ONS aponta níveis de energia natural afluente inferiores à Média de Longo Termo em todas as regiões, com destaque para o Nordeste, que registra apenas 24%.
O setor elétrico brasileiro se depara com um novo desafio: as projeções de Energia Natural Afluente (ENA) — volume de água que chega aos reservatórios das hidrelétricas — indicam níveis abaixo da média histórica em todas as regiões do país para o mês de março. De acordo com o boletim do Programa Mensal da Operação (PMO), divulgado pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), a situação mais crítica se concentra no Nordeste, onde a expectativa é de apenas 24% da Média de Longo Termo (MLT).
O Norte desponta como a região com o índice mais elevado, atingindo 98% da MLT, mas ainda assim sem alcançar a média histórica. O Sudeste/Centro-Oeste, responsável por boa parte da geração hidrelétrica nacional, deve encerrar o mês com 56% da MLT, enquanto o Sul apresenta o cenário mais delicado entre os subsistemas do centro-sul do país, com 45% da MLT.
Esse panorama sugere uma possível antecipação do período seco, uma preocupação para o setor elétrico que depende da gestão equilibrada dos reservatórios para garantir o fornecimento de energia.
Reservatórios seguem estáveis, mas alerta permanece
Mesmo com a perspectiva de afluência reduzida, o ONS assegura que o país está em uma posição favorável para garantir a demanda energética nos próximos meses. Os níveis de Energia Armazenada (EAR) — que refletem o volume de água disponível nos reservatórios — permanecem estáveis, com três dos quatro subsistemas projetando percentuais acima de 60% ao final de março.
O Norte lidera, com 95,8%, seguido pelo Nordeste (77,6%) e pelo Sudeste/Centro-Oeste (67,5%). A situação mais preocupante fica novamente no Sul, com uma previsão de 36,7%, reforçando a necessidade de monitoramento contínuo da região.
Segundo Marcio Rea, diretor-geral do ONS, a operação do sistema está sendo ajustada para proteger os recursos hídricos e manter a segurança energética.
“As perspectivas para os próximos meses são de pleno atendimento às demandas do país. Estamos com os reservatórios em condições positivas e a política operativa tem buscado preservar os recursos hídricos. As condições de afluência, com uma provável antecipação do período seco, estão sendo acompanhadas com atenção”, destacou o executivo.
Crescimento da demanda de carga supera projeções
Mesmo diante do cenário hidrológico menos favorável, o setor elétrico se prepara para acompanhar uma expansão significativa da demanda de carga em todo o Sistema Interligado Nacional (SIN). As projeções apontam para um crescimento de 4,2% na carga total, alcançando 86.994 MWmed — uma aceleração superior à prevista anteriormente.
A região Sul lidera o aumento, com uma alta de 7,8% (15.831 MWmed), seguida pelo Norte, com 5,4% (7.796 MWmed). O Sudeste/Centro-Oeste, maior mercado consumidor do país, acompanha com 3,6% (49.490 MWmed), enquanto o Nordeste apresenta o crescimento mais modesto, de 1,9% (13.878 MWmed).
O avanço da carga reflete tanto o aumento do consumo residencial — impulsionado pelas altas temperaturas — quanto a recuperação da atividade econômica em diferentes setores produtivos.
Custo Marginal de Operação permanece elevado no Sul e Sudeste
Outro ponto de atenção no relatório do ONS é o Custo Marginal de Operação (CMO), indicador que reflete o custo para gerar a próxima unidade de energia e equilibra a produção entre fontes hidrelétricas, térmicas e renováveis.
Nas regiões Norte e Nordeste, o CMO segue zerado, o que demonstra uma situação confortável de oferta frente à demanda. Por outro lado, no Sudeste/Centro-Oeste e Sul, o valor está em R$ 397,17/MWh, mantendo o patamar das semanas anteriores — reflexo da queda na afluência e da necessidade de acionar fontes de energia mais caras para preservar os reservatórios.
Esse cenário reforça a importância da diversificação da matriz elétrica nacional, com expansão das fontes renováveis, como eólica e solar, e a ampliação das linhas de transmissão para interligar as regiões com maior sobra de energia às que enfrentam maior escassez.
O Brasil se encontra, mais uma vez, diante do desafio de equilibrar segurança energética e preservação dos recursos hídricos. O monitoramento contínuo e o planejamento estratégico serão determinantes para atravessar o período seco sem comprometer a estabilidade do sistema.