Empresas do setor buscam iniciativas inovadoras para enfrentar a mudança climática e reduzir emissões sem perder competitividade, apostando no biometano, tecnologias de captura de carbono e energias renováveis
A crise climática já é uma realidade que impacta diretamente o meio ambiente, a economia e a vida das pessoas. As consequências negativas são visíveis, e o apelo por práticas mais sustentáveis cresce tanto entre consumidores quanto no mercado. No centro desse cenário, a indústria – grande consumidora de energia e responsável por parte significativa das emissões globais de gases de efeito estufa – enfrenta o desafio de conciliar sustentabilidade com competitividade. Grandes players do setor, como Petrobras, Braskem e Veolia, estão se movendo para acelerar soluções que não apenas mitiguem suas pegadas de carbono, mas que também ofereçam eficiência econômica e resultados palpáveis.
Em um contexto de insegurança hídrica, alimentar e energética, as indústrias sabem que precisam se adaptar para garantir uma produção sustentável e alinhada aos objetivos de descarbonização. Mas como fazer isso de forma prática e eficaz? A resposta passa pela inovação, por parcerias estratégicas e pela implementação de novas tecnologias que possam reduzir emissões e promover a economia circular.
O papel estratégico da Veolia na transformação ecológica
Com uma abordagem holística e multifacetada, a Veolia Brasil tem sido uma das empresas de destaque na liderança dessa transformação. Segundo Pedro Prádanos, CEO da companhia, a Veolia enxerga seu papel como parte fundamental na transformação ecológica, ao lado de comunidades, governos e outros setores. A empresa implementou um plano estratégico voltado para descarbonização, despoluição e regeneração de recursos naturais.
“Nosso objetivo é alcançar o Net Zero em 2050, mas não paramos por aí. Até 2027, temos a meta de ajudar a indústria a reduzir 18 milhões de toneladas de CO2 por ano em seus processos produtivos”, destaca José Renato Bruzadin, Diretor de Desenvolvimento de Negócios Industriais e Energia da Veolia Brasil. Ele acrescenta que o compromisso da Veolia vai além da redução de emissões, incluindo também o tratamento de mais de 10 milhões de toneladas de resíduos perigosos e a regeneração de mais de 1,5 bilhão de metros cúbicos de água doce a cada ano.
A Veolia se posiciona como parceira estratégica para indústrias que buscam reduzir sua pegada de carbono sem abrir mão da competitividade. E uma das rotas promissoras para isso é o biometano.
Biometano: um combustível chave para descarbonizar a indústria
Com o Brasil ostentando uma matriz energética composta por quase 90% de fontes renováveis, a transição para energias mais limpas parece mais acessível. Nesse cenário, o biometano, derivado do biogás, surge como uma das grandes apostas para descarbonizar processos industriais.
Talyta Viana, coordenadora técnico-regulatória da Associação Brasileira do Biogás (ABiogás), destaca o potencial do biometano. Hoje, existem seis plantas de biometano em operação no país, com outras 25 em processo de autorização. Até 2029, a expectativa é que a produção alcance 7 milhões de metros cúbicos por dia, o equivalente a 10% da demanda média de gás natural no Brasil. “O biometano transforma um passivo ambiental em ativo econômico, oferecendo uma solução para o descarte inadequado de resíduos e gerando energia limpa”, afirma.
A Braskem é uma das empresas que aposta no biometano como parte de sua estratégia de descarbonização. Segundo Gabriela Cravo, responsável global pela área de descarbonização industrial na Braskem, a empresa já investe em contratos de energia renovável e está desenvolvendo projetos de biomassa em parceria com a Veolia. No entanto, ela reconhece que o biometano ainda enfrenta desafios regulatórios e de competitividade, que precisam ser superados para seu pleno aproveitamento.
Petrobras e a diversificação de seu portfólio
A Petrobras, gigante do setor de óleo e gás, também está focada em ampliar suas iniciativas de descarbonização, diversificando seu portfólio e investindo em novas frentes. A empresa anunciou que vai investir US$ 11,5 bilhões nos próximos cinco anos, focando em projetos que incluem tecnologias de captura e armazenamento de carbono (CCUS) – uma abordagem que captura o CO2 gerado nas operações industriais e o armazena de forma segura, evitando sua liberação na atmosfera.
Raquel Coutinho, gerente de descarbonização de portfólio da Petrobras, ressalta que a empresa está em discussões com parceiros interessados em desenvolver projetos de CCUS, além de continuar seus esforços de diversificação para além do petróleo e gás. “Vemos o ambiente regulatório evoluindo de forma positiva para o desenvolvimento dessas tecnologias, que são fundamentais para a transição energética”, afirma Coutinho.
Colaboração é chave para o futuro
Para que a indústria seja capaz de superar os desafios de descarbonização, é essencial promover uma ampla colaboração entre empresas, governos, academia e a sociedade. Nelson Pereira dos Reis, diretor do Departamento de Desenvolvimento Sustentável da Fiesp, reforça que a federação tem trabalhado com grupos multidisciplinares para destravar agendas e propor soluções objetivas. “Nosso foco é desenvolver ações práticas que ajudem a indústria a caminhar nessa jornada de maneira eficiente e competitiva”, explica.
O Encontro das Indústrias 4.Eco, organizado pela Veolia em parceria com a Fiesp, destacou a importância de liderança e inovação nesse processo. A transição energética é uma oportunidade que vai além da sustentabilidade: é também uma chance de construir um futuro mais competitivo para a indústria brasileira.