Com menos de 1% das emissões globais, pequenas ilhas enfrentam impactos devastadores e buscam apoio internacional para garantir sobrevivência e sustentabilidade
Os Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) estão na linha de frente da crise climática global. Mesmo contribuindo com menos de 1% das emissões mundiais de gases de efeito estufa, essas nações enfrentam desastres naturais cada vez mais intensos, aumento do nível do mar e uma dependência financeira crítica de combustíveis fósseis e importações. Para eles, a transição para uma matriz energética baseada em fontes renováveis não é apenas uma questão de sustentabilidade — é uma questão de sobrevivência.
Com economias fortemente apoiadas em setores vulneráveis como pesca e turismo, os SIDS enfrentam uma realidade desafiadora: equilibrar o desenvolvimento econômico com a necessidade urgente de resiliência climática. No centro desse esforço está a Agência Internacional de Energia Renovável (IRENA), que participou recentemente do Fórum Global de Energia Sustentável para Todos (SEforALL), realizado em Barbados, destacando o papel crucial das parcerias internacionais para viabilizar a transformação energética das pequenas ilhas.
Transição energética como pilar de sobrevivência
A realidade dos SIDS é implacável: o impacto climático já ameaça sua infraestrutura, economia e até sua existência física. A vulnerabilidade dessas nações não está só na geografia, mas também na economia — cerca de 40% da renda desses estados é consumida por importações de combustíveis fósseis e alimentos. Diante desse cenário, muitos SIDS estabeleceram metas ousadas, com o compromisso de atingir 100% de energias renováveis em suas matrizes elétricas até 2030.
No entanto, alcançar essas metas exige mais do que ambição. É preciso financiamento climático, suporte técnico e, principalmente, colaboração internacional. Por meio da SIDS Lighthouses Initiative, a IRENA atua junto a essas nações para fortalecer suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) — metas climáticas apresentadas pelos países no Acordo de Paris — e garantir que o compromisso se traduza em ações concretas e duradouras.
O desafio do financiamento: uma disparidade urgente
O maior obstáculo para os SIDS não é a falta de vontade política ou de metas bem definidas — é a falta de recursos. O Sul Global, onde estão localizados muitos desses estados insulares, recebe apenas 10% do investimento global em transição energética, uma realidade que ameaça a viabilidade de uma mudança justa e equitativa.
Os prejuízos causados por eventos climáticos extremos aos SIDS somaram US$ 153 bilhões nos últimos 50 anos, mas os fluxos de investimento internacionais não acompanham essa necessidade. Em resposta, os ministros dos SIDS, reunidos durante o fórum, lançaram um Chamado à Ação para destravar o financiamento climático e aumentar o suporte técnico, apelando a parceiros de desenvolvimento para integrarem o SIDS AJETI (Aceleração de Investimentos em Transições Energéticas Justas e Equitativas).
A proposta busca aproveitar iniciativas já em andamento, como a Iniciativa Bridgetown, liderada pela primeira-ministra de Barbados, Mia Mottley, que defende a reforma da arquitetura financeira global para garantir acesso a recursos em condições mais favoráveis para países vulneráveis.
Planejamento energético: a base para atrair investimentos
Para romper a barreira do subfinanciamento, os SIDS precisam não só de capital, mas de estratégias sólidas que deem segurança aos investidores. Inspirada pelo exemplo do Brasil — onde planejamentos robustos impulsionaram investimentos em renováveis —, a Global Coalition for Energy Planning (GCEP) foi criada pelo G20, em outubro de 2024, com o objetivo de fortalecer a capacidade de planejamento energético dos países em desenvolvimento.
A IRENA, reconhecida por sua expertise em planejamento de energia, foi nomeada Secretaria da GCEP e atua para apoiar os SIDS na construção de estratégias bem coordenadas e transparentes. Como destacou Francesco La Camera, diretor-geral da agência, “processos de planejamento sólidos são a base para estratégias de investimento confiáveis, mitigação de riscos e atração de capital privado em escala”.
Modernizar a infraestrutura: o elo que falta para avançar
Mesmo com planejamento e financiamento, a transição energética dos SIDS esbarra em uma infraestrutura defasada. Redes elétricas ineficientes limitam a expansão das energias renováveis e comprometem a segurança energética. No Fórum, especialistas destacaram o exemplo de Barbados, que lidera uma iniciativa regional para interconectar redes caribenhas, promovendo maior estabilidade e facilitando a integração de fontes como a energia geotérmica.
A IRENA também se une ao Banco de Desenvolvimento do Caribe para fortalecer a Caribbean Regional Grid Interconnection and Renewable Energy Scaling, buscando expandir a conectividade regional e viabilizar a diversificação da matriz energética.
Energia renovável como motor de prosperidade econômica
Mais do que garantir resiliência climática, a transição energética tem potencial para transformar a economia dos SIDS. A análise da IRENA aponta que, até 2030, a expansão das renováveis pode gerar 30 milhões de novos empregos globalmente.
O Fórum SEforALL reforçou que a energia sustentável é uma alavanca para reduzir a pobreza energética, ampliar a prosperidade econômica e criar cadeias de suprimentos mais diversificadas e inclusivas. Para os SIDS, acelerar a transição energética não é só uma estratégia climática — é um caminho para garantir crescimento econômico e um futuro mais resiliente para suas populações.