Por Márcio Sant’Anna, sócio fundador e Co-CEO da Ecom
Este foi o primeiro ano de vigência da abertura do Mercado Livre de Energia para consumidores do chamado grupo A, de média e alta tensão. Esses consumidores passaram a ter a opção, antes restrita às grandes indústrias, de escolher seu próprio fornecedor, o tipo de fonte da qual querem adquirir energia e negociar preços e prazos. Essa liberdade de escolha coloca o consumidor no centro do negócio, gera mais competitividade e promove a modernização do setor, resultando em uma energia mais barata.
Os números refletem esse movimento. De janeiro a outubro, 20.973 clientes de distribuidoras migraram para o mercado livre de energia, segundo levantamento da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica – CCEE . Esse total de migrações é quase três vezes maior do que o verificado em todo o ano de 2023, quando 7.397 novos consumidores aderiram a esse mercado.
Como CEO da Ecom tenho observado atentamente as transformações que ocorrem no setor elétrico brasileiro. A abertura gradual do mercado de energia não apenas reflete mudanças regulatórias, mas também um crescente interesse dos consumidores em escolher seus fornecedores de energia. Neste ano, testemunhamos uma evolução expressiva nesse segmento, que é apenas uma amostra do potencial volume de adesões esperadas para o futuro.
Os estados do Sudeste e do Sul lideram o ranking de migrações. São Paulo registrou 6.847 migrações, seguido pelo Rio Grande do Sul com 2.131, Rio de Janeiro com 1.709, Paraná com 1.588 e Minas Gerais com 1.381. Entre os ramos de atividade, os setores de comércio e serviços lideram o número de clientes, concentrando quase 50% do total de migrações, seguidos por manufaturados e indústria alimentícia.
A expectativa de abertura do mercado livre de energia para todos os consumidores no médio prazo, sinalizada pelo governo federal, torna urgente o debate sobre o aperfeiçoamento regulatório e tecnológico do setor elétrico brasileiro. Um dos aspectos a ser considerado é o desenvolvimento de tecnologias que permitam a compilação de dados de consumo de unidades distintas com rapidez e em grande escala.
Experiências internacionais nos mostram caminhos possíveis. Países como Alemanha e Reino Unido implementaram com sucesso a atividade de agregação de medição. Nesses países, o desenho regulatório foi aperfeiçoado para incorporar essa solução, e os medidores de energia reúnem informações do consumidor que são utilizadas tanto pelo operador para calibrar o funcionamento do sistema elétrico quanto para a contabilização e liquidação das operações comerciais.
No Brasil, a regulação já deu passos importantes ao definir a CCEE como a figura que deverá centralizar esses dados a serem transmitidos oficialmente pelas distribuidoras de energia. No entanto, o grande desafio é garantir a compilação de dados de consumo de unidades tão distintas em um cenário onde o número de clientes varejistas livres pode ampliar substancialmente.
A inovação e a tecnologia serão nossas aliadas nessa jornada. O desenvolvimento de softwares específicos para gerenciar o processo de agregação de medição com agilidade e confiabilidade será fundamental para a abertura total do mercado. A utilização de instrumentos tecnológicos como os agregadores simplificaria a adesão de novos entrantes, sem a necessidade de estruturas complexas, e agilizaria a gestão de energia de carteiras de clientes pelas comercializadoras varejistas.
Além disso, os consumidores teriam mais opções e maior controle de seus custos energéticos. O setor, por sua vez, ganharia em competitividade, eficiência e sustentabilidade, especialmente no cumprimento de metas #ESG (Environmental, Social and Governance). A implementação dessas soluções tecnológicas não apenas facilitaria a abertura do mercado de eletricidade, mas também tornaria o processo mais eficiente e acessível a todos. É um passo essencial para garantir que a transição seja suave e benéfica para todos os envolvidos.
A abertura do mercado livre de energia no Brasil representa uma oportunidade única para modernizar o setor elétrico, tornando-o mais competitivo e alinhado às necessidades dos consumidores. No entanto, para que essa transição seja bem-sucedida, é necessário enfrentarmos os desafios regulatórios e tecnológicos que se apresentam. Como empresa, estamos comprometidos em contribuir para esse processo, buscando soluções inovadoras e trabalhando em parceria com todos os agentes do setor. Acreditamos que, com planejamento e investimento em tecnologia, podemos transformar esses desafios em oportunidades, construindo um setor elétrico mais eficiente, sustentável e orientado para o futuro.
O caminho é longo, mas os primeiros passos já foram dados. Agora, é hora de continuarmos avançando, juntos, rumo a um mercado de energia mais aberto e democrático, onde o consumidor é o protagonista.