Home Mundo Estudo global revela que fundos de investimento ainda priorizam combustíveis fósseis em...

Estudo global revela que fundos de investimento ainda priorizam combustíveis fósseis em detrimento da energia limpa

Estudo global revela que fundos de investimento ainda priorizam combustíveis fósseis em detrimento da energia limpa

Nova métrica da BloombergNEF mostra que, para cada dólar aplicado em petróleo, gás e carvão, apenas 48 centavos são direcionados à transição energética

A transição energética global enfrenta mais um obstáculo relevante: os fundos de investimento ainda destinam quase o dobro de recursos para combustíveis fósseis em comparação às fontes de energia limpa. Essa é a principal conclusão de um novo relatório publicado pela BloombergNEF, que investigou quase 70 mil fundos em todo o mundo. O estudo apresenta uma métrica inédita — o Energy Supply Fund-Enabled Capex Ratio (ESFR) — para avaliar com mais precisão o alinhamento climático das carteiras de investimento.

Segundo os dados, a média global do ESFR é de 0,48 para 1. Em outras palavras, para cada dólar investido em petróleo, gás natural ou carvão, apenas 48 centavos são alocados a ativos relacionados à energia de baixo carbono. A discrepância revela o desalinhamento entre os fluxos atuais de capital e as metas internacionais de neutralidade climática.

A pesquisa também aponta que, para atingir os objetivos do Acordo de Paris e limitar o aquecimento global a 1,5°C, seria necessário um ESFR de 4,8 para 1 até 2030. Ou seja, o ritmo de investimento em fontes limpas precisa ser multiplicado por dez em relação ao que ocorre atualmente.

Predominância dos fósseis ainda dita o rumo dos investimentos

O relatório indica que a diferença de alocação entre fósseis e renováveis ocorre principalmente pela dominância das grandes petroleiras nas carteiras dos fundos de ações. Esses gigantes do setor energético continuam recebendo vultosos aportes, enquanto empresas focadas em soluções de baixo carbono, em sua maioria menores e fora dos grandes índices de mercado, têm menos visibilidade e menor representação.

Os fundos de crédito, por sua vez, apresentam um desempenho relativamente melhor no apoio à transição energética. Com ESFR médio de 0,7 para 1, superam os fundos de ações (0,4 para 1). Essa diferença se explica, em parte, pela maior emissão de dívida por empresas do setor renovável e pela maior alavancagem nessas operações, que favorecem a entrada de recursos via crédito.

Gestores privados lideram o movimento por mudança

Apesar do cenário geral ainda ser desfavorável, o estudo destaca iniciativas promissoras por parte dos mercados privados. Gestoras como Brookfield e BlackRock têm conseguido construir carteiras mais alinhadas com a descarbonização, apresentando ESFRs acima de 1,2 para 1. Isso demonstra que há caminhos possíveis para conciliar performance financeira e responsabilidade ambiental.

Um dos diferenciais dos fundos privados é a menor dependência de índices tradicionais de mercado, o que permite uma maior flexibilidade na seleção de ativos. Além disso, esses veículos tendem a operar com horizontes de longo prazo e foco em infraestrutura, características que favorecem investimentos em projetos sustentáveis.

A urgência do realinhamento climático

Para Ryan Loughead, pesquisador da BloombergNEF e autor do estudo, os investidores precisam assumir um papel mais decisivo no combate às mudanças climáticas. “Alocar capital em soluções de baixo carbono é a contribuição mais impactante que o setor financeiro pode oferecer para garantir uma transição energética justa e eficaz. A métrica ESFR foi criada justamente para guiar esse processo com base em evidências concretas”, afirma.

Loughead ressalta que, sem uma mudança significativa nos padrões de investimento, será impossível atender às metas climáticas globais. Ele alerta que as escolhas feitas pelos gestores de ativos nos próximos anos terão influência direta sobre o futuro energético do planeta.

Transição em ritmo lento

Ainda que a participação de fundos com perfil sustentável esteja crescendo, o volume total investido em combustíveis fósseis continua muito superior ao necessário. A inércia estrutural dos mercados, o peso das grandes petroleiras nos índices globais e a busca por retornos financeiros de curto prazo dificultam o avanço.

A conclusão do estudo da BloombergNEF é clara: para alcançar uma economia net-zero até meados do século, os fundos de investimento precisam rever suas estratégias e colocar a transição energética no centro de suas decisões.

Exit mobile version