Acordo entre os países permitirá maior produção de energia e benefícios ambientais para a região amazônica
A segurança energética do Brasil e Bolívia recebeu um impulso significativo com a implementação de uma nova medida de operação da UHE Jirau, localizada no rio Madeira, em Rondônia. Um Memorando de Entendimento, assinado entre os governos dos dois países em julho de 2024, autoriza a usina a operar com uma cota fixa de 90 metros durante todo o ano, inclusive no período de estiagem, o que representa uma mudança estratégica importante na gestão hídrica e de geração de energia.
Projetada inicialmente para operar com uma cota de água variável, ajustada conforme a sazonalidade hídrica da região, a Usina Jirau agora poderá manter a operação em cota fixa, independentemente das condições climáticas sazonais. Com essa nova dinâmica de operação, as turbinas da usina podem ser otimizadas, resultando em um aumento significativo da geração de energia. Estima-se que essa mudança possa elevar a produção em até 250 MW-médios, garantindo maior suprimento de energia elétrica para regiões do Acre e Rondônia, que tradicionalmente dependem da produção local para assegurar estabilidade no fornecimento.
Acordo fortalece cooperação Brasil-Bolívia
O acordo, que envolve uma integração energética sem precedentes entre Brasil e Bolívia, representa um avanço estratégico tanto para o setor elétrico quanto para a relação bilateral entre os países. Um dos principais benefícios para a Bolívia será o acesso a uma fonte de energia mais limpa e sustentável. Hoje, a região norte do país, localizada a aproximadamente 400 km da Usina Jirau, é majoritariamente abastecida por termelétricas movidas a diesel. Esse tipo de geração possui altos custos operacionais e um impacto ambiental significativo devido à queima de combustíveis fósseis. Com o novo acordo, essa região passará a receber parte da energia gerada pela hidrelétrica brasileira, o que não apenas reduzirá os custos, mas também contribuirá para uma matriz energética mais sustentável e menos poluente.
Segundo Edson Silva, diretor-presidente da Jirau Energia, a colaboração entre os dois países traz benefícios substanciais para ambos. “Esse marco histórico entre Brasil e Bolívia reforça a integração energética na América do Sul e promove o uso de recursos hídricos de maneira eficiente e sustentável. Além dos ganhos energéticos, essa operação trará impactos positivos no transporte fluvial e na mitigação dos efeitos da seca, que afetam comunidades locais e a biodiversidade da região amazônica”, destacou Silva.
Benefícios para a navegação e para as comunidades locais
Além dos benefícios diretos na geração de energia, a nova operação em cota fixa também impacta positivamente a navegação no rio Madeira. Durante períodos de seca severa, a navegação fluvial na região costuma ser prejudicada, com impactos sobre o transporte de mercadorias e a movimentação de pessoas. Com a manutenção da cota em 90 metros, mesmo nos meses de menor volume hídrico, será possível garantir melhores condições para a navegação, facilitando o tráfego de embarcações.
A operação contínua na nova cota também trará ganhos econômicos para as comunidades que vivem na área de influência da hidrelétrica. A arrecadação de Compensação Financeira pela Utilização de Recursos Hídricos (CFURH), que é distribuída entre o município de Porto Velho, o estado de Rondônia e a União, deverá aumentar com o incremento da produção de energia. Isso significa mais recursos disponíveis para investimentos em infraestrutura, saúde e educação nas comunidades locais, além de contribuir para o desenvolvimento regional.
Outro ponto importante é que a Bolívia, além de se beneficiar diretamente da energia gerada por Jirau, também será compensada financeiramente pela energia adicional produzida. Esse acordo, portanto, cria uma situação vantajosa para ambos os lados, fortalecendo ainda mais a parceria entre os dois países.
Transição energética e os desafios na Amazônia
O novo modelo de operação da Usina Jirau alinha-se com o compromisso do Brasil e Bolívia em promover uma transição energética mais limpa e sustentável, especialmente na região amazônica, onde a preservação ambiental é uma questão crítica. O aumento da geração de energia hidrelétrica, uma fonte renovável e de baixo impacto em comparação com fontes fósseis, é um passo importante nesse processo.
Além disso, a medida é vista como um exemplo de integração energética que pode ser expandido para outras regiões da América do Sul, conforme enfatizou Edson Silva. “Esse acordo pode servir como modelo para futuros projetos de cooperação energética regional. A Amazônia é uma área chave para o desenvolvimento de iniciativas que combinem geração de energia sustentável com preservação ambiental e benefícios socioeconômicos para as populações locais”, afirmou.
A operação da Usina Jirau em cota 90 metros demonstra que, mesmo diante de desafios hídricos e ambientais, é possível conciliar a produção de energia com o desenvolvimento regional e a proteção dos recursos naturais. A medida também reitera o compromisso do Brasil em liderar iniciativas sustentáveis no setor energético, fortalecendo a segurança energética e promovendo o uso responsável de seus recursos hídricos.