Demanda por equipamentos fotovoltaicos cresce 27% em 2024, impulsionada pela Geração Distribuída, mas desafios tributários podem afetar o setor
O mercado de energia solar no Brasil alcançou um novo patamar em 2024, registrando uma demanda recorde de 22 gigawatts-pico (GWp) em equipamentos fotovoltaicos. Esse avanço resultou em investimentos superiores a R$ 60 bilhões, um crescimento de 27% em relação a 2023, conforme apontado pelo Estudo Estratégico GD, da consultoria Greener.
Apesar do cenário desafiador, com variações no câmbio e mudanças na carga tributária, o setor manteve sua trajetória de expansão, puxado principalmente pela Geração Distribuída (GD), que representou 77% dos investimentos totais. O avanço das fazendas solares e o aumento da procura por microgeração residencial e comercial foram fatores determinantes para esse crescimento.
A Geração Centralizada, que compreende usinas de grande porte conectadas ao Sistema Interligado Nacional (SIN), respondeu por 23% dos investimentos. O estudo, que analisou o comportamento do mercado ao longo de 2024, teve como base entrevistas com quase 6 mil empresas integradoras em todo o país.
Queda no preço da energia solar impulsiona setor
Um dos fatores que mais contribuíram para o crescimento do mercado fotovoltaico foi a redução do custo da energia solar para o consumidor final, que caiu 9% entre janeiro de 2024 e janeiro de 2025. Esse movimento foi impulsionado pela queda de 13% nos preços dos equipamentos fotovoltaicos, resultado do barateamento dos módulos no mercado internacional.
Entretanto, o estudo também revela que esse benefício ao consumidor pode ser temporário. No segundo semestre de 2024, o preço dos equipamentos voltou a subir 3%, tendência que pode se intensificar ao longo de 2025 devido a mudanças na política tributária brasileira e à redução de incentivos fiscais na China, maior fornecedor global de módulos fotovoltaicos.
Para Márcio Takata, CEO da Greener, o aumento do imposto de importação no Brasil e a retirada dos subsídios chineses podem impactar diretamente os preços ao longo do ano. “A elevação dos custos de importação pode desacelerar o ritmo de crescimento do mercado, tornando a energia solar menos acessível para consumidores residenciais e pequenas empresas”, afirma.
Financiamento: um desafio crescente para consumidores e integradores
Outro dado relevante do levantamento da Greener é a redução da participação do financiamento na venda de sistemas fotovoltaicos. Em 2024, 46% das aquisições foram financiadas, uma queda de 7 pontos percentuais em relação a 2023.
A retração se deve ao aumento das taxas de juros, à maior restrição de crédito imposta pelos bancos e ao crescimento da inadimplência e de casos de fraude no setor. Com crédito mais caro e burocrático, muitos consumidores passaram a buscar alternativas, como consórcios e parcelamentos diretos com as empresas integradoras.
A tendência de restrição ao crédito pode representar um obstáculo à expansão do setor, especialmente para consumidores de baixa renda e pequenas empresas que dependem de financiamento para investir em energia solar.
Perspectivas para 2025: crescimento sob novas condições
Mesmo diante de desafios regulatórios e financeiros, a expectativa para 2025 ainda é otimista. O avanço das fazendas solares, a ampliação das linhas de financiamento voltadas para energias renováveis e a crescente demanda por soluções sustentáveis indicam que o mercado deve seguir em expansão.
O Brasil já ultrapassou 39 GWp de capacidade instalada em Geração Distribuída, consolidando-se como um dos principais mercados solares do mundo. No entanto, a necessidade de estabilidade tributária e incentivos governamentais será crucial para manter o ritmo de crescimento e garantir que a energia solar continue acessível para consumidores e empresas.
Diante desse cenário, o mercado fotovoltaico segue como uma das principais apostas para a transição energética e a descarbonização da matriz elétrica brasileira, reforçando sua importância tanto no aspecto econômico quanto ambiental.