Documento liderado pela ABSAE aponta que armazenamento é essencial para garantir segurança, reduzir custos e viabilizar fontes renováveis no Brasil
Diante da possibilidade de adiamento do Leilão de Reserva de Capacidade (LRCAP), que inclui, pela primeira vez na história do setor elétrico brasileiro, a participação de sistemas de armazenamento por baterias, quatro das principais entidades de energia renovável do país se mobilizaram. A Associação Brasileira de Armazenamento de Energia (ABSAE), a Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), a Associação Brasileira de Geração Distribuída (ABGD) e a Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) divulgaram, nesta semana, uma carta conjunta que acende um alerta para os riscos institucionais, econômicos e operacionais decorrentes dessa decisão.
O documento traz um posicionamento firme das entidades, que enxergam o leilão como um divisor de águas na modernização e transição do setor elétrico brasileiro. Segundo as associações, o armazenamento por baterias não é mais uma aposta futura, mas sim uma tecnologia consolidada mundialmente, que precisa ser incorporada de forma estruturada e urgente ao Sistema Interligado Nacional (SIN).
“O Brasil tem diante de si uma oportunidade estratégica de modernização do setor elétrico, por meio da incorporação de tecnologias já consolidadas no cenário internacional. Os sistemas de armazenamento por baterias representam um avanço importante para o país, pois oferecem nova capacidade de potência com menor custo global para o consumidor, reduzem perdas no sistema, ampliam o aproveitamento das fontes renováveis e proporcionam respostas rápidas às necessidades operacionais do setor elétrico — promovendo, assim, maior confiabilidade e segurança no suprimento de energia”, destacam as entidades no texto.
Baterias: Pilar para um sistema elétrico mais seguro, moderno e econômico
O modelo energético brasileiro passa por uma transformação acelerada. Com o aumento da participação de fontes renováveis variáveis, como a solar e a eólica, o sistema elétrico nacional exige novas soluções para garantir estabilidade, flexibilidade e segurança na operação.
Os sistemas de armazenamento por baterias oferecem justamente essas respostas. Além de armazenar energia, esses sistemas são capazes de entregar potência de forma instantânea, atuando na regulação de frequência, no deslocamento de cargas e no atendimento de picos de demanda, funções que historicamente eram realizadas por usinas termelétricas, de custo elevado e alto impacto ambiental.
“As baterias estão prontas para oferecer ao sistema potência nova com menor custo global ao consumidor, redução de perdas, e, graças à sua flexibilidade intrínseca, um aproveitamento muito superior das fontes renováveis. Sua capacidade de resposta rápida a demandas sistêmicas contribui diretamente para a confiabilidade, a segurança do fornecimento e, crucialmente, para a modicidade tarifária do setor elétrico brasileiro (SEB)”, reforçam as entidades.
Impacto econômico e estratégico
O adiamento do Leilão de Reserva de Capacidade, além de atrasar a implementação de uma infraestrutura mais moderna e eficiente, pode gerar efeitos negativos diretos na economia, na atração de investimentos e na segurança energética do país.
O armazenamento por baterias, segundo estudos internacionais, tem se mostrado uma solução competitiva frente às alternativas tradicionais. Países como Estados Unidos, Austrália, Reino Unido, China e Alemanha já incorporam sistemas de armazenamento em escala, com resultados positivos tanto na operação do sistema quanto na redução de custos para os consumidores.
No caso brasileiro, o leilão seria o primeiro passo efetivo para criar um mercado estruturado de armazenamento de energia, trazendo benefícios como:
- Maior aproveitamento da geração renovável (eólica e solar);
- Redução de perdas na transmissão e distribuição;
- Diminuição da necessidade de despacho de termelétricas caras e poluentes;
- Ganhos operacionais com serviços ancilares;
- Estímulo à industrialização, inovação e geração de empregos qualificados.
Riscos do adiamento
Se confirmado, o adiamento do leilão colocaria o Brasil na contramão da tendência global de modernização dos sistemas elétricos. Além de gerar insegurança regulatória para investidores, o país permaneceria dependente de soluções mais caras e menos sustentáveis, como o acionamento de termelétricas fósseis em momentos de crise energética.
Outro risco está relacionado à confiabilidade do sistema. A maior penetração de fontes intermitentes, como solar e eólica, sem um sistema robusto de armazenamento, aumenta a exposição a apagões, sobrecargas e flutuações na qualidade do fornecimento.
Apoio institucional e mobilização do setor
A carta das entidades chega em um momento estratégico, em que o governo e os órgãos reguladores discutem os ajustes finais no desenho do leilão. O movimento visa sensibilizar tanto o Ministério de Minas e Energia (MME) quanto a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) e o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) sobre a urgência de avançar com o processo.
O mercado de armazenamento, que hoje já movimenta bilhões de dólares globalmente, tem potencial para se tornar um novo vetor econômico no Brasil, com a geração de empregos de alta qualificação, desenvolvimento tecnológico e atração de capitais nacionais e internacionais.
Conclusão: modernização não pode esperar
O avanço do setor elétrico brasileiro depende, cada vez mais, da adoção de tecnologias que garantam segurança, estabilidade e competitividade. As baterias cumprem esse papel, e o Leilão de Reserva de Capacidade representa o primeiro passo efetivo nessa direção.
Adiar esse processo não é apenas postergar investimentos, mas comprometer a modernização do setor, afetar a segurança energética e impactar, diretamente, os custos da energia para os consumidores.
O recado do setor é claro: o futuro da energia passa, necessariamente, pela capacidade de armazená-la com eficiência, flexibilidade e sustentabilidade.