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Hidrelétrica de R$ 10 bilhões em Roraima reacende debate sobre desenvolvimento, impacto ambiental e energia limpa

Hidrelétrica de R$ 10 bilhões em Roraima reacende debate sobre desenvolvimento, impacto ambiental e energia limpa

Projeto da usina Bem-Querer, apresentado pelo governo federal, promete garantir segurança energética à região Norte, gerar empregos e reduzir emissões, mas levanta preocupações sobre impactos sociais e ambientais

Em um movimento estratégico para fortalecer a segurança energética da Região Norte, o governo federal apresentou o projeto atualizado da Usina Hidrelétrica de Bem-Querer, empreendimento que será construído no rio Branco, no município de Caracaraí, em Roraima. Com investimento estimado em R$ 10 bilhões, o projeto equivale ao orçamento anual do Estado e promete inaugurar uma nova fase na matriz energética da região, ainda dependente de fontes termelétricas poluentes e caras.

A apresentação do projeto foi realizada nesta quinta-feira (3), na sede da Itaipu Binacional, em Foz do Iguaçu (PR), durante reunião da Comissão de Minas e Energia da Câmara dos Deputados. O evento contou com a participação de parlamentares, representantes do Ministério de Minas e Energia (MME), especialistas do setor elétrico e membros do governo federal.

Com 650 megawatts (MW) de potência instalada, Bem-Querer terá capacidade para atender quase três vezes a demanda energética de Roraima, o único estado brasileiro ainda fora do Sistema Interligado Nacional (SIN). Além de suprir o consumo interno, a usina beneficiará o subsistema que abastece Boa Vista e Manaus, e funcionará como complemento estratégico ao Linhão de Tucuruí, cuja conclusão está prevista ainda para este ano.

Desenvolvimento regional e geração de empregos

O projeto, segundo o MME, deverá gerar até 5 mil empregos diretos e indiretos durante a fase de construção, além de estimular o desenvolvimento econômico da região, atraindo novos investimentos e promovendo maior integração energética com o restante do país.

Outro argumento favorável à implantação da usina é a redução da emissão de gases poluentes, atualmente agravada pelo uso de termelétricas movidas a óleo diesel em Roraima. A expectativa do governo é de que Bem-Querer seja uma fonte limpa e renovável, alinhada com os compromissos internacionais do Brasil em relação às metas climáticas.

Impactos socioambientais sob análise

Apesar dos potenciais benefícios, o projeto levanta preocupações significativas em relação aos impactos ambientais e sociais. A área do reservatório terá aproximadamente 640 quilômetros quadrados, o que afetará diretamente cerca de 11,8 mil moradores de municípios como Boa Vista, Alto Alegre, Cantá, Caracaraí, Iracema e Mucajaí — com destaque para as comunidades rurais.

Embora o governo tenha afirmado que nenhuma terra indígena nem unidade de conservação será alagada, há registros de proximidade com áreas sensíveis, o que exige atenção redobrada por parte dos órgãos responsáveis.

A Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai) ainda não autorizou a execução do Estudo do Componente Indígena, etapa fundamental para avaliação dos efeitos do empreendimento nas comunidades tradicionais. Segundo a presidente da Funai, Joenia Wapichana, a situação emergencial na Terra Indígena Yanomami tem impedido o avanço do diálogo e da apresentação do plano de trabalho.

Trâmites legais e estudos prévios

Até o momento, o projeto já obteve pareceres positivos do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e da Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde. O Estudo de Impacto Ambiental (EIA) foi entregue em outubro de 2024 e serve como base para as próximas etapas de licenciamento.

A compensação financeira aos entes federativos está prevista em R$ 20 milhões anuais, valor que poderá ser destinado a investimentos em infraestrutura, saúde e educação nas áreas impactadas.

Reações políticas e posicionamentos locais

Durante o encontro em Foz do Iguaçu, o deputado federal Gabriel Mota (Republicanos-RR) — único representante do estado presente — manifestou apoio cauteloso ao projeto, ressaltando a importância de se avaliar todos os impactos. “É uma obra grandiosa. Precisamos analisar todas as partes. Se for bom para Roraima, vamos apoiar a ideia”, afirmou o parlamentar.

Com a expectativa de ser um dos maiores investimentos em infraestrutura energética da região Norte, a hidrelétrica Bem-Querer marca um novo capítulo no debate entre desenvolvimento e conservação ambiental, exigindo equilíbrio, transparência e participação social em todas as etapas de sua implantação.

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