.
A Thymos avalia que o adiantamento de uma hora nos relógios durante o horário de verão pode ter um impacto direto na mitigação da demanda de eletricidade nos horários de pico, que ocorrem principalmente entre as 19h e 22h, período em que o consumo residencial atinge seu ápice. Além disso, essa mudança também pode aumentar a confiabilidade do sistema elétrico, evitando sobrecargas e reduzindo a necessidade de acionar fontes térmicas mais caras e poluentes.
Crescimento da Energia Solar e o Papel do Horário de Verão
O cenário energético do Brasil em 2024 é marcado pela rápida expansão da geração de energia solar fotovoltaica. Segundo dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), essa fonte já representa 17,4% da matriz elétrica nacional, com uma capacidade instalada que ultrapassa os 40 gigawatts (GW), dos quais 3 GW foram adicionados apenas em 2024.
Mayra Guimarães, diretora de Regulação e Estudos de Mercado da Thymos Energia, defende que o retorno do horário de verão pode ser um instrumento estratégico para otimizar a utilização dessa energia renovável. “Como a geração solar é predominantemente diurna, a mudança no horário poderia ser benéfica para atender o pico de consumo durante o dia, que ocorre entre 13h e 17h. Além disso, ao adiantar o fim da tarde em uma hora, essa medida pode contribuir para estender a produção solar até mais perto do início do segundo pico de consumo, entre 19h e 22h, quando a demanda residencial aumenta significativamente com o retorno das pessoas para casa.”
A executiva acrescenta que o horário de verão não beneficiaria apenas a energia solar. A geração eólica, outra importante fonte renovável no Brasil, tende a apresentar melhor desempenho durante o início da noite, período em que o horário de verão poderia contribuir para um aproveitamento ainda mais eficiente dessa energia.
Uma Nova Visão para o Horário de Verão
Historicamente, o horário de verão foi adotado no Brasil como uma maneira de influenciar diretamente o consumo de energia, especialmente em tempos de escassez de recursos hídricos. A última vez que o país utilizou o regime foi em 2018, sendo descontinuado em 2019 devido à percepção de que seu impacto sobre o consumo havia diminuído. Naquele momento, a geração de energia solar ainda representava uma fração menor da matriz energética, o que tornava a influência da medida menos relevante.
No entanto, o cenário atual é completamente diferente. “Em 2019, a decisão de abolir o horário de verão foi influenciada pelo contexto de uma geração solar ainda incipiente. Hoje, a energia solar é uma das principais fontes da matriz elétrica, e o retorno dessa medida pode gerar um impacto positivo considerável na gestão do sistema”, explica Mayra Guimarães.
Benefícios Potenciais para o Sistema Elétrico
Além de ajudar a equilibrar a demanda durante os picos de consumo, o horário de verão poderia auxiliar na redução dos custos operacionais do sistema elétrico, uma vez que diminuiria a necessidade de acionamento de usinas térmicas, que são mais caras e têm maior impacto ambiental. Com o aumento do uso de fontes renováveis, como solar e eólica, o Brasil pode reduzir sua dependência de fontes fósseis, contribuindo para os objetivos de descarbonização e sustentabilidade energética.
A reintrodução do horário de verão seria, portanto, uma maneira de potencializar o uso das energias renováveis no Brasil, ajustando a oferta às necessidades de consumo da população e otimizando o uso de recursos energéticos limpos.