Evento reuniu governo, associações e agentes do mercado para tratar dos desafios regulatórios da transição energética, descentralização da geração e segurança do Sistema Interligado Nacional
O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) realizou, no dia 5 de junho, o evento “Diálogo com o Setor”, parte da 2ª Semana Regulatória, em Brasília. Com o objetivo de discutir as transformações em curso no setor elétrico brasileiro, o encontro reuniu representantes de instituições públicas e privadas para tratar dos principais desafios regulatórios que afetam a operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) nos próximos anos.
O evento reforça o papel do ONS como articulador técnico e institucional em um momento de profundas mudanças no setor energético, marcado pela crescente penetração de fontes renováveis intermitentes, descentralização da geração, flexibilização da demanda e digitalização da infraestrutura elétrica.
“É essencial acompanhar de perto a evolução da agenda regulatória e manter um canal permanente de colaboração com os agentes do setor, principalmente nos temas mais sensíveis à operação do SIN”, destacou Marcio Rea, diretor-geral do ONS, na abertura do evento.
Uma agenda plural e estratégica
Com painéis que trataram de recursos energéticos distribuídos, acesso ao sistema de transmissão, serviços ancilares, armazenamento, resiliência, operação e precificação da energia, a programação contou com representantes do Ministério de Minas e Energia (MME), ANEEL, EPE, CCEE, PSR Consultoria e diversas associações do setor, como Abeeólica, Absolar, ABGD, ABRACE, ABRAGE e ABRADEE.
“Temos um sistema elétrico único no mundo, e nossas soluções também devem ser únicas. O futuro da operação exige respostas sistêmicas, integradas e ágeis”, afirmou Maurício de Souza, diretor de TI, Relacionamento com Agentes e Assuntos Regulatórios do ONS.
A diversidade de atores e visões foi um dos destaques da 2ª Semana Regulatória, consolidando o evento como espaço de diálogo técnico qualificado e cooperação institucional.
Curtailment, armazenamento e renováveis: o desafio da coordenação
Um dos temas mais debatidos foi o curtailment — a redução forçada da geração renovável por limitações operacionais ou excesso de oferta. Segundo Alexandre Zucarato, diretor de Planejamento do ONS, esse fenômeno reflete o novo paradigma operacional: um sistema cada vez menos baseado em fontes despacháveis e mais dependente de geração intermitente, como solar e eólica.
“Armazenamento é importante, mas não é solução isolada. A resposta está na integração de múltiplos recursos: baterias, demanda flexível, previsão avançada e redes inteligentes”, defendeu Zucarato.
Flexibilidade e inovação para uma matriz sustentável
No período da tarde, o painel sobre transição energética abordou a importância da flexibilidade operativa e do incentivo à inovação regulatória. A diretora de Assuntos Corporativos do ONS, Elisa Bastos, conduziu os debates com representantes de grandes consumidores e especialistas em tecnologias emergentes.
“As fontes não-hídricas são desafiadoras para a operação, mas também representam oportunidades de transformação e modernização do setor. O ONS está atento e participa ativamente da construção de soluções regulatórias inovadoras”, destacou Bastos.
O futuro da operação: inteligência, resiliência e colaboração
No painel de encerramento, Christiano Vieira, diretor de Operação do ONS, consolidou os principais pontos discutidos e apresentou a visão do Operador sobre o futuro da operação do SIN. Segundo ele, será necessário um salto tecnológico e institucional para lidar com a nova realidade do setor.
“Teremos que investir em modelos preditivos climáticos, redes digitais, controle em tempo real e sistemas de contingência robustos. A operação do futuro será mais distribuída, mais inteligente e mais resiliente. E isso exige colaboração entre todos os atores do setor”, afirmou Vieira.
A 2ª Semana Regulatória encerrou-se com a convicção de que os desafios da transição energética não são apenas técnicos, mas também regulatórios, operacionais e institucionais. O caminho para um sistema elétrico moderno, seguro e sustentável passa pela construção coletiva de soluções baseadas em evidências, diálogo e inovação.