Por Vinicius Rocha, Gerente de Produtos da NeoSolar
O mercado de energia está em constante evolução. Especialmente no Brasil, onde 84% da matriz vem de fontes renováveis, as discussões sobre a transição energética são constantes, e novas formas de garantir uma geração confiável e sustentável surgem todos os anos.
E é aí que entram as baterias de lítio, uma tecnologia que tem avançado rapidamente em nosso país, não apenas no armazenamento de energia em casas e comércios como também nas usinas – não à toa, o mercado vem pedindo ao Ministério de Minas e Energia (MME) para que as baterias sejam incluídas no próximo Leilão de Reserva, agora previsto para o segundo semestre deste ano.
Mas de que maneira as baterias de lítio podem colaborar com toda matriz elétrica brasileira? Por que só agora tem se falado nessa possibilidade? Durante muitos anos, as baterias de chumbo foram a única alternativa para o setor de armazenamento de energia. Falando especificamente do segmento fotovoltaico, esse modelo era utilizado para armazenamento tanto no On Grid (como backup para eventuais apagões) quanto principalmente no Off Grid (para garantir o abastecimento nos períodos sem sol).
As baterias de chumbo, no entanto, deixaram de ser a melhor opção para os sistemas solares por terem uma vida útil curta, de no máximo 3 ou 4 anos. Graças à profundidade de descarga, esse modelo não permite que mais de 20% da sua capacidade seja utilizada diariamente e, se isso acontecer, a durabilidade pode não chegar à metade do esperado. Esses fatores exigem trocas mais rápidas da bateria e, consequentemente, aumentam os custos com instalação e manutenção.
Para efeito de comparação, as baterias de lítio permitem uso diário de até 90% da capacidade (podendo chegar a 100% em casos específicos), sem comprometimento de sua vida útil estimada de até 10 anos, reduzindo – e muito – os gastos e permitindo um controle maior da operação do sistema fotovoltaico. Além disso, essa tecnologia conta com densidade muito superior ao chumbo, é mais leve e, assim, consegue armazenar uma quantidade maior de energia em um espaço menor.
No segmento Off Grid, as localidades que precisam de energia, muitas vezes, têm acesso remoto, e o transporte dos equipamentos é feito por canoas, animais de carga ou por pessoas a pé. Logo, podemos imaginar que, além dos custos de manutenção, também deve haver uma preocupação com o peso e o prazo para realizar a troca de baterias.
Mesmo no On Grid, a procura pela tecnologia tem aumentado. O motivo? As constantes quedas de energia nos grandes centros. Com um sistema eficiente, residências e comércios podem armazenar a energia e utilizá-la nos momentos de queda da rede elétrica, além de proporcionar economia na conta quando utilizadas ao longo do dia, fornecendo parte ou toda a energia armazenada dos módulos.
A bateria de lítio, mesmo sendo mais cara que a de chumbo, tem um custo-benefício muito mais atrativo, principalmente com o aumento da oferta e a baixa nos preços vistos nos últimos anos – 2024 foi marcante para o segmento de baterias, e 2025 deve ser ainda mais importante.
Como falamos acima, essa expectativa do mercado existe também por conta da forte procura da indústria. O leilão de baterias que está previsto é reflexo, entre outras coisas, de uma maior preocupação das usinas com o armazenamento da energia gerada. Em uma hidrelétrica, por exemplo, o custo para reiniciar o funcionamento de uma turbina é extremamente alto – sem falar nas termelétricas, cuja operação, por si só, já é muito cara.
O setor solar, por sua vez, pode até duplicar a sua capacidade de geração com a ajuda das baterias de lítio. As usinas começaram a perceber que podem criar grandes sistemas para armazenar a energia gerada durante o dia e comercializá-la para atender a necessidade de clientes que operam durante a noite.
Além disso, as usinas solares são muito afetadas pelas interrupções da entrega de energia previstas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). No estado de São Paulo, por exemplo, isso ocorre normalmente aos domingos, quando a indústria funciona de maneira reduzida e, consequentemente, exige muito menos do SIN. Para contornar os prejuízos, essa energia gerada aos domingos também pode ser armazenada nas baterias.
O fato é que estamos em um momento em que o mercado nacional de energia tem direcionado o seu olhar para as baterias de lítio. Com a disseminação dos benefícios, o aumento da oferta de produtos e a queda dos preços, a tendência é que residências, comércios e indústrias se proponham cada vez mais a armazenar a eletricidade gerada e contribuir com a eficiência energética.