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Emissões de metano seguem elevadas apesar de avanços em transparência e monitoramento, alerta IEA

Relatório Global Methane Tracker 2025 revela que medidas de contenção de metano no setor de combustíveis fósseis seguem lentas, apesar de tecnologias acessíveis e ganhos econômicos evidentes.

Apesar de avanços importantes em monitoramento e transparência, as emissões globais de metano provenientes da produção e uso de combustíveis fósseis seguem em níveis preocupantes. É o que aponta a nova edição do Global Methane Tracker 2025, publicação da Agência Internacional de Energia (IEA), divulgada nesta semana. O relatório apresenta estimativas atualizadas sobre as emissões do setor energético, baseadas em satélites e campanhas de medição, e destaca que, embora a detecção de vazamentos esteja mais eficiente, a adoção de soluções de mitigação ainda está muito aquém do necessário.

“Combater vazamentos e queima de metano oferece um duplo benefício: alivia a pressão sobre os mercados de gás e reduz as emissões que agravam o aquecimento global”, afirmou Fatih Birol, diretor executivo da IEA.

Avanços em transparência e monitoramento de emissões

A nova edição do Tracker traz avanços importantes na capacidade global de medir e mapear o metano. Hoje, mais de 25 satélites monitoram grandes vazamentos em tempo quase real, e o número de eventos detectados em 2024 atingiu recordes. Além disso, o relatório incorporou dados históricos por país e uma ferramenta interativa que permite analisar iniciativas internacionais em andamento.

Outros destaques do relatório incluem:

  • Estimativas inéditas de emissões provenientes de instalações de combustíveis fósseis abandonadas;
  • Um modelo aberto para avaliação de estratégias de redução no setor de óleo e gás;
  • Comparações entre países e empresas que operam com intensidades muito diferentes de emissão de metano.

Desperdício de gás natural: um custo climático e econômico

Segundo a IEA, aproximadamente 70% das emissões anuais de metano no setor energético poderiam ser evitadas com tecnologias já existentes no mercado. Além disso, parte significativa dessas soluções tem retorno financeiro em menos de um ano, pois o gás recuperado pode ser comercializado. Em 2024, estima-se que o metano desperdiçado poderia ter gerado 100 bilhões de metros cúbicos adicionais de gás natural – o equivalente a todas as exportações da Noruega no mesmo ano.

A queima de gás natural, prática comum e muitas vezes rotineira em diversas regiões produtoras, também representa um desperdício de cerca de 150 bilhões de metros cúbicos anuais, grande parte dos quais poderia ser evitada.

Impacto climático direto e compromisso abaixo do necessário

As emissões de metano são responsáveis por cerca de um terço do aquecimento global causado pelo homem a curto prazo. Isso porque o gás tem um potencial de aquecimento até 80 vezes maior que o dióxido de carbono em um horizonte de 20 anos. O relatório estima que, mesmo com as políticas atuais, ações eficazes de mitigação no setor de combustíveis fósseis evitariam um aumento de 0,1 °C na temperatura global até 2050 — resultado equivalente à eliminação de todas as emissões de CO₂ da indústria pesada mundial.

Mesmo com o crescimento de iniciativas voluntárias e compromissos públicos, os resultados práticos ainda são limitados:

  • Apenas 5% da produção global de petróleo e gás opera com padrões de emissões próximas a zero.
  • Embora 80% da produção esteja sob algum tipo de compromisso de redução de metano, a verificação independente e os resultados efetivos são insuficientes.

Fontes ocultas de metano, Desigualdade nas emissões e necessidade de padronização

Uma novidade relevante no Tracker 2025 é o foco nas fontes de emissão menos visíveis. Poços de petróleo e gás abandonados, assim como minas de carvão desativadas, responderam por cerca de 8 milhões de toneladas de metano em 2024. Se fossem considerados como um único país emissor, estariam entre os quatro maiores do mundo no que diz respeito ao metano oriundo de combustíveis fósseis.

A IEA também destaca uma desigualdade gritante entre países e empresas no controle de emissões: em alguns casos, a diferença entre o melhor e o pior desempenho ultrapassa um fator de 100. Isso demonstra a urgência em disseminar boas práticas e tornar obrigatórias tecnologias que já estão amplamente disponíveis no mercado.

“A diferença entre quem age e quem ignora o problema é colossal. E custa caro para o planeta”, resume o relatório.

Conclusão: um desafio que combina economia, clima e responsabilidade

O Global Methane Tracker 2025 reforça que o combate ao metano é um dos caminhos mais rápidos, baratos e eficazes para frear o aquecimento global. Em um cenário de crescentes pressões climáticas e instabilidade nos mercados de energia, tornar obrigatória a contenção de vazamentos e o aproveitamento do gás atualmente desperdiçado deve ser prioridade tanto para governos quanto para empresas.

A transparência nos dados existe. A tecnologia está disponível. O que falta, segundo a IEA, é vontade política, compromisso real e responsabilização clara.

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