Cobrança extra reflete baixa afluência nos reservatórios e elevação do preço da energia no mercado
A Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) anunciou, nesta sexta-feira (27/9), que a bandeira tarifária para o mês de outubro será vermelha, no patamar 2, o mais elevado. A partir de 1º de outubro, os consumidores de energia elétrica conectados ao Sistema Interligado Nacional (SIN) pagarão um valor adicional de R$ 7,877 para cada 100 quilowatts-hora (kWh) consumidos.
Esse acréscimo na tarifa é resultado da combinação de fatores como o risco hidrológico (GSF) e o aumento do Preço de Liquidação das Diferenças (PLD), fortemente influenciados pela baixa afluência prevista para os reservatórios das principais hidrelétricas do país. A escassez de chuvas nas regiões Sudeste, Centro-Oeste, Norte e Nordeste, associada à demanda crescente por energia, pressiona o sistema elétrico, levando ao acionamento de usinas termelétricas, que possuem custo de geração mais elevado.
O mês de outubro marca a interrupção de um período mais estável no sistema de bandeiras tarifárias. Após uma sequência de bandeiras verdes que começou em abril de 2022 e foi mantida até junho de 2024, a situação começou a mudar em julho deste ano, quando a bandeira amarela foi acionada. Em agosto, voltou-se à bandeira verde, mas, em setembro, houve a necessidade de aplicar a bandeira vermelha, patamar 1. Agora, com a previsão de condições hidrológicas adversas, a ANEEL optou pelo patamar 2 da bandeira vermelha para o próximo mês, refletindo um cenário de pressão adicional sobre os custos da geração de energia no Brasil.
Sistema de bandeiras tarifárias: sinal de alerta para os consumidores
O sistema de bandeiras tarifárias foi implementado pela ANEEL em 2015 como uma maneira de repassar, de forma transparente, os custos variáveis da geração de energia elétrica para o consumidor. Ao indicar a cor da bandeira tarifária vigente (verde, amarela ou vermelha, que pode ter dois patamares), o sistema informa se a energia está sendo produzida em condições favoráveis ou se há necessidade de uso de fontes de geração mais caras, como as termelétricas. Isso permite que os consumidores adaptem seus hábitos de consumo conforme o cenário energético do momento, ajudando a reduzir o valor da conta de luz.
Quando a bandeira está verde, não há cobrança adicional, indicando que as condições de geração estão favoráveis. No entanto, com a bandeira amarela, é cobrado um acréscimo de R$ 2,989 para cada 100 kWh, e, na bandeira vermelha, patamar 1, a cobrança extra sobe para R$ 4,169. No patamar 2, o valor é o mais elevado, chegando a R$ 7,877 por 100 kWh.
Além de servir como um sinal de alerta para que os consumidores economizem energia, o sistema de bandeiras tarifárias tem como objetivo garantir a sustentabilidade do setor elétrico, ajustando os preços de acordo com a disponibilidade e custo da geração. Antes da adoção desse sistema, os repasses de custos aos consumidores ocorriam apenas durante os reajustes tarifários anuais, o que não permitia uma resposta imediata às variações de preço.
Chuvas escassas e demanda alta pressionam o sistema elétrico
As projeções de afluências para o mês de outubro indicam que o volume de chuvas em três das principais regiões do país ficará abaixo de 50% da Média de Longo Termo (MLT). No Sudeste/Centro-Oeste, onde se concentram os principais reservatórios do Brasil, as afluências devem alcançar apenas 43% da MLT, enquanto no Nordeste a previsão é de 33%. As regiões Norte e Sul também enfrentam condições desfavoráveis, com estimativas de 38% e 86% da MLT, respectivamente.
Além disso, a demanda por energia no Sistema Interligado Nacional (SIN) deve registrar um crescimento de 4,7% em outubro, impulsionada pelo aumento da atividade econômica e pelas altas temperaturas esperadas para o mês. Esse cenário adiciona uma pressão extra ao sistema, sobretudo nos horários de pico, quando o consumo tende a ser mais elevado.
Apesar dos desafios, a ANEEL ressalta que as condições dos reservatórios são compatíveis com o período e que o sistema elétrico brasileiro está preparado para atender à demanda. Contudo, o aumento nos custos de geração de energia, causado pelo acionamento das termelétricas, justifica a necessidade de implementar a bandeira tarifária vermelha no patamar mais alto.
Conscientização e uso responsável da energia
Diante da aplicação da bandeira vermelha patamar 2 em outubro, a ANEEL reforça a importância da conscientização e do uso responsável da energia elétrica. Economizar energia, além de ajudar a reduzir o valor das contas, é uma prática essencial para a preservação dos recursos naturais e para a sustentabilidade do sistema elétrico. Medidas simples, como o uso eficiente de aparelhos eletrodomésticos, evitar o desperdício de energia e optar por fontes renováveis, quando possível, podem fazer a diferença em momentos de maior pressão sobre o sistema de geração.