Com demanda crescente por energia, setor de tecnologia é visto como alavanca para novos investimentos em eólicas e solares, desde que haja estabilidade regulatória
A crescente demanda por infraestrutura digital no Brasil, especialmente com o avanço dos Data Centers e da Inteligência Artificial, pode se tornar um dos principais motores de expansão da geração renovável no país. Essa é a análise de André Breviglieri Almeida, gerente comercial da Echoenergia, uma das principais empresas do setor de geração eólica e solar, que participou do evento “Rio como Capital da Inteligência Artificial e dos Data Centers”, realizado no último dia 10 de junho, na cidade do Rio de Janeiro.
Durante o encontro, que reuniu representantes dos setores de tecnologia e energia para discutir oportunidades e gargalos no desenvolvimento da infraestrutura digital nacional, Breviglieri destacou o papel estratégico que os Data Centers podem exercer na viabilização de novos projetos de geração limpa. Segundo ele, há um potencial expressivo de sinergia entre os dois segmentos, com benefícios para a sustentabilidade, a segurança energética e a atração de investimentos de longo prazo.
“A indústria de Data Centers pode ser o gatilho para tirar do papel diversos empreendimentos de geração renovável. É um setor intensivo em consumo de energia e que, ao crescer, pode contratar diretamente novos projetos”, afirmou o executivo.
Pipeline da Echoenergia pode atender parte significativa da demanda futura
Atualmente, a Echoenergia possui um portfólio de projetos (pipeline) que soma mais de 800 megawatts (MW) de capacidade em desenvolvimento, volume que, segundo Breviglieri, seria suficiente para atender cerca de um terço da demanda projetada para os Data Centers no Brasil até 2034.
O executivo ressaltou que a empresa está preparada para responder à demanda crescente por energia renovável, mas reforçou que a atratividade desse mercado depende de um ambiente regulatório estável e previsível. “O Brasil reúne todos os fatores naturais e técnicos para atrair investimentos: radiação solar, regime de ventos, expertise operacional. Mas ainda precisamos de regras claras e contratos com maior visibilidade de longo prazo”, alertou.
Desafios regulatórios e custo da energia no radar dos investidores
Entre os principais entraves apontados por Breviglieri estão o preço da energia e a complexidade regulatória do setor elétrico brasileiro. O custo da eletricidade, ainda elevado em comparação com outros países, e a incerteza contratual, especialmente nos mercados livres e no uso de autoprodução, são fatores que dificultam decisões de investimento de grandes players internacionais.
“A regulação precisa acompanhar o dinamismo do mercado e as transformações tecnológicas. É fundamental que os contratos ofereçam segurança jurídica para que empresas do setor de tecnologia possam fechar acordos de longo prazo com geradores de energia renovável”, afirmou o executivo da Echoenergia.
Convergência estratégica entre tecnologia e energia
O evento, promovido por instituições do setor público e privado, teve como objetivo destacar o potencial do Rio de Janeiro como polo de inteligência artificial e Data Centers, considerando sua infraestrutura energética, logística e sua posição geográfica estratégica. Além de André Breviglieri, participaram do encontro Fernanda Belchior, diretora de Marketing e Comunicação da Elea, e Hudson Mendonça, CEO do Energy Summit.
O debate revelou uma tendência crescente de convergência entre os setores de tecnologia e energia. De um lado, os Data Centers exigem fontes confiáveis e limpas de energia; de outro, os geradores renováveis buscam contratos firmes e previsíveis para viabilizar projetos. Nesse sentido, a articulação entre esses dois mercados pode acelerar a transição energética brasileira e promover um desenvolvimento sustentável alinhado à digitalização da economia.
Perspectivas e oportunidades
Com a projeção de aumento exponencial do tráfego de dados, da computação em nuvem e da inteligência artificial, o Brasil deve se tornar um mercado prioritário para investimentos em Data Centers nos próximos anos. A construção de unidades energicamente eficientes e abastecidas por fontes renováveis será um diferencial competitivo, tanto para empresas quanto para cidades que desejam se posicionar na nova economia digital verde.
A posição da Echoenergia reforça a urgência de políticas públicas que incentivem essa integração e criem um ambiente propício para parcerias de longo prazo. A estabilidade regulatória, aliada à expansão de linhas de transmissão e à modernização do marco legal do setor elétrico, será decisiva para que o país consiga alinhar sua vocação natural em energias limpas com a crescente demanda do mundo digital.