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Estados Unidos dobram produção líquida de energia em experimento de fusão nuclear com laser

Estados Unidos dobram produção líquida de energia em experimento de fusão nuclear com laser

Instalação Nacional de Ignição atinge novo marco ao gerar 8,6 megajoules com confinamento inercial, reforçando a viabilidade da fusão controlada como alternativa futura de energia limpa

A busca por uma fonte de energia limpa, segura e praticamente inesgotável acaba de alcançar um novo marco. A Instalação Nacional de Ignição (NIF), do Departamento de Energia dos Estados Unidos, mais que dobrou a quantidade de energia líquida produzida em seus experimentos com fusão nuclear por confinamento inercial, consolidando seu protagonismo no cenário global de pesquisa em energia de fusão.

De acordo com informações obtidas pelo TechCrunch, a equipe da NIF conseguiu aumentar significativamente os rendimentos energéticos dos seus testes, passando de 5,2 megajoules para impressionantes 8,6 megajoules em novas tentativas realizadas ao longo de 2024 e 2025. Esses números superam com folga os 3,15 megajoules obtidos no histórico disparo de dezembro de 2022, o primeiro da história a gerar mais energia do que o consumo direto de laser.

Embora esses experimentos ainda estejam longe de alimentar efetivamente a rede elétrica, uma vez que o consumo total da instalação continua sendo muito maior do que a energia líquida gerada, o avanço técnico representa uma evidência concreta de que a fusão nuclear está deixando o campo das hipóteses e entrando no terreno das possibilidades reais.

A tecnologia por trás do avanço

O método utilizado pela NIF é conhecido como confinamento inercial, uma técnica que envolve a compressão de uma pequena pastilha de combustível composta por deutério e trítio (isótopos do hidrogênio), encapsulada em um cilindro dourado chamado hohlraum. Essa pastilha, com revestimento de diamante, é submetida à ação de 192 feixes de laser de alta potência em uma câmara de vácuo esférica de 10 metros de diâmetro.

Quando os lasers incidem sobre o hohlraum, ele vaporiza, gerando uma intensa radiação de raios X. Essa radiação, por sua vez, comprime a pastilha até que a pressão e temperatura atinjam níveis suficientes para iniciar a fusão dos núcleos atômicos, processo semelhante ao que ocorre no interior das estrelas. A energia liberada nessa fusão é captada como rendimento líquido do sistema.

Apesar do consumo energético da instalação ainda ser gigantesco (o disparo de 2022, por exemplo, utilizou 300 megajoules apenas para alimentar os lasers), o fato de a reação gerar mais energia do que o insumo direto aplicado no alvo é considerado uma vitória científica sem precedentes.

Caminhos paralelos e o futuro da fusão

A fusão nuclear é, atualmente, uma das apostas mais promissoras para substituir os combustíveis fósseis e outras fontes não sustentáveis de energia. Ao contrário da fissão nuclear, utilizada em usinas atômicas convencionais e que gera resíduos radioativos duradouros, a fusão não produz subprodutos perigosos e tem risco ambiental drasticamente menor.

Além da abordagem de confinamento inercial, cientistas ao redor do mundo também investem em outra técnica: o confinamento magnético. Nesse método, potentes ímãs supercondutores são utilizados para aprisionar o plasma superaquecido em estruturas como tokamaks ou stellarators, buscando manter as condições ideais para a fusão.

Entretanto, até o momento, nenhum experimento com confinamento magnético alcançou produção líquida positiva de energia. Mesmo assim, grandes projetos como o ITER (em construção na França) e iniciativas privadas como a Commonwealth Fusion Systems (CFS) e TAE Technologies continuam recebendo bilhões de dólares em investimentos com a promessa de superar esse desafio nos próximos anos.

No campo do confinamento inercial, startups como Xcimer Energy e Focused Energy já trabalham para tornar a tecnologia mais compacta, eficiente e economicamente viável. Esses players enxergam oportunidades de mercado em aplicações futuras que vão desde o abastecimento de cidades até a propulsão de naves espaciais.

Implicações e impacto global

A relevância do avanço conquistado pela NIF não se limita ao campo científico. Em um mundo em transição energética, com metas climáticas globais cada vez mais ambiciosas, o surgimento de uma nova fonte de energia limpa, escalável e segura pode ser decisivo. A fusão nuclear, se plenamente desenvolvida, tem potencial para suprir a crescente demanda mundial sem emitir gases de efeito estufa, contribuindo diretamente para o combate às mudanças climáticas.

Além disso, o sucesso do confinamento inercial reforça a liderança dos Estados Unidos em pesquisa de ponta na área energética, reacendendo debates sobre investimentos em inovação, colaboração internacional e políticas públicas voltadas à energia do futuro.

Ainda que comercializar energia de fusão em escala industrial continue sendo um desafio técnico e econômico de longo prazo, o progresso da NIF traz um recado claro: a fusão nuclear não é mais ficção científica, ela está em processo de se tornar uma solução real.

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