Documento técnico detalha alternativas para viabilizar o escoamento do combustível renovável, com foco na matriz energética brasileira e na indústria sucroenergética
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) apresentou, nesta quarta-feira (7), um estudo técnico estratégico durante a Offshore Technology Conference 2025 (OTC), em Houston, nos Estados Unidos, reforçando o papel do biometano como vetor relevante da transição energética brasileira. O artigo intitulado “Technical and Economic Assessment of Integrating Biomethane Production with the Natural Gas Supply Chain” analisa alternativas para o escoamento de biometano oriundo de resíduos da indústria sucroenergética, considerando a viabilidade técnica e econômica de sua conexão com a infraestrutura nacional de gás natural.
O estudo foi elaborado por especialistas da Superintendência de Petróleo e Gás Natural (SPG) da EPE, em coautoria com a Diretora de Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis, Heloisa Borges, responsável pela apresentação do trabalho na conferência.
O objetivo central da pesquisa é propor caminhos viáveis para integrar a produção descentralizada de biometano às redes existentes de transporte de gás, ampliando o aproveitamento da infraestrutura já implantada no país. A medida visa potencializar o uso de combustíveis renováveis e fortalecer a segurança energética nacional por meio da diversificação da matriz.
“A integração do biometano à cadeia do gás natural é um passo essencial para garantir a eficiência da transição energética no Brasil. Estamos propondo uma sinergia entre o novo e o existente: utilizar ativos da indústria de óleo e gás para viabilizar o crescimento de fontes renováveis”, explicou Heloisa Borges.
Estudo de caso: logística e viabilidade econômica
O artigo baseia-se em um estudo de caso detalhado, que analisa diferentes alternativas logísticas para o transporte de biometano — desde o uso de dutos já existentes até modais rodoviários — e seus respectivos impactos econômicos. A análise incorpora variáveis como distância da produção até os pontos de conexão, custos de compressão e descompressão, e a infraestrutura de suporte em diferentes regiões produtoras.
Além de avaliar o potencial técnico de cada solução, o estudo considera aspectos territoriais, ambientais e socioeconômicos, reconhecendo a importância da articulação com produtores locais, principalmente aqueles ligados à agroindústria da cana-de-açúcar, para o desenvolvimento de projetos sustentáveis e escaláveis.
“A escolha do modal logístico não é apenas uma questão de custo. Envolve planejamento territorial, alinhamento com políticas públicas e integração com agentes locais. É esse olhar sistêmico que a EPE tem buscado trazer ao debate energético”, destacou Marcelo Alfradique, superintendente adjunto da SPG.
Biometano como solução estratégica
O biometano, gás renovável obtido a partir do tratamento de resíduos orgânicos, tem se consolidado como alternativa de baixo carbono para substituir o gás natural fóssil em aplicações industriais, veiculares e domiciliares. Seu uso contribui não apenas para a descarbonização da matriz energética, mas também para o aproveitamento racional de resíduos da agroindústria, como a vinhaça e torta de filtro, que historicamente representam desafios ambientais.
Segundo dados da EPE, o Brasil tem potencial para produzir mais de 30 milhões de m³ de biometano por dia, o que representa cerca de 25% do consumo atual de gás natural no país. A integração dessa produção à infraestrutura existente é, portanto, um passo necessário para alavancar a competitividade do biometano e aumentar sua participação no mix energético nacional.