Evento reúne especialistas para discutir o potencial do biometano no estado de São Paulo, destacando rotas tecnológicas, financiamento de projetos e fortalecimento da cadeia produtiva
Na última quinta-feira, 5 de setembro, o auditório da InvestSP, agência de promoção de investimentos do estado de São Paulo, sediou um workshop crucial para o futuro da bioenergia no Brasil: o “Workshop sobre Biometano”. Organizado pela Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística (Semil), pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDE), com apoio da InvestSP, Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA) e Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), o evento trouxe à tona a discussão sobre o biometano como alternativa viável e sustentável para a mitigação dos gases de efeito estufa. Além disso, a descarbonização de setores industriais e de transportes foi amplamente debatida, ressaltando a importância do biometano como um biocombustível estratégico.
O biometano, um combustível renovável produzido a partir da purificação do biogás gerado pela biodigestão de resíduos orgânicos, aparece como uma solução energética que pode transformar o setor industrial e os sistemas de transporte no Brasil. Esse biocombustível é obtido a partir de resíduos de origem animal, urbana, agrícola e, em especial, dos subprodutos da cana-de-açúcar. Com o estado de São Paulo sendo o maior produtor de açúcar e etanol do país, o biometano representa uma oportunidade ímpar para fortalecer a cadeia produtiva e promover a transição energética na região.
Mapeamento de Potenciais e Subprodutos Prioritários
Durante o workshop, Paulo Saraiva, conselheiro do CEISE Br e CEO da PS7 Consultoria, apresentou um mapeamento detalhado dos potenciais pontos de geração de biometano no estado de São Paulo. O estudo identificou as melhores fontes de substratos para a produção desse biocombustível, destacando subprodutos da indústria canavieira, como a vinhaça e a torta de filtro, além de resíduos urbanos.
Saraiva frisou a relevância dessas matérias-primas para impulsionar o desenvolvimento do mercado de biometano, destacando as possibilidades de uso, como o abastecimento de veículos e a geração de energia elétrica e térmica. Ele alertou, no entanto, que, apesar das diversas oportunidades, é fundamental focar nas rotas com maior viabilidade de curto prazo para acelerar a implementação dos projetos.
“Neste momento, o foco deve estar nas rotas tecnológicas mais promissoras, priorizando aquelas que podem gerar impacto imediato na cadeia produtiva. A diversidade de resíduos e as várias possibilidades tecnológicas são fatores que jogam a favor do desenvolvimento desse setor”, afirmou Saraiva.
Conecta Biometano SP: Impulsionando o Desenvolvimento
Um dos destaques do workshop foi o lançamento da plataforma Conecta Biometano SP, criada para facilitar a conexão entre projetos relacionados ao biometano, desde sua produção até a regulação e logística. A plataforma tem como objetivo mapear iniciativas e ajudar na seleção de projetos prioritários, além de criar grupos de trabalho que atuarão diretamente no apoio ao desenvolvimento do mercado de biometano no estado de São Paulo.
O apoio institucional foi outro ponto abordado por Saraiva, que destacou a importância da coordenação entre os diversos órgãos do governo estadual e federal, como o Ministério da Agricultura, as secretarias de Desenvolvimento Econômico e de Meio Ambiente, além da própria InvestSP. Essa integração, segundo ele, cria um ambiente propício para a expansão dos projetos de biometano, atraindo novos investimentos e impulsionando a diversificação da matriz energética.
“O Estado está criando as condições ideais para o avanço de projetos de biometano. A colaboração entre governo, investidores e produtores é essencial para o sucesso desse setor. Com a plataforma Conecta Biometano SP e o apoio das instituições públicas, estamos no caminho certo para uma revolução energética sustentável”, ressaltou.
Modernização da Infraestrutura Industrial
O desenvolvimento da cadeia produtiva do biometano também depende da modernização da infraestrutura industrial, conforme discutido durante o evento. O CEISE Br, uma das principais entidades representando o setor bioenergético, enfatizou a necessidade de integração entre as empresas e os institutos de tecnologia, como o Senai e a Fatec. Essa colaboração visa preparar o setor para fabricar e manter os equipamentos necessários para as plantas de biometano.
De acordo com Saraiva, a produção nacional de máquinas e equipamentos será fundamental para atender às demandas da cadeia produtiva e garantir a competitividade do setor. “Precisamos modernizar nossa infraestrutura industrial para que ela esteja alinhada com os desafios do futuro. Esse é um passo essencial para garantir o sucesso dos projetos de biometano”, pontuou.
Financiamento e Viabilidade Econômica
Outro ponto crucial discutido no workshop foi o financiamento de projetos de biometano. Programas como o BNDES, o Fundo Clima e o Crédito de Descarbonização da Desenvolve-SP foram destacados como principais fontes de recursos para viabilizar os investimentos no setor. Essas iniciativas levam em consideração tanto os requisitos técnicos quanto a viabilidade econômico-financeira dos projetos, com especial atenção ao setor sucroenergético.
O financiamento é um fator determinante para o crescimento do setor, e os programas de apoio existentes podem ser a chave para acelerar a implementação dos projetos. Para os associados ao CEISE Br, empresas fornecedoras de máquinas, equipamentos e serviços, o cenário é promissor, uma vez que o biometano está sendo colocado no centro das discussões sobre o futuro energético do estado.
Perspectivas Futuras
Com uma abordagem integrada e o apoio de diferentes instituições públicas e privadas, o setor de biometano em São Paulo está pronto para dar um salto nos próximos anos. A transição energética no Brasil passa diretamente pelo desenvolvimento de novas tecnologias que promovam a descarbonização e o uso eficiente de recursos renováveis, e o biometano se destaca como um dos biocombustíveis mais promissores para cumprir esse papel.
Ao final do workshop, a mensagem foi clara: o desenvolvimento do mercado de biometano tem o potencial de transformar a indústria de base e a matriz energética brasileira, contribuindo significativamente para um futuro mais sustentável e menos dependente de combustíveis fósseis.
