Seminário do Ministério de Minas e Energia reúne especialistas nacionais e internacionais para discutir o papel estratégico das baterias na segurança energética e na transição para uma matriz mais limpa
O Ministério de Minas e Energia (MME) deu mais um passo decisivo para fortalecer a modernização do setor elétrico brasileiro ao promover, nesta quinta-feira (29), o seminário técnico “Avanços Globais sobre Armazenamento de Energia”.
O evento reuniu representantes do Governo Federal, órgãos reguladores, operadores do sistema e especialistas nacionais e internacionais para debater as tendências globais, os desafios regulatórios e as oportunidades de investimentos em sistemas de armazenamento de energia por baterias, os chamados BESS (Battery Energy Storage Systems).
Diante da crescente participação de fontes renováveis intermitentes, como solar e eólica, na matriz elétrica brasileira, o armazenamento de energia se consolida como peça fundamental para garantir a segurança, a estabilidade e a confiabilidade do sistema elétrico.
Brasil busca modelo regulatório para baterias
Na abertura do seminário, o secretário Nacional de Transição Energética e Planejamento do MME, Thiago Barral, destacou a importância de alinhar o Brasil às melhores práticas internacionais no uso de sistemas de armazenamento.
“É fundamental que o Brasil acompanhe os avanços globais e adapte sua regulação para criar um ambiente propício à expansão do armazenamento de energia. Estamos fazendo um grande trabalho coletivo de construção desse ambiente de mercado, regulação, operação e planejamento, para garantir que a tecnologia seja implementada de forma eficaz e segura”, afirmou Barral.
O secretário enfatizou que o desenvolvimento de regras claras e a definição do papel do armazenamento dentro do sistema elétrico são essenciais para destravar investimentos e acelerar a transição energética brasileira.
Experiências internacionais apontam caminhos
O seminário contou com apresentações de especialistas de destaque no cenário internacional, que trouxeram lições sobre como outros países estão estruturando seus mercados de armazenamento.
Lina Ramirez, do Consórcio Global de Transformação dos Sistemas de Energia (GPST), compartilhou cases internacionais que demonstram como sistemas de armazenamento em larga escala são fundamentais para sustentar redes com alta penetração de fontes renováveis.
Carlos Finat, do Coordenador Elétrico Nacional do Chile (CEN), apresentou a experiência chilena, um dos países latino-americanos que mais avançam na integração de baterias ao seu sistema elétrico. Finat destacou como o Chile conseguiu estruturar um modelo regulatório que viabiliza economicamente os projetos de BESS, especialmente em um cenário de forte expansão solar e eólica.
Sarah Howarth, do Department for Energy Security & Net Zero (DESNZ) do Reino Unido, complementou com a experiência britânica, onde o armazenamento já desempenha papel relevante na estabilidade do grid e na oferta de serviços ancilares.
Desafios técnicos e regulatórios no Brasil
No contexto brasileiro, o debate apontou desafios concretos para que os sistemas de armazenamento sejam efetivamente integrados ao sistema elétrico. Entre os temas destacados estão:
- Licenciamento ambiental adequado para projetos de armazenamento;
- Definição de requisitos técnicos para grid forming e contribuição para o desempenho dinâmico do sistema;
- Criação de regras que permitam a remuneração de serviços ancilares, como controle de frequência e estabilidade de tensão;
- Participação dos sistemas de armazenamento nos futuros leilões de reserva de capacidade, hoje em fase de desenvolvimento pela Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
Armazenamento é chave para a modernização do setor elétrico
Para o presidente da Associação Brasileira de Armazenamento de Energia (ABSAE), Markus Vlasits, o avanço da regulação será decisivo para destravar o potencial do setor no Brasil. Segundo ele, além de melhorar a segurança do sistema, as baterias oferecem flexibilidade operacional, permitem uma maior integração de energias renováveis e reduzem custos sistêmicos no médio e longo prazo.
Representantes do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), da ANEEL e da EPE reforçaram que o armazenamento será peça-chave na modernização do setor elétrico, sendo essencial não apenas como backup, mas como ativo dinâmico, capaz de prestar serviços sofisticados para a operação do sistema.
Próximos passos: acelerar a regulação e atrair investimentos
O evento foi marcado pela convergência entre governo, agentes privados e comunidade técnica de que o Brasil precisa acelerar a definição de um arcabouço regulatório específico para armazenamento de energia, a exemplo do que já acontece em mercados mais maduros.
Além disso, os desafios incluem ajustes nas regras de operação, na modelagem dos leilões de capacidade e na criação de mecanismos que valorizem os múltiplos serviços que as baterias podem prestar, desde o balanceamento do sistema até a estabilização de redes com alta variabilidade de geração.
O seminário reforça que o armazenamento não é apenas uma tendência, mas uma necessidade estratégica para garantir a segurança energética e a transição para uma matriz elétrica mais limpa, resiliente e sustentável no Brasil.