Tecnologia inovadora permitiu reduzir de três anos para um ano o prazo de reciclagem de placas fotovoltaicas danificadas por tempestade em Paracatu (MG)
A reciclagem de painéis solares tornou-se um desafio crescente à medida que a energia fotovoltaica se expande globalmente. No Brasil, um caso emblemático destacou como inovação e planejamento estratégico podem transformar um problema ambiental em um avanço sustentável. Entre 2023 e 2024, a ENGIE, maior geradora de energia 100% renovável do país, reciclou 2.900 toneladas de painéis solares danificados, resultado de uma forte tempestade que atingiu seu Conjunto Fotovoltaico Paracatu, em Minas Gerais.
Inicialmente, a previsão era de que a reciclagem dos 100 mil módulos fotovoltaicos levasse até três anos. No entanto, uma solução inovadora encurtou drasticamente esse prazo. Por meio de uma parceria com a SunR, startup brasileira especializada em reciclagem de módulos fotovoltaicos, o tempo de processamento foi reduzido para pouco mais de um ano.
A iniciativa não apenas evitou o descarte inadequado de toneladas de material, mas também reinseriu recursos valiosos na cadeia produtiva, consolidando um modelo sustentável para o futuro da energia solar no Brasil.
Do caos à solução: a resposta rápida da ENGIE
O Conjunto Fotovoltaico Paracatu, composto por quatro usinas e 132 MW de capacidade instalada, foi severamente impactado pela tempestade em abril de 2023. O volume de resíduos gerado superou em muito os padrões convencionais do Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) da ENGIE, exigindo uma resposta imediata para evitar impactos ambientais e garantir a retomada das operações.
“Os danos em Paracatu trouxeram um grande desafio para a companhia. Cada unidade de geração conta com um PGRS, mas o volume de resíduos foi muito acima do comum. Trabalhamos junto à SunR para desenvolver um plano de ação eficaz, rápido e que nos permitisse iniciar as obras de recuperação do complexo enquanto os rejeitos eram direcionados para reciclagem”, explicou Dianne Desan, Gerente Regional Solar Bahia-Minas da ENGIE Brasil Energia.
A primeira etapa da solução foi a logística de transporte dos módulos inutilizados. No início, os painéis eram levados para a unidade da SunR em Valinhos, no interior de São Paulo. No entanto, a distância e as limitações de espaço na usina tornaram essa estratégia pouco eficiente. Para resolver esse gargalo, a startup abriu uma nova unidade em Montes Claros (MG), otimizando o transporte e ampliando a capacidade de processamento.
Reciclagem fotovoltaica: do descarte à reutilização
A SunR desenvolveu um processo altamente tecnológico para a reciclagem dos módulos solares, utilizando a solução PV-MRC (Photovoltaic Mobile Recycling Container). Movida a energia solar e 100% móvel, essa tecnologia é capaz de processar 100 módulos por hora, tornando-se uma das mais eficientes da América Latina.
Os materiais extraídos dos painéis foram reaproveitados da seguinte forma:
- Vidro: transformado em microesferas para a fabricação de tintas para pavimentos rodoviários;
- Metais nobres (prata, cobre, entre outros): recuperados para reutilização industrial;
- Alumínio: reciclado e reutilizado com um consumo energético 95% menor do que o necessário para a produção de alumínio novo.
“Éramos parceiros da ENGIE na reciclagem de painéis solares, mas não no volume que tivemos em Paracatu. Foi um desafio, mas também uma oportunidade para desenvolvermos e ampliarmos nossa empresa. Desde o início da nossa operação, já fizemos mais de cem coletas e recebemos mais de 4.500 toneladas de resíduos, dando o melhor tratamento e retornando para a cadeia produtiva tudo aquilo que seria descartado como lixo”, afirmou Leonardo Duarte, CEO e fundador da SunR.
O futuro da reciclagem fotovoltaica no Brasil
Com a expansão acelerada da energia solar no Brasil e no mundo, estima-se que a quantidade de resíduos fotovoltaicos aumente significativamente nas próximas décadas. Modelos como o da parceria entre ENGIE e SunR são fundamentais para garantir que a sustentabilidade continue sendo um pilar essencial da transição energética.
Além dos benefícios ambientais, a reciclagem eficiente dos módulos fotovoltaicos reduz a dependência de matéria-prima virgem, diminui os custos de produção e fortalece a economia circular no setor elétrico.
A iniciativa em Paracatu serve como referência para outras empresas e governos, mostrando que soluções inovadoras e comprometidas com a sustentabilidade podem transformar desafios em oportunidades para um futuro mais limpo e eficiente.