Empresa turca aposta no Brasil como hub estratégico na América do Sul e alia geração flexível à transição energética com foco em gás natural, captura de carbono e fontes renováveis
A multinacional turca Karpowership, reconhecida mundialmente por sua atuação no setor de geração de energia elétrica por meio de usinas flutuantes (powerships), confirmou sua intenção de registrar até 2 gigawatts (GW) em projetos no próximo leilão de reserva de capacidade organizado pelo governo brasileiro. O anúncio foi feito por Beyza Özdemir, diretora comercial da companhia para as Américas, durante sua recente visita ao Brasil.
A movimentação da Karpowership ocorre em um momento de crescente atenção à segurança energética e à necessidade de soluções flexíveis para suporte ao sistema elétrico nacional, especialmente diante dos desafios da transição energética e da intermitência das fontes renováveis. O leilão de energia reserva tem como objetivo assegurar a capacidade de atendimento à demanda futura, especialmente em situações de pico de consumo ou variações climáticas que afetem a produção de energia renovável.
“Nosso objetivo é contribuir com a segurança energética do Brasil, oferecendo tecnologias de rápida resposta e soluções flexíveis de despacho”, afirmou Özdemir. A executiva destacou ainda que a empresa estuda oportunidades de aquisição de ativos da Eletrobras, o que sinaliza uma atuação mais robusta e duradoura no mercado brasileiro.
Brasil: um hub estratégico para a América do Sul
A relação da Karpowership com o Brasil já é consolidada e considerada estratégica. O país foi palco do que a empresa classifica como o projeto mais rápido de implementação de powerships no mundo: foram quatro usinas térmicas flutuantes conectadas à costa brasileira, além de um FSRU (unidade flutuante de regaseificação) e mais de 100 licenças ambientais e operacionais emitidas em tempo recorde.
Segundo a diretora, a atuação no país já gerou entre 2.000 e 3.000 empregos diretos e indiretos, reforçando o impacto positivo da companhia na economia local. A estrutura montada no Brasil também é vista como base operacional para a expansão da Karpowership na América do Sul, onde a empresa já atua em mercados como Colômbia, República Dominicana, Cuba, Argentina e Guiana – esta última atendida com três projetos que juntos abastecem cerca de 80% da demanda energética nacional.
Gás natural, inovação e transição energética
A Karpowership tem reforçado sua aposta no gás natural como combustível de transição energética. Em parceria com a Petrobras, a empresa mantém um memorando de entendimento para colaboração no uso de gás natural e combustíveis alternativos, incluindo soluções híbridas que combinem flexibilidade operacional e redução de emissões.
Além disso, a empresa está investindo em tecnologias emergentes, como sistemas embarcados de inteligência artificial, dessalinização e captura de carbono. Essas iniciativas têm como objetivo tornar a geração térmica mais eficiente e sustentável. Entre as metas ambientais da companhia está a redução de 30% das suas emissões até 2030, além do desenvolvimento de projetos de reflorestamento e pesquisa aplicada em eficiência energética.
Durante o ciclo de atividades preparatórias da COP30, que será sediada no Brasil, a Karpowership planeja apresentar suas soluções tecnológicas e defender o papel estratégico do gás natural na transição energética global. “O evento será uma plataforma essencial para apresentar soluções híbridas, sustentáveis e alinhadas ao novo mix energético”, afirmou Özdemir.
Visão de longo prazo e diversificação
Embora sua principal atuação ainda esteja centrada na geração térmica flutuante via GNL, a Karpowership está diversificando sua atuação com projetos de energia solar e iniciativas em hidrogênio verde. Esses investimentos apontam para uma atuação de longo prazo em países emergentes com crescente demanda energética e necessidades de soluções integradas entre geração, logística de combustível e operação em larga escala.
A participação no leilão de energia reserva será, portanto, mais um passo dentro de uma estratégia que combina presença local, inovação tecnológica e adaptação às necessidades específicas dos países onde atua. No Brasil, essa abordagem poderá representar uma alternativa importante para assegurar a estabilidade do sistema elétrico, especialmente diante da expansão da geração intermitente e das exigências ambientais crescentes.