Estudo propõe soluções técnicas e regulatórias para coordenar, de forma eficiente, a operação do sistema elétrico com a crescente participação dos recursos distribuídos no Brasil
O setor elétrico brasileiro vive uma transformação profunda. O avanço dos Recursos Energéticos Distribuídos (REDs), como a geração solar fotovoltaica, armazenamento, veículos elétricos e resposta da demanda, está redesenhando a lógica de operação do sistema elétrico. Para enfrentar esse desafio, o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou, no último dia 15 de maio, os resultados do Projeto Integração ONS-DSO, uma iniciativa que busca construir um novo modelo de coordenação entre o operador do sistema e as distribuidoras, que passam a atuar como Distribution System Operators (DSO).
O projeto foi desenvolvido em parceria com as consultorias PSR e DAIMON, reunindo agentes do setor para discutir os caminhos técnicos e regulatórios necessários à integração dos REDs na operação do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Mudança estrutural no modelo de operação
O diretor-geral do ONS, Marcio Rea, enfatizou que este projeto é um avanço significativo na modernização do setor elétrico. “Já abordamos esse tema em estudos anteriores, como o PAR/PEL. Agora, com o Projeto Integração ONS-DSO, damos mais um passo importante na construção de uma interface que reflita os novos desafios do setor elétrico. Nosso compromisso é garantir uma transição energética segura, eficiente e colaborativa, com uma atuação cada vez mais integrada com as distribuidoras e demais recursos,” afirmou Rea.
A transformação do papel das distribuidoras para operadoras da rede de distribuição (DSOs) é uma tendência global, impulsionada pela descentralização da geração e pela digitalização do sistema elétrico. O estudo propõe uma série de medidas para adaptar o atual modelo, historicamente centralizado, à nova realidade em que milhões de pequenos geradores e consumidores ativos participam diretamente da operação.
Principais desafios identificados
Durante o workshop de apresentação dos resultados, Maurício de Souza, diretor de TI, Relacionamento com Agentes e Assuntos Regulatórios do ONS, destacou a importância de definir claramente os requisitos para essa nova lógica operacional.
“Nosso objetivo é construir uma proposta estratégica, viável do ponto de vista técnico e regulatório, considerando os próximos passos no curto, médio e longo prazo. Este foi um primeiro passo para um processo de reformulação da lógica atual de coordenação do sistema,” explicou Souza.
Os principais pontos destacados no projeto incluem:
- Definição de requisitos operacionais claros para garantir a segurança e a estabilidade do sistema;
- Criação de um sandbox regulatório, permitindo testes práticos da nova interface entre o ONS e as distribuidoras, em ambiente controlado;
- Estabelecimento de regras transparentes e previsíveis, compartilhadas por todos os agentes;
- Desenvolvimento de plataformas digitais e sistemas que permitam troca eficiente de informações operacionais em tempo real entre ONS e DSOs.
O papel do SINtegre e os próximos passos
Todos os materiais produzidos durante o desenvolvimento do projeto estão disponíveis no SINtegre, o portal de relacionamento do ONS com os agentes do setor. Essa transparência reforça o compromisso do operador com uma construção colaborativa e aberta a contribuições.
O próximo passo envolve a realização de simulações, testes práticos e uma aproximação ainda maior com os agentes reguladores, em especial a Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL), para viabilizar as alterações necessárias na regulamentação vigente.
Além disso, o desenvolvimento de um ambiente de sandbox permitirá experimentar, de forma segura, as novas metodologias operacionais e testar modelos de mercado que considerem a atuação dos recursos distribuídos, sem colocar em risco a segurança do SIN.
Transição energética exige modernização do modelo operacional
A crescente penetração dos Recursos Energéticos Distribuídos e o avanço da geração renovável tornam indispensável uma reformulação na governança operacional do sistema elétrico. Atualmente, mais de 2,5 milhões de unidades consumidoras no Brasil já contam com geração distribuída, majoritariamente solar fotovoltaica. Esse número deve crescer exponencialmente nos próximos anos, pressionando ainda mais o modelo atual.
O ONS reforça que a integração com os DSOs é essencial não apenas para garantir a confiabilidade e segurança do sistema elétrico, mas também para permitir que os benefícios dos REDs, como redução de perdas, aumento da eficiência e resiliência, sejam plenamente capturados.
Com uma governança operacional modernizada e uma regulação adaptada à nova realidade, o setor elétrico brasileiro poderá enfrentar os desafios da transição energética, promovendo uma matriz mais limpa, descentralizada e digital, sem comprometer a qualidade e a segurança no fornecimento de energia.