Miguel Fernández defende criação de plataforma para monitorar manutenção elétrica e mitigar riscos de falta de energia no estado
O presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Rio de Janeiro (Crea-RJ), Miguel Fernández, propôs uma iniciativa que pode ajudar a prevenir apagões na rede elétrica do estado, como o ocorrido recentemente em São Paulo. O engenheiro está em busca de uma parceria com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) para desenvolver uma plataforma de monitoramento que permitirá acompanhar, em tempo real, as operações de manutenção do sistema de fornecimento elétrico no Rio de Janeiro. A proposta inclui um inventário detalhado de equipamentos e serviços realizados pelas concessionárias, para garantir maior segurança e confiabilidade na rede.
A proposta surge em um cenário de preocupação crescente com a vulnerabilidade do sistema elétrico em regiões metropolitanas, após o apagão em São Paulo, que deixou várias áreas da capital e outras cidades sem energia por mais de uma semana. Fernández alertou que um evento semelhante pode acontecer no Rio de Janeiro, especialmente devido às condições climáticas extremas e à sobrecarga dos sistemas de transmissão.
“A Enel, concessionária responsável pelo fornecimento de energia em São Paulo, também opera em dois terços dos municípios do estado do Rio. Embora o clima extremo tenha sido um fator determinante para o apagão, a engenharia é justamente o que pode mitigar essas consequências”, destacou o presidente do Crea-RJ, reforçando a necessidade de uma abordagem proativa na manutenção do sistema.
Plataforma de Monitoramento
Fernández explicou que a proposta de parceria com a Aneel visa criar uma plataforma digital de monitoramento, que permitirá às autoridades e concessionárias acompanhar de forma mais eficiente a manutenção da infraestrutura elétrica. A plataforma incluirá um inventário georreferenciado dos equipamentos e serviços, permitindo um controle rigoroso das operações.
“É necessário saber exatamente o estado de cada equipamento, desde o ano de instalação até os serviços de manutenção realizados. Ter um histórico detalhado ajuda a identificar o melhor momento para substituições e reformas”, afirmou. Segundo Fernández, o monitoramento contínuo também permitirá que os tomadores de decisão intervenham de forma mais ágil e precisa, evitando falhas sistêmicas que possam causar interrupções no fornecimento de energia.
A criação dessa plataforma, no entanto, enfrenta um obstáculo inicial: enquanto o Crea-RJ é um órgão regional, a Aneel tem abrangência nacional. Mesmo assim, Fernández garantiu que o Crea já está tomando medidas para contatar as concessionárias que operam no estado, para garantir que o sistema de fiscalização seja reforçado.
Prevenção de Apagões
O apagão em São Paulo levantou preocupações sobre a resiliência do sistema elétrico brasileiro, especialmente em grandes centros urbanos. Embora muitos desses problemas sejam causados por eventos climáticos extremos, Miguel Fernández acredita que a engenharia de manutenção desempenha um papel crucial na prevenção desses incidentes.
“A manutenção preventiva e a construção de sistemas que garantam redundância no fornecimento de energia são essenciais para evitar apagões. Precisamos garantir que as empresas responsáveis pela infraestrutura elétrica estejam realizando a manutenção de forma adequada e com profissionais habilitados”, afirmou. Ele lembrou que, recentemente, a cidade do Rio de Janeiro enfrentou interrupções no fornecimento de energia, como ocorreu na Ilha do Governador, e destacou a importância de manter um controle rigoroso sobre essas operações.
Desafios da Engenharia Elétrica
Fernández também ressaltou a necessidade de debater a vida útil dos equipamentos e a importância de um planejamento mais robusto para substituição de componentes obsoletos. “Muitas vezes, não entendemos que equipamentos eletroeletrônicos têm uma vida útil limitada. Não basta fazer manutenção; chega um momento em que a única solução é substituir o equipamento”, afirmou.
Ele explicou que o desgaste natural dos equipamentos, somado ao avanço da tecnologia, significa que o planejamento deve incluir não apenas a manutenção, mas também a atualização dos sistemas. Esse tipo de debate, de acordo com Fernández, é muitas vezes negligenciado nas concessões, o que aumenta a vulnerabilidade da rede.
Outro ponto importante levantado pelo presidente do Crea-RJ é o uso de redes de transmissão de energia subterrâneas. Atualmente, apenas 11% da cidade do Rio de Janeiro possui esse tipo de infraestrutura, que oferece maior segurança e confiabilidade. “A rede subterrânea é indiscutivelmente melhor, mas o maior problema de falta de energia em grandes cidades geralmente está relacionado à engenharia de manutenção, e não a questões como queda de árvores”, ressaltou.