Relatório da BloombergNEF revela oportunidades sem precedentes para a transição energética e a descarbonização até 2050
Como presidente do G-20 em 2024 e futuro anfitrião da COP30, o Brasil tem diante de si uma oportunidade histórica para liderar a transição energética global e atrair bilhões em investimentos no setor de energia limpa. De acordo com o primeiro Brazil Transition Factbook, relatório divulgado pela BloombergNEF (BNEF), o país pode gerar mais de US$ 1,3 trilhão em investimentos no fornecimento de energia com baixa emissão de carbono até 2050.
O estudo, solicitado pela Bloomberg Philanthropies, destaca que o Brasil já figura entre os principais destinos mundiais para investimentos em transição energética, atraindo US$ 35 bilhões em 2023, o que o posiciona como o sexto maior mercado de investimentos no setor e o maior entre os mercados emergentes, exceto a China. Além disso, o Brasil ocupa o terceiro lugar mundial em capacidade instalada de energia solar e eólica, com recorde de 5 GW em projetos eólicos e 16 GW em capacidade solar operacional somente em 2023.
Porém, segundo o relatório, para que o Brasil permaneça no caminho rumo à neutralidade de carbono até 2050, será necessário um esforço significativo. As emissões de carbono relacionadas à energia precisam ser reduzidas em 14% até 2030, comparado aos níveis de 2023, e em 70% até 2040, seguindo o cenário Net Zero da BNEF. Este cenário estabelece metas que visam manter o aumento da temperatura global abaixo de 2°C.
Para atingir essas metas ambiciosas, o Brasil precisará atrair mais de US$ 1,3 trilhão em investimentos até 2050, dos quais US$ 500 bilhões devem ser destinados à expansão de fontes de energia renovável. Esse valor representa uma oportunidade significativa para o setor privado, especialmente com o crescimento da demanda por eletrificação de setores industriais, de transporte e construção. Segundo o estudo, a eletrificação será responsável por 53% das emissões evitadas no Brasil até 2050, em comparação com um cenário sem transição energética.
Além do investimento em energias renováveis, o relatório destaca o papel estratégico do Brasil na oferta de metais críticos para a transição energética global. O país é o terceiro maior detentor de reservas de minerais como grafite, minério de ferro, terras raras, níquel e manganês, elementos essenciais para a produção de baterias e tecnologias de energia limpa.
Outro ponto crucial é o potencial do Brasil para se tornar líder mundial na produção de hidrogênio verde, uma das promessas mais importantes para a descarbonização da economia global. A recente aprovação da lei de hidrogênio verde, em agosto de 2024, posiciona o país para produzir o hidrogênio de baixo carbono mais barato do mundo, reforçando sua liderança no cenário de energia limpa.
Biomassa e biocombustíveis: pilares da descarbonização
A biomassa também representa uma oportunidade significativa para o Brasil alcançar emissões líquidas zero no setor siderúrgico. O país possui condições favoráveis para se tornar o produtor de aço mais limpo e competitivo do mundo até 2030, graças à abundância de biomassa e aos custos reduzidos de eletricidade. Este avanço poderia transformar a indústria do aço, reduzindo drasticamente suas emissões de carbono.
No curto prazo, os biocombustíveis também desempenham um papel vital. O Brasil, como um dos maiores mercados de veículos de passeio do mundo, já é líder na produção e uso de etanol e biodiesel. Embora a eletrificação da frota de veículos deva aumentar nos próximos anos, os biocombustíveis são essenciais para reduzir emissões no imediato, sendo uma das soluções mais acessíveis para a transição energética.
O papel das finanças sustentáveis
O relatório da BloombergNEF também aponta que o Brasil está liderando a América Latina no desenvolvimento de políticas de finanças sustentáveis. O país já possui uma taxonomia voluntária, liderada pela indústria, e planeja tornar a divulgação obrigatória assim que seu framework regulatório estiver estabelecido. Essa postura coloca o Brasil ao lado de potências como o Reino Unido e a União Europeia, que também trabalham para criar ambientes regulatórios que impulsionem investimentos verdes.
As empresas brasileiras, por sua vez, estão assumindo compromissos ambiciosos. As dez maiores companhias do país que estabeleceram metas de zero emissões líquidas precisam reduzir suas emissões em 177 milhões de toneladas métricas de CO2 equivalente anualmente para cumprir seus compromissos até 2050.
Um modelo de descarbonização
Além de reduzir suas emissões internas, o Brasil tem potencial para ser um dos maiores provedores globais de créditos de carbono naturais. O país poderia criar compensações de até 30,5 gigatoneladas de CO2 equivalente entre 2024 e 2050, mais do que os próximos três maiores mercados juntos. Esse protagonismo no mercado de carbono pode transformar o Brasil em um dos principais destinos para projetos de mitigação de mudanças climáticas.
Segundo Luiza Demoro, líder global de transições energéticas da BNEF, “o Brasil está em uma posição única para ajudar a impulsionar os esforços globais de descarbonização, graças a seus vastos recursos naturais e seu potencial em energia limpa, clima e natureza”. No entanto, ela alerta que, para aproveitar essa oportunidade e atrair os investimentos necessários, o país precisa agir rapidamente para desenvolver políticas robustas e enfrentar as barreiras de mercado existentes.
Com os olhos do mundo voltados para o Brasil nos próximos anos, o sucesso do país em liderar a transição energética global dependerá da implementação eficaz de políticas públicas, do desenvolvimento de infraestrutura e da atração de capital privado. O caminho rumo ao net zero não será fácil, mas o Brasil tem a oportunidade de ser protagonista na luta contra as mudanças climáticas.